BALANÇO DE 2020
JOÃO MIGUEL JÚNIOR/TV GLOBO
Regina Casé e Nanda Costa em gravação de Amor de Mãe durante a pandemia; Globo driblou a crise
Em um ano marcado pela paralisação nos estúdios, pelo adiamento de eventos esportivos e pela queda nas receitas publicitárias, a Globo fez ajustes em seus gastos para terminar 2020 "no azul". Com cortes de gastos, demissões, renegociação de contratos, rescisão de acordos de grandes eventos de futebol e crescimento do Globoplay, a GCP (Globo Comunicação e Participações) teve um lucro de R$ 167,8 milhões no ano passado.
De acordo com o balanço financeiro oficial divulgado nesta sexta-feira (26), apesar da queda de 11% na receita líquida, de R$ 14,1 bilhões em 2019 para R$ 12,5 bilhões em 2020, a empresa escapou do prejuízo.
A Globo mostrou ao mercado que conseguiu equilibrar as finanças por ter reduzido em 11% os custos relacionados com vendas e cortado 7% do total das despesas gerais.
Parte dessa economia veio com a conclusão do processo de unificação do Grupo Globo, com TV aberta, Globoplay, Som Livre, Globosat e G2C (empresa que comercializa seus canais pagos) juntos. A medida provocou o enxugamento de setores administrativos, causou a demissão de executivos e reduziu os grandes salários --atualmente, a companhia tem aproximadamente 14 mil colaboradores.
Outra medida que a líder de audiência usou para driblar a crise foi o "calote" nos contratos esportivos. A empresa rescindiu o contrato com a Conmebol e deixou de ter uma despesa de US$ 60 milhões (R$ 342,9 milhões) por ano pela transmissão da Libertadores. Além disso, não depositou uma parcela de US$ 90 milhões (R$ 514,4 milhões) pelos direitos de eventos da Fifa, como a Copa do Mundo 2022, e levou a disputa para a Justiça.
"Apesar de todos os sacrifícios, foi um ano de grandes realizações para a Globo", aponta Manual Belmar, diretor-geral de Finanças do grupo, em entrevista ao jornal Valor Econômico. A empresa do grupo que mais cresceu no ano da pandemia foi o Globoplay.
O serviço de streaming teve um aumento de 80% na base de assinantes e um faturamento 112% maior na comparação com 2019. "Apesar da pandemia, todos os investimentos em tecnologia e conteúdo, que alimentam o Globoplay e as plataformas digitais e canais lineares que desenvolvemos, não foram interrompidos. Mantivemos o plano original porque acreditamos que é a estratégia a ser perseguida", diz Belmar.
De acordo com Jorge Nóbrega, presidente-executivo do grupo, no período inicial da quarentena (abril, maio e junho de 2020), a Globo teve uma receita 30% menor do que o previsto. A principal redução nos ganhos do ano aconteceu na publicidade, que corresponde a 60% da receita total da Globo. A arrecadação com anunciantes teve uma queda de 17% e foi de R$ 7,5 bilhões no ano passado.
O lucro líquido consolidado da operação sofreu uma queda de 77% de um ano para outro: de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões. Apesar da queda, Nóbrega acredita que o resultado deve ser comemorado, por conta das dificuldades de 2020. O ganho só não foi maior por conta da desvalorização do real ante o dólar.
"Quando olhamos para o resultado do grupo, tivemos até uma perda de receita em relação à 2019 por conta da pandemia, mas quando olhamos os dados por dentro vemos esse crescimento do Globoplay, e é esse ritmo que queremos para os novos negócios. No futuro, a Globo será uma empresa com várias fontes de receitas: publicidade de TV aberta e de digital, assinaturas dos produtos digitais e muitas parcerias com empresas", exalta o executivo, em entrevista à revista Meio & Mensagem.
A situação financeira da Globo é tranquila. A companhia encerrou o ano com caixa de R$ 13,6 bilhões, 29,5% acima do apresentado em 2019. Com a valorização do dólar, a dívida do grupo também subiu: de R$ 3,5 bilhões (na conversão da moeda americana em dezembro de 2019) para R$ 5,4 bilhões (em dezembro de 2020).
O aumento da dívida poderia ter sido ainda maior. No entanto, em janeiro de 2020, a empresa negociou os títulos com vencimento em 2022 por novos para 2030. Para Manuel Belmar, a situação do endividamento é "confortável", considerando que a empresa tem capital próprio para suportar as operações.
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