JOVEM GUARDA
Reprodução/Site Oficial Roberto Carlos
Roberto Carlos em foto da década de 1960, quando apresentava o Jovem Guarda na Record
Roberto Carlos comemora seu aniversário de 80 anos nesta segunda-feira (19). O rei é sempre lembrado por conta de seu especial de fim de ano, uma tradição desde 1974, mas, antes de passar décadas na Globo, ele alavancou sua carreira comandando o programa Jovem Guarda (1965-1968), na Record, ao lado de Erasmo Carlos e Wanderléa.
À época, o cantor vinha em um momento de ascensão. Em 1957, havia integrado o conjunto Os Sputniks, do qual também fazia parte Tim Maia (1952-1998). Após investidas do rei por uma carreira solo, acabou se separando do grupo, rendendo problemas posteriores com Maia. No ano seguinte, tiveram início as suas primeiras parcerias com Erasmo.
Após lançar seu primeiro LP, Louco Por Você (1961) o cantor fez sucesso nos anos seguintes com versões em português de sucessos estrangeiros. O Calhambeque, por exemplo, foi baseado em Road Hog, de John D. Loudermilk (1934-2016), enquanto Splish Splash foi inspirado em canção de mesmo nome de Bobby Darin (1936-1973).
Em 1965, o gênero musical do ié-ié-ié foi a aposta do diretor Nilton Travesso para conquistar uma boa audiência nas tardes de domingo da Record. À época, o futebol narrado por Raul Tabajara (1918-1978) tinha espaço importante na programação dominical do canal de Paulo Machado de Carvalho (1901-1992).
As transmissões, porém, chegaram ao fim. A justificativa oficial foi de que os clubes paulistas reclamavam de ver o estádio esvaziado em seus jogos por conta da transmissão pela TV. De acordo com o livro Record - 50 Anos, lançado pela própria emissora em 2003, teria sido uma situação específica que acabou culminando na decisão. Conforme consta:
"A Record dominava aquele horário graças às transmissões ao vivo de futebol narradas por Raul Tabajara, o mais popular locutor esportivo da TV paulista da época. Porém, em 1965, durante o intervalo de um jogo no Pacaembu, a câmera passeava pelas dependências do estádio quando filmou, na tribuna de honra, um poderoso diretor da Federação Paulista de Futebol acompanhado de sua amante."
"Irritado com o flagrante, aquele dirigente proibiu as transmissões de jogos ao vivo pela TV, sob a alegação de que prejudicavam a bilheteria. Com o futebol fora do ar, uma nova geração ganhou sua chance na TV".
Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa, então, passaram a ocupar um papel de destaque à frente do programa Jovem Guarda, que fez sua estreia em 22 de agosto de 1965, às 16h. Os nomes de Celly Campello (1942-2003), conhecida pela música Estúpido Cupido, e Ronnie Cord (1943-1986) chegaram a ser especulados antes, mas as negociações não foram em frente.
De acordo com a tese de mestrado A Jovem Guarda, a Moda, a TV - O Papel do Programa de Televisão na Difusão dos Padrões da Cultura Jovem Guarda nos Anos 1960, de Maria Fernanda Malozzi, Roberto Carlos teria algumas regalias em relação aos seus colegas.
O rei teria solicitado um salário de 5 milhões de cruzeiros. O valor acabou ficando um pouco abaixo disso, mas, além do cachê fixo, ele recebia 20% das bilheterias (o programa cobrava ingresso da plateia), tinha suas viagens pagas pela Record e participação nos lucros das vendas de VTs do Jovem Guarda a outras emissoras que não o exibissem ao vivo.
rEPRODUÇÃO/ARQUIVO NACIONAL
Roberto Carlos com Erasmo e Wanderléa
Erasmo e Wanderléa, indicados por ele, não recebiam um valor fixo mensal, mas sim cachês por programa, assim como a maioria dos convidados. Visando vender roupas e adereços atrelados ao movimento para o público jovem, a agência de publicidade Magaldi, Maia & Prosperi concentrou forças na atração a pedido da Record.
O programa Jovem Guarda chegou ao fim em 1968, mas além de lançar diversos artistas, ajudou a consolidar a figura do artista capixaba. Meses antes, ele havia protagonizado seu primeiro filme, Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (1968). Pouco depois, viriam Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (1970) e Roberto Carlos a 300 Quilômetros Por Hora (1971).
Mesmo com os passados atrelados, a Record fez um acordo com Roberto Carlos no início dos anos 2000 se comprometendo a não tocar nenhuma música dele, após ameaça de processo. Trechos do programa Jovem Guarda também não poderiam ser exibidos sem prévia autorização do rei.
O argumento é de que o artista seria exclusivo da Globo, e por isso teria de proteger a veiculação de sua imagem e voz nas emissoras concorrentes. Por conta dessa disputa, o nome de Roberto Carlos dificilmente foi citado no canal de Edir Macedo nas últimas décadas, e trechos do acervo envolvendo o capixaba são exibidos apenas em ocasiões muito especiais.
Uma delas ocorrerá neste domingo (18), quando o Câmera Record exibirá um especial com imagens raras do acervo da emissora envolvendo o cantor. Entre elas, uma entrevista do rei a Silvio Santos em 1976, sua participação no Quem Tem Medo da Verdade? (1968-1971) em 1979 e momentos de sua festa de aniversário de 25 anos, exibida ao vivo em 1966 e jamais reprisada.
Foi na década de 1970 que o rei mudou seus rumos na televisão. Em 1974, foi ao ar pela primeira vez o Especial Roberto Carlos, exibido pela Globo em 25 de dezembro, em ocasião do Natal. Desde então, o especial só não foi exibido em 1999, por conta da morte de sua mulher, Maria Rita, após luta contra o câncer.
Além do tradicional formato de show em estúdio com alguns convidados, a atração passou por algumas experimentações, com entrevistas feitas por Roberto Carlos com jogadores como Pelé e Garrincha (1933-1983), o piloto Ayrton Senna (1960-1994) e até um crossover com Pedro (Antônio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) da série Carga Pesada (1979-1981, 2003-2007).
Em 2019 e 2020, foram exibidas reprises, o que faz com que o último especial de fim de ano inédito do rei tenha ido ao ar em 2018. Há cerca de um ano, em 19 de abril de 2020, no início da pandemia de Covid-19, o cantor fez uma live que foi parcialmente exibida dentro do Domingão do Faustão.
Roberto Carlos Braga nasceu em 19 de abril de 1941, em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Em seu aniversário de 80 anos, o rei não aparecerá na varanda de sua casa para saudar fãs, como é sua tradição em anos anteriores à pandemia de Covid-19. Sua equipe divulgou um comunicado explicando o motivo.
"Ele pede que ninguém vá até a porta de seu apartamento, que, sempre que possível, todos permaneçam em suas casas, em isolamento social até que seja seguro retomarmos a rotina. A vacina é o único caminho hoje. Roberto Carlos já recebeu sua vacina e agradece às demonstrações de carinho que já vem recebendo."
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