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COLUNA DE MÍDIA

O caos das contas verificadas, as redes sociais 'isentonas' e o risco de golpe

Reprodução/CNN

Jair Bolsonaro falando em uma entrevista

O presidente Jair Bolsonaro anda irritado com as redes sociais

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 14/7/2021 - 6h15

Esse texto é parte de um especial da coluna sobre o Twitter e os problemas que a rede social tem enfrentado com relação à moderação de conteúdo. No final do texto há uma lista com as demais publicações.

Em novembro de 2017, o Twitter adicionou o selinho azul à conta de Jason Kessler. Esse pequeno ícone, conhecido como verificação de conta, indica que o dono é uma pessoa importante.

Não demorou muito para a verificação de Kessler provocar indignação e uma enxurrada de críticas. Kessler era um conhecido supremacista branco que usava as redes sociais para espalhar mensagens de ódio e organizar passeatas com manifestantes desfilando pelas ruas segurando tochas e entoando gritos racistas.

Dois dias depois da verificação de Kessler, o Twitter anunciou a suspensão do processo de verificação. "O sistema está quebrado e precisa ser reconsiderado", tuitou o presidente-executivo do Twitter, Jack Dorsey, no dia do anúncio. "E falhamos ao não fazer nada a respeito. Trabalhando agora para consertar rápido."

Diferentemente do anunciado, o Twitter não parou o processo de verificação. Em vez disso, a empresa continuou verificando as contas em silêncio, embora não permitisse que os usuários se inscrevessem proativamente para a verificação.

A parte de "consertar rápido" a que se referia Dorsey é ainda mais questionável. Apenas meses atrás, já em 2021, a empresa voltou a aceitar verificações pedidas pelos próprios usuários. Mesmo assim, o processo segue uma bagunça.

Desde a reabertura das verificações de contas, diversos jornalistas e figuras públicas reconhecidas em suas áreas vinham tendo seus pedidos de verificação negados pelo Twitter no Brasil. 

Na segunda-feira (12), o Twitter anunciou que faria mudanças na tentativa de melhorar o processo e passaria a enviar respostas com mais contexto para ajudar os usuários a entender as razões para a negativa da verificação quando isso acontecer. 

Por que isso é importante?

Além da aparente falta de consistência e transparência no processo de verificações, existe ainda a questão dos perfis já verificados que espalham desinformação. No início de julho, a jornalista Laís Martins, publicou no site Núcleo, uma ótima reportagem discutindo a bagunça dos cobiçados selinhos azuis. Laís mostra como a verificação de uma conta aumenta o engajamento, e consequentemente o alcance, dos perfis que a possuem. 

Segundo o Twitter, Instagram e Facebook, a finalidade da verificação é apenas garantir a notoriedade do dono da conta, não a veracidade do conteúdo. Mas na prática, não é assim que as pessoas enxergam o selinho. Então, mesmo que o algoritmo não beneficie as contas verificadas, o fato das pessoas entenderem a conta verificada como mais relevante faz com que esse perfil tenha mais interações e alcance.

Todas as redes sociais enfrentam esse problema. Mas no Twitter, onde as notícias tendem a se espalhar mais rapidamente e pautam muitos jornalistas, particularmente os de política, o problema se torna pior.

Questionado por que os critérios parecem inconstantes para a verificação, o Twitter respondeu por meio de sua comunicação estar "continuamente trabalhando para melhorar o processo para obtenção do selo de verificação. Fizemos uma mudança recente, incluindo a revisão da política, para a qual pedimos e contamos com a opinião das pessoas a respeito da reformulação das regras e como deixá-las mais claras. Atualmente, consideramos os critérios descritos nesta política para a concessão do selo azul, critérios esses que vão além do número de seguidores de um profissional e seu cargo".

Sobre a razão das negativas não terem uma explicação, a empresa diz que "o novo processo de verificação é recente. Por isso, estamos trabalhando para dar mais contexto para cada resposta negativa, mas, caso a pessoa que teve seu pedido negado considerar que cometemos um erro, é possível submeter um novo pedido após 30 dias". 

