Múmia, trans e pedra no sapato: Será Nany People a salvação de O Sétimo Guardião?

Nany People fez ontem (5) sua estreia como atriz na Globo: ela entrou em O Sétimo Guardião com a missão de causar, confundir e provocar os outros personagens. Na pele de uma mulher trans que manterá o nome masculino, Nany fez sua primeira cena toda enfaixada, como uma múmia. Agora, virará confidente da vilã, se tornará uma pedra no sapato da conservadora Serro Azul e poderá ajudar a levantar a novela, que até agora não empolgou a audiência.

Atriz de teatro há 33 anos, Nany People foi convidada a fazer um teste para O Sétimo Guardião por um produtor da Globo que viu um vídeo dela no YouTube. Quando o profissional ligou, Nany achou que era pegadinha. "Ele disse que se encantou comigo, que era da Globo. Falei: 'Prazer, sou Susana Vieira'. Não acreditei", conta.

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A atriz passou por entrevistas e testes até ser de fato contratada. Ela interpreta Marcos Paulo, um químico que é amigo das antigas de Valentina (Lilia Cabral). A vilã a conheceu quando ela ainda era homem, mas a reencontrará logo após a cirurgia de redesignação sexual. A personagem estava toda enfaixada enquanto falava no telefone com Valentina --no roteiro, Aguinaldo Silva a chamou de "nossa múmia".

Marcos Paulo manterá o nome masculino, mas aparecerá como uma mulher trans. Ela deixará sua casa em Paris, na França, e irá até Serro Azul para ajudar Valentina com os mistérios da fonte da juventude. E, é claro, aproveitará para causar muito.

"Valentina jura que está chegando um homem e chega a divindade loira. Além de ser transgressora, ela faz toda a redesignação sexual e não quer mudar de nome. Que é o que a gente já tem com a Pabllo Vittar. É uma personagem que vai dar pano pra manga. Ela é meio que a consciência da Valentina, tem uma intimidade, são amigas e rivais. É divertido", afirma.

Mas a cidade onde a trama se passa não vai receber tão bem a nova visitante.

"Meu maior desafio é pensar por que ela faz tanta coisa pra causar. Eu, enquanto Nany, penso que jamais faria isso, nunca fui por esse caminho. Mas ela faz questão de provocar, de ser a pedra no sapato. E tem a coisa do visual, ela abusa de estética, quer mostrar mesmo. Tem essa coisa de fazer as pessoas pensarem, de incomodar. Marcos Paulo vem pra confundir, não pra explicar", afirma, repetindo uma frase clássica do comunicador Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988).

reprodução/tv globo

Nany People durante a festa de lançamento da novela O Sétimo Guardião, em novembro

Coroação na Globo
Apesar de já trabalhar no meio artístico e na televisão há décadas, Nany confessa que ficou nervosa ao começar a trabalhar na Globo. Principalmente por contracenar com Lilia Cabral.

"Lilia é maravilhosa, minha musa inspiradora. Eu vi uma peça dela nos anos 1980 que mudou minha vida, vi que era isso que eu queria fazer. [Quando a viu pela primeira vez no set,] eu falei: 'Não sei se acendo uma vela, chamo o Samu ou tomo um copo d'água'. E ela me deu um abraço", conta.

Nany fez aulas de teatro e dança desde a infância, se formou nos anos 1980 e passou a atuar em casas de show e esquetes de humor. Ela se assumiu como uma mulher trans em 1994 e só neste ano conseguiu mudar seu nome oficialmente: em seus documentos, agora se chama Nany People Cunha Santos.

Na TV, ela começou a carreira no Comando da Madrugada (1997), na Band, se destacou como repórter de Hebe Camargo (2001-2006) e fez papéis cômicos em séries do Multishow, como Ferdinando Show e Treme Treme, em 2015.

Para ela, chegar à Globo é o ápice de sua carreira. "Na minha cabeça é a coroação de um processo. Fiz minha história e carreira toda no teatro, minha formação mesmo é como atriz. Foi a ideia certa no momento certo, foi uma conjunção astrológica que funcionou", acredita.