OPINIÃO
REPRODUÇÃO/CNN BRASIL
A secretária especial de Cultura, Regina Duarte, durante entrevista à CNN Brasil nesta quinta (7)
RAPHAEL SCIRE
Publicado em 8/5/2020 - 8h31
A entrevista de Regina Duarte na tarde de ontem (7) à CNN Brasil foi um marco na carreira da atriz. Mais do que quando aceitou ocupar um cargo político sem nunca ter tido a mínima experiência pública, nem ao menos ter um passado de luta em defesa da classe artística, Regina Duarte jogou na lata do lixo toda sua carreira de 55 anos como atriz em pouco mais de 40 minutos de entrevista ao jornalista Daniel Adjuto.
Se antes sua escolha em aceitar o cargo de secretária especial da Cultura podia ser justificada como um certo idealismo de ver a arte no país ir para frente, depois da desastrosa entrevista não há mais como encontrar defesa. Até mesmo o mais cego dos fãs conseguiu enxergar o horror nas palavras de Regina.
Seu despreparo estava evidente em suas próprias mãos. Na ausência de um ponto eletrônico, com alguém soprando o que dizer em seu ouvido, coisa comum na televisão, ela fez uso de uma "colinha", com a justificativa de que já decorou "muito texto na vida" e não queria correr o risco de errar nada. Lendo e ainda assim enrolando-se, tentou explicar as medidas tomadas pela Secretaria de Cultura, num ato demorado de apoio a uma das classes mais prejudicadas pelo coronavírus.
Como uma personagem coadjuvante inadequada, que pretende ser cômica para aliviar o drama de uma trama pesada como a da pandemia, protagonizada por um presidente despreparado e na contramão do mundo, Regina revelou-se fora de tom, fazendo piada musicada de um passado nada glorioso para o país, rindo descontroladamente (descaradamente?) da dor de famílias vítimas da ditadura, tentando minimizar mortes. Enterrando sua própria carreira.
Para coroar o descontrole, ao ser questionada pelos âncoras Reinaldo Gottino e Daniela Lima, ao vivo no estúdio em São Paulo, Regina perdeu as estribeiras, dizendo que o combinado seria uma entrevista apenas com Adjuto. Um ataque de estrelismo em um ambiente bastante diferente dos bastidores de uma televisão. Nos corredores do poder em Brasília, ego demais pode significar a dose que difere o remédio do veneno.
Já na parte em que sua colega Maitê Proença, em vídeo gravado, a cobra por um posicionamento diante de mortes de nomes relevantes da Cultura brasileira desde que assumiu a secretaria especial, Regina finalmente despiu-se da personagem e mostrou quem é de fato.
Ali estava a diva, que sempre teve tudo o que quis, mas agora obrigada a se ver contrariada. Em anos de uma carreira brilhante como atriz, em que convenceu o público com a verdade, o humanismo e o progressismo de Rachel, Helenas e Malu, Regina parece nunca ter aprendido a fugir do script.
Não teve jogo de cintura para lidar com o imprevisto. Não teve humanidade de reconhecer que estava errada. Não tem preparo para estar onde está, um caso evidente de erro escalação, um desfecho triste para uma carreira artística emblemática na teledramaturgia nacional.
Certamente, Regina, era muito mais fácil dar entrevista explicando o fracasso de novela ruim. Saudade de Três Irmãs, né, minha filha?
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