E se todo mundo pudesse ser verificado?

Perguntei se verificar a todos os usuários não seria uma solução, já que ao menos asseguraria que estamos todos falando com pessoas reais, além de diminuir o prestígio do selinho azul, que induz à crença de que quem tem esses selinhos seria mais confiável.

Segundo o Twitter, "o objetivo da verificação é informar às pessoas com quem elas estão conversando, atestando a autenticidade de perfis de grande interesse público. Vale dizer que esse é apenas o primeiro passo em um trabalho que estamos desenvolvendo de dar às pessoas caminhos para que elas tratem de sua identidade no Twitter". 

O Twitter afirmou que também estão sendo estudadas novas formas de ajudar a identificar as diferentes maneiras de uso e abordagem das contas na plataforma, como perfis automatizados e em memória de alguém, por exemplo. "Também estão em estudo aprimoramentos nos perfis, como a criação de uma página 'Sobre', para permitir que as pessoas se expressem melhor", afirma. 

Fake news e venda de selos de verificação

O Twitter não é a única plataforma com problemas de desinformação e falta de transparência. Semana passada, o colunista Leo Dias revelou que a Banca Digital, um grupo que reúne diversos perfis de Instagram com fofoca e fake news, atuava como uma "milícia digital". Os donos da Banca cobravam de artistas para falar bem ou não falar mal de personalidades e marcas. Os pagamentos poderiam chegar a R$ 35 mil reais no caso de celebridades e valores ainda maiores para marcas. 

Em outra reportagem, Dias expôs o mercado paralelo de venda de selinhos de verificação no Instagram. "Os valores para verificar uma conta no Instagram variam entre R$ 5 mil até R$ 35 mil", escreveu o colunista.

A posição do Instagram é bastante semelhante à do Twitter. Por meio de sua comunicação, o Instagram disse que "o selo de verificação é uma ferramenta para ajudar as pessoas a encontrar as contas reais de figuras públicas e marcas. Ele indica que verificamos que a conta do Instagram é a presença autêntica da figura pública, da celebridade ou da marca que ela representa. Não usamos o selo de verificação para apoiar ou reconhecer figuras públicas ou marcas". 

Na teoria faz sentido, mas na prática não é o que acontece, porque as pessoas têm outra percepção sobre as contas verificadas e acreditam que elas são mais confiáveis. O Instagram também afirma que "pode remover selos de verificação de qualquer tipo de conta a qualquer momento, bem como retirar o seu selo ou desativar a sua conta". 

As redes sociais tentam seguir "isentonas" no Brasil e jogam a responsabilidade do conteúdo no colo dos usuários em uma tentativa de não se desgastar politicamente (políticos são notórios disseminadores de desinformação). Até recentemente, as redes sociais fizeram o mesmo nos Estados Unidos com resultados catastróficos que culminaram na invasão do Capitólio em 6 de janeiro. 

Aqui, o presidente Bolsonaro aumentou seus ataques às redes sociais desde que alguns de seus conteúdos passaram a ser marcados com alertas de desinformação. Entretanto, ele e outros notórios disseminadores de conteúdo duvidoso seguem ativos nas redes, alguns inclusive com contas verificadas. Situação semelhante acontece na Índia com o governo de Narendra Modi.

Mas como os recentes acontecimentos nos Estados Unidos mostram, as empresas donas das redes sociais precisam descer do muro e assumir suas responsabilidades. O ex-presidente Trump e seus perfis tiveram papel chave na disseminação das fake news que incitaram milhares de americanos a invadir o Capitólio na tentativa de um golpe para manter Trump no poder após ele perder a eleição. Após a invasão, o Facebook (que é dono do Instagram) e o Twitter, baniram os perfis de Trump e outros disseminadores de fake news.

Obviamente, muita gente não gostou da suspensão de Trump, incluindo diversos políticos republicanos. Mas é melhor as redes sociais colocarem ordem na casa antes que se tornem as responsáveis por novas tentativas de golpe. 

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