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FOCO NO ORIENTE

Por que a Netflix trocou investimentos no Brasil por Índia, China e Japão?

Fotos: Divulgação/Netflix

Montagem com fotos do ator e youtuber Victor Lamoglia em cena da comédia Ninguém Tá Olhando e de Ludi Lin no drama chinês A Noiva Fantasma

Victor Lamoglia em cena da brasileira Ninguém Tá Olhando e Ludi Lin na chinesa A Noiva Fantasma

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 24/4/2020 - 5h18

Durante a quarentena, o assinante da Netflix deve ter se deparado com um crescente número de séries orientais, sejam elas indianas, chinesas ou japonesas. Só na Índia, em menos de dois anos, a plataforma lançou 11 atrações --brasileiras, no mesmo período, foram oito. A explicação? O streaming tem ganhado mais assinantes por lá. Simples assim.

Tradicionalmente, a Netflix apresenta a cada três meses os resultados do trimestre anterior para os seus acionistas. Nos últimos dois relatórios, porém, o número de clientes passou a ser dividido de acordo com as quatro grandes regiões econômicas do mundo: Estados Unidos e Canadá (Ucan), Europa, Oriente Médio e África (Emea), América Latina (Latam) e Ásia e Pacífico (Apac).

Essa divisão mostra um panorama curioso sobre a plataforma e explica um pouco os novos rumos da empresa --ela já teve como alvo internacional principal o Brasil, que há dois anos era campeão de séries não-inglesas no streaming.

Dos 15,7 milhões de assinantes que a Netflix ganhou entre janeiro e março deste ano (um aumento muito acima do previsto por causa das medidas de isolamento social), a maior parte veio da chamada Emea (6,9 milhões), seguida pela Apac (3,6 milhões) e só depois pela América Latina (2,9 milhões) e pela Ucan (2,3 milhões).

Essa tendência não é atual: tem sido assim desde o início de 2019, quando os países da Ásia e da Oceania superaram os latinos na taxa de crescimento. Em todo o ano passado, a Apac ganhou 5,6 milhões de assinantes, contra 5,3 milhões da Latam. Em 2018, o cenário era o oposto: puxada pelo Brasil, a América Latina ganhou 6,3 milhões de clientes, contra 4,1 milhões do bloco liderado por China, Índia e Japão.

Evidentemente, na Apac a Netflix encontra muito mais clientes em potencial para oferecer seus serviços: quatro dos cinco países mais populosos do mundo estão na região (China, Índia, Indonésia e Paquistão). Apenas nesses quatro territórios, são mais de 3,2 bilhões de pessoas. Com tamanha possibilidade de crescimento, e os números indicando o interesse pela plataforma por lá, investir é essencial.

É de olho nesse mercado que a plataforma tem lançado séries como o drama indiano Manju, o suspense chinês A Noiva Fantasma, ou mesmo as divertidas novelas coreanas. São tramas que não precisam viajar bem mundo afora --se atraírem novos clientes em seus países de origem, já terão cumprido seu papel.

E o que isso significa para os brasileiros? Deve se tornar cada vez mais comum o que ocorreu com a comédia Ninguém Tá Olhando, com a youtuber Kéfera Buchmann: sem a repercussão desejada, a atração foi cancelada após uma única temporada.

A Netflix ainda deu um basta em Samantha! e encerrará a pioneira 3% em seu quarto ano. O clima não é favorável para O Mecanismo ou O Escolhido, que estão no limbo há mais de seis meses --geralmente, a plataforma tem definido o destino de uma produção cerca de um ou dois meses após o lançamento da temporada. Isso também é um mau indício para Onisciente e Spectros.

Não que a plataforma tenha abandonado o Brasil de vez: há exatamente um ano, ela anunciou 30 projetos no país, entre séries, longas e documentários. Estão na conta filmes com Maisa Silva, Larissa Manoela, Leandro Hassum e Fabio Porchat, além da estreia de Thalita Rebouças como roteirista de uma produção original.

Séries, porém, tendem a ser menos frequentes: entre as atrações anunciadas, há apenas Cidade Invisível (com Marco Pigossi e Alessandra Negrini), Reality Z (com Sabrina Sato), o suspense Bom Dia, Verônica (com Tainá Müller e Eduardo Moscovis), a comédia Boca a Boca e o drama Futebol. Nenhuma delas tem data de estreia confirmada --e as duas últimas sequer anunciaram seu elenco.


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