FUTEBOL EM RISCO
CESAR GRECO/AG. PALMEIRAS
O Palmeiras do técnico Luiz Felipe Scolari pode não ter seus jogos transmitidos pela Globo: batalha de milhões de reais
DANIEL CASTRO e VINICIUS ANDRADE
Publicado em 3/4/2019 - 6h31
O Palmeiras está com a faca e o queijo na mão. Se resistir à pressão da Globo e dos clubes de futebol até o próximo dia 28, quando começa o Campeonato Brasileiro, passará a protagonizar os jogos mais cobiçados da TV e estará no centro de uma confusão que deve congestionar centrais telefônicas e gerar uma onda de ações judiciais, causando um prejuízo de pelo menos R$ 100 milhões e colocando em risco um negócio que gera uma receita de R$ 1,75 bilhão por ano ao grupo de mídia da família Marinho.
O Palmeiras é o único clube da Série A do futebol brasileiro que ainda não assinou contrato com a Globo para transmissão em TV aberta e em pay-per-view, no canal Premiere. Já o Athletico-PR ainda não cedeu à emissora os direitos para o PPV. Na TV paga, os jogos do Alviverde pertecem à Turner, que desembolsará R$ 100 milhões neste ano para mostrá-los nos canais Space e TNT.
Nenhuma das 38 partidas do Palmeiras no Brasileirão poderá ser exibida na Globo ou nos canais Premiere (e as do Athletico também ficam fora do segundo, se não houver acordo com o clube paranaense), cuja assinatura varia de R$ 79,90 a R$ 109,90 mensais. O problema é que os assinantes do Premiere pagam, desde 1997, quando o pay-per-view foi implantado, para ter todos os jogos, sem exceção.
A situação se agrava porque não prejudica apenas os torcedores do Palmeiras e do Athletico-PR. Os corintianos e os flamenguistas, por exemplo, não verão seus times na TV (nem na aberta, na paga ou no pay-per-view) toda vez que o adversário for o Palmeiras, em casa ou fora. Contra o clube paranaense, só se o confronto for exibido na TV aberta.
Fontes do mercado de TV por assinatura já preveem três consequências:
1) Líder em seu segmento, o Sportv ficará enfraquecido, pois, dependendo da escolha da Globo em determinadas rodadas, não terá jogos de times grandes para transmitir em São Paulo e Rio de Janeiro. Poderá sofrer derrotas humilhantes para os canais da Turner, que terão Palmeiras com exclusividade em algumas rodadas (na terceira, por exemplo, o adversário será o Internacional).
2) A venda de novos pacotes de pay-per-view tende a cair.
3) Os assinantes do Premiere que se sentirem lesados pela ausência do Palmeiras (a princípio todos) entupirão as centrais telefônicas das operadoras de TV por assinatura com reclamações, pedidos de desconto e cancelamentos. Os mais insatifeitos poderão denunciar as operadoras para órgãos de proteção do consumidor e levar o caso à Justiça.
Diretor-executivo do Procon-SP, Fernando Capez, ex-promotor de Justiça que atuou no futebol, diz que acompanha atentamente o desenrolar das negociações entre Globo e Palmeiras. Mas só poderá agir quando o Brasileirão-19 começar.
"Os assinantes mais antigos [do pay-per-view] já contrataram com a presença de todos os times do campeonato. Na medida em que há um número menor de times, significa uma diminuição na quantidade do serviço prestado e na quantidade do produto oferecido. Seja no produto oferecido, que é o pacote de transmissão vendido, seja no serviço prestado, que é a transmissão dos jogos de todos os clubes", explica Capez ao Notícias da TV.
"Isso leva a que o consumidor tenha direito a um abatimento proporcional do preço, nos termos do artigo 19 do Código do Consumidor. Ou, então, que ele tenha direito ao cancelamento do contrato com a restituição da quantia paga proporcionalmente", complementa o diretor do Procon.
DANIEL AUGUSTO JR./AG. CORINTHIANS
Palmeiras x Corinthians no Paulistão 2019: clássico pode não ser transmitido no Brasileirão
Se confirmar esse cenário extremamente desfavorável à Globo, o Palmeiras vence a guerra já na primeira rodada do Brasileirão. Fontes do mercado de TV por assinatura estimam que a emissora terá um prejuízo de pelo menos R$ 100 milhões sem o Palmeiras no pay-per-view.
Operadoras de TV por assinatura, que são as vendedoras do produto da Globo, já trabalham com a previsão de um período turbulento, com reclamações e cancelamentos dos clientes.
Para ter contrato com o clube, a emissora será obrigada a pagar o que o time pedir, ou o que perderia sem o Palmeiras nas suas transmissões. Nos bastidores da Globo e das empresas de TV paga, contudo, há um discurso de que haverá acordo entre a emissora e o clube paulista até o dia 28.
Fortalecido por patrocínios e bilheterias sólidos, o Palmeiras está dificultando as negociações para forçar a Globo a remunerá-lo tão bem quanto Flamengo e Corinthians, os clubes com mais jogos na TV aberta. No pay-per-view, as agremiações são remuneradas de acordo com a declaração de torcida do assinante. Flamengo e Corinthians, no entanto, têm percentuais fixos, garantia de valor mínimo.
Se ceder ao Palmeiras, a Globo sofrerá um efeito bola de neve: os outros clubes também pedirão mais, principalmente Flamengo e Corinthians.
De acordo com estudo anual do banco Itaú BBA, os dois clubes de maior torcida são os que mais ganham dinheiro com TV. Em 2017, o Flamengo arrecadou R$ 199,1 milhões com TV, por todos os campeonatos, enquanto o Corinthians faturou R$ 147 milhões, R$ 10 milhões a mais do que o Palmeiras. Isso mesmo sem disputar a Libertadores, principal torneio do continente.
Um Corinthians e Palmeiras sem TV, previsto para 4 de agosto, poderá ser infernal para as telefonistas da Globo e das operadoras de TV por assinatura.
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