Após cancelamentos, Globo assume erros no BBB21 e propõe autocrítica ao público

Foram necessárias 21 temporadas e um time de famosos cancelados para a Globo se dar conta de que o Big Brother Brasil não mobiliza o público somente a escolher quem sairá milionário após três meses de confinamento, mas também a produzir ódio e devassar as vidas de quem se expõe diante das câmeras. Na final do BBB21, a emissora assumiu seus erros e propôs uma autocrítica ao telespectador.

No discurso que antecedeu o anúncio da vitória de Juliette Freire, Tiago Leifert resumiu o que é o Big Brother Brasil: todas as pessoas que por ali passaram tiveram que enfrentar o cancelamento. Afinal, é um programa criado para que os jogadores sejam julgados por milhões de brasileiros.

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Até o BBB19, somente anônimos frequentavam a disputa. Desde o ano passado, os famosos se tornaram jogadores. Mas foi em 2021 que os integrantes do Camarote mostraram para a emissora que essa "brincadeira" é capaz de em poucas semanas destruir as carreiras que eles levaram anos para construir.

Karol Conká, Projota e Lucas Penteado foram os pontos de virada para a Globo entender o que diversos ex-BBBs sofreram e sofrem até hoje. A exposição e falta de amparo da emissora no pós-jogo fez com que participantes perdessem empregos, fossem hostilizados em praça pública e desenvolvessem transtornos psicológicos. O fato de serem pessoas comuns, distantes do universo artístico, fez a cúpula do reality ignorar os efeitos do julgamento da audiência.

Karol entrou no BBB21 na condição de funcionária do Grupo Globo. Ela pertencia ao elenco de sua rede, com programa no GNT, e se dispôs a participar da brincadeira, que acabou lhe custando muito caro. Diante do estrago que a pressão do confinamento causou à rapper, a emissora se viu na obrigação de correr contra o tempo para estancar a ferida.

Ampliou o itinerário dos eliminados pelos programas da casa, incluindo o Domingão do Faustão no pacote, preparou documentário para justificar os erros da cantora, e tem feito uma campanha massiva para convencer o público de que o excesso de ataques não é saudável. É uma tentativa de cancelar o cancelamento, que a própria emissora incitou ao longo da história do BBB.

"O BBB é uma grande ideia, um programa maravilhoso, todo mundo se diverte. Só tem um problema: o humano. Vamos tirar o humano, olha que beleza. Ninguém mais vai ser cancelado, ninguém mais erra, porque afinal todo mundo é tão perfeito lá fora. Pegam tão pesado com vocês nas redes sociais às vezes. Então vamos tirar o humano. Não é melhor um Big Brother vazio, sem ninguém?", sugeriu Leifert na grande final do BBB21.

"Eu tô falando isso porque esse é o Big Brother, é assim que vai ser, é assim que vai acontecer. Vocês vão entrar aqui, vocês vão se embananar, vocês vão errar, vocês vão sair cancelados, e é isso aí. E vocês vão trazer assuntos externos, e a gente vai debater, e vocês vão aprender, e é isso aí. Não tem outro jeito de fazer o Big Brother, é assim. Mas é bonito ver a transformação. A transformação é a coisa mais legal", acrescentou o apresentador.

No discurso feito por Tiago Leifert, a Globo assume que o reality show provoca esse impacto negativo nas vidas das pessoas. Mas também sugere uma reflexão ao público, somada a uma dose de ironia, ao citar que todos somos perfeitos quando não estamos em um confinamento. É uma crítica à audiência, ao cancelamento e aos ataques de ódio.

Entre os erros e os inúmeros acertos (que foram maiores), a Globo enfim se deu conta de que o material humano é o bem mais precioso desse jogo. E o BBB21 entra para a história não por ser o maior em termos de duração, mas por fazer a emissora rever seus valores e entender sua responsabilidade diante das reputações que são destruídas em todas as temporadas.

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