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PAGOU PRA VER

Globo blefa, dá tiro no pé com Libertadores e fica com futebol capenga

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Caio Ribeiro (à esq,), Galvão Bueno e Júnior na cabine de transmissão da Globo no Maracanã, na Libertadores 2019

Caio Ribeiro, Galvão Bueno e Júnior em jogo da Libertadores 2019; Globo perdeu a competição de clubes

DANIEL CASTRO e VINÍCIUS ANDRADE

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 14/9/2020 - 7h15

Ao rescindir o contrato pelos direitos de transmissão da Libertadores com a Conmebol, a Globo esperava baixar os valores que pagava e retomar o acordo por um valor menor. Deu errado. O blefe custou caro, e a entidade fechou com o SBT até 2022 e criou um pay-per-view que contará com equipe de transmissão da Band. Sem a principal competição de clubes da América da Sul, a emissora ficou com seu catálogo de futebol capenga e menos atraente para o mercado publicitário.

A Globo tinha um contrato em que pagava US$ 60 milhões (R$ 319 milhões) por ano para a Conmebol. O acordo incluía jogos na TV aberta e por assinatura, no SporTV. Com a quarentena e a crise causada pela pandemia, a emissora tentou renegociar com a entidade, argumentando que o valor dos direitos se tornou irreal. Mas quebrou a cara.

Além da Libertadores, a Globo já abriu mão da Fórmula 1, tradição em sua grade desde os anos 1980, e corre sério risco de ficar sem a Copa do Mundo de 2022. Em junho, a emissora deixou de pagar uma parcela de US$ 90 milhões (R$ 478,8 milhões) e acionou a Fifa na Justiça suíça para renegociar o contrato por direitos de 2015 a 2022, no valor total de US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhões), boa parte já pagos.

Graças principalmente ao calote na Fifa e em outros contratos de direitos de futebol, a Globo fechou o segundo semestre deste ano com lucro, de R$ 560 milhões, apesar da queda de 29% nas receitas com publicidade. Ou seja, o bom resultado foi artificial.

Pela primeira vez neste século, a Globo expôs importantes eventos esportivos ao alcance da concorrência, correndo o risco de perdê-los. Alegou que os direitos de transmissão não condizem com a realidade de um mundo em pandemia.

A Globo está provando do próprio veneno. Foi ela quem levou os direitos às alturas, a partir do final dos anos 1990, quando inflacionou a Copa de 2002, pela qual pagou R$ 395 milhões na época, quando o evento só tinha o potencial de lhe gerar uma receita adicional de R$ 85 milhões.

Ao longo das últimas décadas, a Globo pagou caro para não deixar SBT, Record e Band tomarem parte de um filão de negócio (as transmissões esportivas) que lhe rende cerca de R$ 3 bilhões por ano, cifra que dificilmente ela repetirá no ano que vem, sem Libertadores e o Campeonato Carioca.

O pacote de 2021 de patrocínio do futebol, que neste ano lhe permitiu uma arrecadação de R$ 1,8 bilhão, ainda não chegou ao mercado publicitário (está atrasado).

Faltou visão estratégica para Globo, dizem analistas

Analistas do mercado de mídia avaliam que a Globo errou ao questionar os custos dos direitos da Libertadores e da Copa do Mundo. Faltou visão estratégica, diz um deles, ex-executivo da emissora. Apostou que poderia dispensar direitos esportivos neste momento e no futuro voltar a comprá-los, mais baratos, porque não iria aparecer outro comprador.

Mas apareceu. A partir desta semana, a Globo terá a concorrência do SBT, com a Libertadores contra o Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil. Especula-se nos bastidores das emissoras que o SBT pagou à Conmebol um valor irrisório (para o padrão da líder) para ter a Libertadores em 2020 e que não deve desembolsar mais do que US$ 20 milhões por ela nos dois anos seguintes --ou seja, menos do que a Globo desembolsaria num único ano.

Ao descobrir que o SBT estava com negociações avançadas e prestes a assinar a compra dos direitos em TV aberta até 2022, a Globo tentou uma cartada final com a Conmebol e insistiu em uma nova proposta. Mas já era tarde demais. O blefe virou um tiro no pé. Com o contrato firmado com Silvio Santos, a Conmebol enviou um recado direto: "Se você não quer, tem quem queira".

ALEXANDRE VIDAL/FLAMENGO

Gabigol na comemoração da final da Libertadores 2019: final fez o ibope da Globo bombar 


Força da Libertadores no Ibope

A Libertadores 2020 conta com sete brasileiros na disputa (Athletico-PR, Santos, Internacional, Palmeiras, Grêmio, São Paulo e o atual campeão, Flamengo), um sonho para qualquer emissora e uma excelente vitrine para anunciantes.

Com três equipes de São Paulo, principal mercado publicitário do país, e o Flamengo, time mais popular em nível nacional, a competição tem tudo para render excelentes índices de audiências em diferentes praças, principalmente conforme os brasileiros avançarem da fase de grupos para o mata-mata.

Para se ter uma ideia, no ano passado, a final Flamengo x River Plate marcou 47 pontos no Ibope do Rio de Janeiro, com 78% de share. Ou seja, quase oito em cada dez domicílios com TVs ligadas estavam sintonizados no jogo. O resultado foi melhor do que as decisões das quatro últimas Copas do Mundo.

Em São Paulo, o último jogo de 2019 anotou 32,6 pontos com a bola rolando, o equivalente a 6,6 milhões de telespectadores em média. Foi o duelo mais visto pelos paulistas da Libertadores no ano passado e atraiu mais audiência do que as finais das Copas do Mundo de 2010 e 2014.

Agora, sem a competição sul-americana, a Globo terá uma overdose de Campeonato Brasileiro com o Corinthians, único dos quatro grandes de São Paulo fora da Libertadores. O Alvinegro, time que mais dá audiência entre os paulistas, será a atração da emissora nas próximas três quartas-feiras.

A Globo deverá bater o SBT na maior parte das disputas no Ibope com futebol em ambas as redes. Mas vai perder se Flamego, São Paulo e Palmeiras chegarem à reta final da Libertadores.


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