COLUNA DE MÍDIA
Reprodução/Facebook
Tanto o bolsonarista Onyx Lorenzoni quanto Felipe Neto têm reclamando do Twitter recentemente
Esse texto é parte de um especial da coluna sobre o Twitter e os problemas que a rede social tem enfrentado com relação à moderação de conteúdo.
Os brasileiros têm muito do que reclamar recentemente, mas parece cada vez mais difícil esquerda e direita concordarem sobre qualquer tema. Mas existe uma reclamação em que os dois lados estão alinhados: o Twitter se tornou um problema.
De um lado, apoiadores do presidente Bolsonaro se dizem perseguidos pela rede social. Essa semana, nomes como o ex-ministro Abraham Weintraub, o ex-assessor especial Filipe G. Martins, o ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, e os deputados federais Osmar Terra e Bia Kicis reclamaram da ação do Twitter em suas contas na plataforma, que levou à redução do número de seguidores.
Por outro lado, críticos vocais do governo atacam o que apontam como inconsistências do Twitter na aplicação de suas próprias políticas no combate às fake news e à propagação de desinformação.
Um dos mais notórios críticos do Twitter (e do presidente Jair Bolsonaro), é o influenciador Felipe Neto. Com mais de 13,4 milhões de seguidores no Twitter e outros 42,3 milhões no YouTube, ele frequentemente aponta inconsistências na maneira como a plataforma lida com a moderação de conteúdo.
Em maio, Felipe declarou estar preparando um dossiê com informações sobre os principais propagadores de notícias falsas e mensagens de ódio no Twitter. "Chega de tentar resolver via funcionários brasileiros. Levaremos o caso para os Estados Unidos e para a imprensa internacional. Twitter Brasil, vocês escolheram não fazer nada", afirmou Felipe em um post.
O alvo recorrente de Felipe é Allan dos Santos. O perfil do jornalista bolsonarista é notório por divulgar posts falsos, como a afirmação de que o jogador Eriksen, da Dinamarca, desmaiou em campo por ter sido vacinado ou que a mãe de uma das vítimas no Jacarezinho aparecia em um vídeo segurando um fuzil.
Segundo Felipe, por trás das inconsistências do Twitter estão interesses políticos. "Um dos problemas é que o Twitter (e outras plataformas) estão em pânico com a possibilidade de o decreto do Bolsonaro ser aprovado. Esse decreto irá proibir todas as redes sociais de deletarem posts e banirem perfis no Brasil. É muito grave! Porém, enquanto Facebook, YouTube e outras redes parecem permanecer lutando contra as mentiras bolsonaristas (embora ainda falhem muito), o Twitter Brasil decidiu arregar."
A notícia pode soar conspiratória, mas os repórteres da ProPublica obtiveram e-mails internos do Facebook que mostravam Sheryl Sandberg, COO do Facebook, e outros executivos importantes concordando com as demandas de censura da Turquia, com medo de que o governo bloqueasse a plataforma de mídia social no país.
A pressão de governos antidemocráticos tem se intensificado no mundo inteiro e sobre todas as redes sociais. A moderação de conteúdo é um desafio geral. O Facebook inclusive criou um comitê externo para avaliar casos mais espinhosos sobre conteúdo. Recentemente, a rede de Mark Zuckerberg anunciou o banimento do ex-presidente americano Donald Trump durante dois anos.
Mas note que o Facebook é uma empresa enorme, com valor de mercado de R$ 4,7 trilhões. O Twitter vale R$ 240 bilhões, pouco mais de 5% do valor do Facebook. Para muitos, o problema no Twitter está no amadorismo com que a empresa historicamente conduz seus negócios.
“A toxicidade do Twitter e os resultados financeiros abaixo da média são o mesmo problema, passíveis de uma única e mesma solução. Consertar o Twitter começa no topo --substituindo um CEO ausente-- e a partir daí, mudando o modelo de negócios da empresa. As recompensas potenciais valem a pena, tanto econômica quanto socialmente”, diz Scott Galloway, autor de best-sellers e professor de marketing da NYU Stern.
No início do ano, o Twitter realizou um evento com analistas e investidores, e os executivos da empresa disseram que tinham consciência de seus problemas de execução e prometeram melhorar.
Assim como no Brasil, o Twitter enfrenta problemas relacionados ao seu conteúdo em diversos países, particularmente a Índia. O governo indiano ano passado baniu o TikTok após um confronto com a China e agora ameaça fazer o mesmo com o Twitter.
A polícia local já esteve no escritório do Twitter na Índia mais de uma vez nas últimas semanas e interrogou executivos da companhia, inclusive com ameaças de prisão. Os políticos apoiadores do governo indiano estão indignados com posts em seus perfis pessoais que receberam o alerta de desinformação.
Ironicamente, o Twitter foi peça-chave para a eleição de Bolsonaro no Brasil e do primeiro-ministro Narendra Modi, na Índia.
O Brasil, assim como a Índia, é um mercado essencial para o crescimento do Twitter. A Índia é o terceiro país com maior número de usuários na plataforma, o Brasil é o quinto e se prepara para ultrapassar o Reino Unido. Índia e Brasil são mercados cheios de oportunidades, mas com um contexto político cada vez mais desafiador para a rede social.
"O Twitter deixou o conteúdo tóxico descontrolado porque isso é do seu interesse: a empresa depende do engajamento que gera. Seu modelo voltado para publicidade prioriza o tempo na plataforma a todo custo e produz um algoritmo que amplifica o enfurecimento e a polarização", diz Galloway.
O Twitter conseguiu o que parecia impossível: uniu esquerda e direita em torno de uma causa comum.
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