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DIA DA VISIBILIDADE TRANS

'Ser trans e atriz é difícil, passamos necessidades', diz Maria Clara Spinelli

Divulgação/TV Globo

A atriz Maria Clara Spinelli interpretou a golpista Mira na novela A Força do Querer (2017), na Globo - Divulgação/TV Globo

A atriz Maria Clara Spinelli interpretou a golpista Mira na novela A Força do Querer (2017), na Globo

GABRIEL PERLINE

Publicado em 29/1/2019 - 5h01

O Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado nesta terça-feira (29) no Brasil, é visto por Maria Clara Spinelli como um passo importante na luta pelos direitos dos transexuais e contra o preconceito. Mas a atriz, que interpretou Mira na novela A Força do Querer (2017), lamenta as poucas oportunidades de trabalho para essas pessoas, também em sua profissão. "Ser atriz e trans é difícil, passamos necessidades", diz.

"Meu maior sofrimento, depois de tanto tempo de luta, mais de 15 anos de carreira,  é as pessoas dizerem que eu sou uma boa atriz, mas para fazer papéis de personagens transgêneros. Se me achassem realmente boa atriz me dariam a chance de fazer testes para diversos tipos de personagens. A carreira de uma atriz no Brasil é muito difícil, eu não recomendo. É uma carreira sofrida", desabafa.

Maria Clara trabalhou como servidora pública até 2009, quando decidiu viver exclusivamente da arte após atuar no longa Quanto Dura o Amor? (2009), de Anna Muylaert, que lhe rendeu os prêmios de melhor atriz no Festival de Paulínia, no Hollywood Brazilian Film Festival e no Monaco Charity Film Festival.

Do sucesso no cinema vieram os convites para a televisão. Estreou em Salve Jorge (2013), ficou um período afastada da Globo e depois emplacou três trabalhos sequenciais na emissora: Supermax (2016), A Força do Querer (2017) e a primeira temporada de Carcereiros (2018). Desde o fim da série, encontra-se desempregada e vivendo das economias que juntou com seus antigos salários.

"O que me deixa mais triste é que não sou chamada para testes. Quero ter a chance de competir e ter as dificuldades de qualquer outra atriz. Se eu fizesse testes para personagens com o meu tipo físico e a minha idade, e eu não conseguisse trabalhos porque a concorrência é muito grande, eu entenderia. Mas me negam o direito de ser testada. Gostaria de continuar com a carreira de atriz, mas não depende só de mim. É uma situação muito triste. É muito solitário e é muito injusto", comentou.

Normalmente, produtores de elenco e diretores não escalam transexuais para personagens cisgêneros. Oportunidades como a vilã Mira de A Força do Querer são praticamente inexistentes na teledramaturgia nacional, embora a Globo cada vez mais abra espaço para esses atores e atrizes participarem de suas tramas.

"Realizei um sonho de uma vida. Eu não queria morrer sem antes fazer uma personagem que não estivesse ligada à questão de gênero. E a Gloria Perez me deu esse privilégio. Lamento não ter podido realizar outros que tenham essa mesma consciência que a Gloria, de entender que artistas são artistas, e você não pode condicionar a intimidade de uma pessoa para proporcionar trabalhos a esta pessoa. Artisticamente, este é um entrave muito grande a nós que nascemos transexuais e somos artistas. Gloria é uma visionária e, infelizmente, ainda é uma exceção", disse.

Atualmente, Nany People está no ar como a transexual Marcos Paulo de O Sétimo Guardião. Em Dias Felizes, próxima novela das nove, Glamour Garcia interpretará uma travesti. Ambas as atrizes são transgênero na vida real.

"A Globo avançou muito em relação a essa questão, assim como todos nós estamos evoluindo enquanto sociedade. Temos muitos profissionais da casa que têm a liberdade de mostrar suas vidas como realmente são. Pessoas que têm família, que amam e são amadas, e que têm a questão da sexualidade e de gênero que é diversa do comum. O que antes era um tabu, hoje já é visto com naturalidade", analisou.

Direitos iguais
Maria Clara Spinelli chorou quando questionada sobre a importância do Dia Nacional da Visibilidade Trans. Ela lembrou dos crimes cometidos contra as travestis Quelly da Silva e Dandara dos Santos, mortas brutalmente em casos que chocaram o país, e disse temer por sua própria vida.

"Esses são só dois exemplos das milhares que são mortas nesse genocídio à comunidade LGBT+, em especial das pessoas transexuais, como eu, que somos as maiores vítimas. O Dia da Visibilidade Trans é fundamental porque nós somos desrespeitadas e morremos todos os dias. Nossos direitos ainda são poucos diante das nossas necessidades, eles são aviltados e retirados todos os dias", discursou.

"Essa data representa um avanço, um ganho no sentido de que se temos essa data é porque nós já somos reconhecidos. Apesar de toda a tragédia social que é ter nascido uma pessoa transexual, a nossa existência, através dessa data, é reconhecida e isso tem um valor muito grande."

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