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'CENÁRIO ADVERSO'

Globo admite perda de anunciantes com pandemia e adia pagamento de 14º salário

Reprodução/TV Globo

A atriz e cantora Manu Gavassi em ação de merchandising da Fiat no BBB20 em 2 de abril de 2020

Manu Gavassi em merchandising da Fiat no BBB20; emissora está dominando publicidade de carros na TV

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 24/4/2020 - 5h26

A pandemia do coronavírus obrigou a Globo a tomar uma decisão inédita: neste ano, não irá pagar em julho a antecipação da PLR (Participação nos Lucros e Resultados), que equivale a um 14º salário. O bônus será pago integralmente no final do ano, dependendo dos resultados da empresa. Em carta aos funcionários, a emissora justificou a medida como necessária em um "cenário adverso, com queda de receita publicitária e da base de assinantes da TV paga".

Por enquanto, essa é a única medida tomada pela Globo para amezinar os efeitos da crise com impacto em seus quase 15 mil colaboradores. Ao Notícias da TV, a emissora informou que "não tem planos de aderir à redução de 25% nos salários e nas jornadas", diferentemente de veículos impressos do mesmo grupo.

Nos últimos anos, a Globo pagou entre 20% e 50% do salário de cada profissional como remuneração variável, a título de partipação nos lucros e resultados. Metade do valor era antecipado em julho, embora isso não fosse obrigatório.

A Globo quebrará o que ela chama de tradição porque, como a maioria das empresas, está priorizando a manutenção de caixa. Segundo balanço contábil de 2019, o grupo tem um caixa muito bom, de R$ 10,5 bilhões. Ou seja, em tese, tem dinheiro para bancar suas operações durante quase um ano.

Na nota enviada a seus funcionários nesta semana, a emissora diz que "os dois primeiros meses de 2020 já sinalizavam que teríamos um ano muito desafiador".

"Além disso, o avanço do novo coronavírus trouxe importantes efeitos negativos para o nosso negócio: paralisação de atividades produtivas, inclusive de anunciantes, eventos esportivos cancelados, queda de demandas e de investimentos e, em consequência, anunciantes suspendendo campanhas e patrocínios."

Se a coisa está feia para a Globo, que detém por volta de 70% do mercado, imagina para as demais redes abertas. Na Record e nas demais emissoras que dependem de verbas de igrejas, é grande a preocupação com o futuro, uma vez que os templos estão quase vazios, e os fiéis, temerosos de entregar dízimos que podem fazer falta no futuro.

No mercado, teme-se pela sobrevivência de algumas redes. Tudo vai depender do tamanho da recessão. A tendência é o anunciante reduzir investimentos e, no caso da TV, concentrá-los ainda mais na Globo, que viu sua audiência crescer 25% --"mas ter audiência alta não significa que, nessa crise pela qual o país e o mundo passam, nossa receita esteja garantida", alertou a emisora na nota aos colaboradores.

A concentração, na verdade, já vem acontecendo. Segundo dados do Ibope Monitor, as inserções de propaganda de carros na TV, que chegaram a 80 em 13 de março, desabaram para cerca de 10 por dia em abril, e quase todas na Globo.


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