DISCURSO DESAJUSTADO
REPRODUÇÃO/CNN BRASIL e TV GLOBO
Monalisa Perrone e Patrícia Poeta foram alvos de críticas durante cobertura dos protestos raciais
Desde a última sexta-feira (20), o Brasil se tornou palco de intensos protestos contra o racismo. As manifestações, que aconteceram em diferentes cidades, começaram após a morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro que não resistiu ao ser espancado por dois seguranças em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre. O caso e seus desdobramentos revelaram falhas nas coberturas de diferentes redes de televisão.
A CNN Brasil postou no Twitter um vídeo que classificava os manifestantes como "vândalos". A publicação mostrava vidros quebrados e portões destruídos em uma unidade paulistana da mesma rede de supermercados em que João Alberto Silveira de Freitas foi morto, na noite da última quinta (19).
Após os telespectadores questionarem por que as pessoas no protesto foram chamadas de "vândalos" enquanto os assassinos de João Alberto ainda eram classificados como "seguranças", a CNN retirou a publicação do seu perfil da rede social.
A repercussão negativa aumentou quando a apresentadora Monalisa Perrone voltou no Expresso CNN com quatro jornalistas brancos para discutir racismo estrutural. A situação gerou mais críticas, e a âncora se posicionou ao vivo.
"Estamos aqui, quatro pessoas brancas falando. Não estamos no lugar de fala", disse ela, que corrigiu a frase publicada anteriormente: "Manifestação com invasão de vândalos".
A GloboNews, apesar de ter Heraldo Pereira, Flávia Oliveira e Aline Midlej em boa parte da cobertura ao longo do feriado de 20 de setembro, também ficou em alguns momentos apenas com âncoras e analistas brancos tratando sobre o caso, erro que já havia sido apontado durante as manifestações pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, em junho.
Na ocasião, o canal de notícias reconheceu o erro, se desculpou e fez uma edição histórica do Em Pauta só com jornalistas negros. Um avanço, mas é evidente que a TV ainda não é espelho do Brasil, país que tem 56,1% de pretos ou pardos no total da população, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Além da representatividade e do lugar de fala, as redes de televisão também precisam aprimorar o discurso. Ana Maria Braga foi criticada no Mais Você de sexta-feira ao dizer que "a gente não precisa de um dia da consciência negra, branca, parda, amarela ou albina. A gente precisa de 365 dias de consciência humana".
Mais tarde, a apresentadora foi às redes sociais para cobrar mais "responsabilidade" do Carrefour, para quem ela já trabalhou como garota-propaganda.
No É de Casa, Patrícia Poeta foi detonada após fazer um longo discurso chamando os manifestantes contra o racismo de "vândalos" --assim como aconteceu na CNN Brasil-- e dizendo que eles esvaziam a causa social com "intolerância". Manoel Soares tentou amenizar a declaração da colega.
"Algumas reações acabam sendo desmedidas por conta da dor de jovens vendo seus irmãos jovens morrerem, e às vezes eles não conseguem controlar o impulso. Obviamente, a gente não é juiz de nada. A gente só quer pedir para você, que está manifestando, que tente encontrar um controle nessa dor, até para que a nossa manifestação não ganhe outros contornos", opinou ele.
REPRODUÇÃO/BAND
Lana Canepa apresentou pesquisa na Band
O Jornal da Band viralizou ao mostrar uma pesquisa feita com 2,5 mil entrevistados no Brasil, pelo instituto PoderData/Band. A pergunta era a seguinte: "Você tem preconceito contra negros?". Nas respostas, 34% disseram que sim; 57% falaram que não; e outros 9% disseram que não sabiam.
No Twitter, internautas compartilharam um print criticando a emissora por ter feito uma "enquete" com uma questão que tem como base algo que é crime: o racismo. Durante a exibição dos números, no entanto, a Band ressaltou que a injúria racial é uma prática fora da lei e ainda comparou os números com um levantamento do Datafolha de 1995, quando "apenas" 10% dos brasileiros se assumiram como racistas.
Ou seja, não era uma simples enquete, mas uma pesquisa que trouxe à tona um dado preocupante: estamos regredindo e normalizando o racismo. Até por isso, um veículo com a força da TV tem uma importância ainda maior, na missão de amplificar vozes da representividade e evitar a disseminação de discursos preconceituosos.
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