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Por que o plantão da Globo é tão aterrorizante? Memória e música explicam

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O âncora Flávio Fachel no estúdio do Jornal Nacional, com painel com dados da Covid-19 no Brasil

O âncora Flávio Fachel apresentou o plantão do último sábado (6), com atualizações da Covid-19 no Brasil

REDAÇÃO

Publicado em 9/6/2020 - 5h36

Os plantões de notícias urgentes da Globo, que antes apareciam de forma esporádica e extraordinária, tornaram-se algo cotidiano aos telespectadores quando os dados sobre Covid-19 passaram a ser divulgados após o fim do Jornal Nacional. Mesmo mais frequente, a vinheta do plantão continua a aterrorizar o público. O tom da trilha sonora e a memória dos plantões passados podem explicar essa percepção.

A Globo começou a ter plantões na programação, fora dos telejornais, nos anos 1980. Ainda assim, naquela época, um selo do telejornal mais próximo do horário da notícia urgente aparecia na tela. Por exemplo, em 1982, na estreia do Brasil na Copa do Mundo daquele ano, um plantão identificado com o logo do Jornal Nacional informou sobre o andamento da Guerra das Malvinas, entre Argentina e Reino Unido.

A vinheta do plantão, nos moldes que vai ao ar até hoje, só foi criada em 1991. A emissora promoveu um concurso interno para que algum profissional apresentasse uma música marcante --ou seja, a Globo fez a encomenda já pensando numa trilha sonora que chamasse a atenção, desse sensação de alarmismo.

O vencedor foi o músico João Nabuco, que estava na emissora havia pouco tempo. O instrumental que ele criou é o mesmo da vinheta atual. O que mudou bastante foi a animação (originalmente criada por Hans Donner). De 1991 para cá, várias versões foram ao ar, acompanhando as mudanças visuais e de marca da Globo.

Mas João Nabuco acredita que a música e a animação têm peso pequeno na atmosfera de terror que o plantão provoca ainda hoje. A grande questão é que as pessoas, ao verem a vinheta, já imaginam que vão receber uma notícia terrível, por todo o histórico dos plantões da Globo.

"Na verdade, não é uma questão da vinheta. As pessoas acham que notícia ruim é mais urgente do que notícia boa. Se uma pessoa morre, é urgente. Se alguém nasce, pode esperar até 20h30 para ver no Jornal Nacional", disse Nabuco em entrevista ao UOL, em 2016.

A teoria faz sentido. A grande maioria dos plantões foi ao ar para anunciar mortes, tragédias ou reviravoltas políticas muito sérias. Algumas notícias anunciadas em plantões foram: morte de Ayrton Senna (1994), morte dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas (1996), morte da princesa Diana (1997), morte do terrorista Osama Bin Laden (2011) e a queda do avião que levava o time da Chapecoense à Colômbia (2016).

Os plantões de boas notícias são exceções muito raras, como a chegada ao Brasil da Seleção Brasileira de 1994, após a conquista da Copa do Mundo daquele ano.

O recorde de exibições de plantões da Globo em um mesmo dia aconteceu duas vezes: em 1º de maio de 1994, com a morte de Ayrton Senna, e em 7 de abril de 2018, na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em ambas as ocasiões, foram oito interrupções na programação.

Neste ano, a Globo já exibiu os seguintes plantões: em 16 de abril, quando foi anunciada a demissão de Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde; em 15 de maio, quando Nelson Teich também deixou o cargo de ministro da Saúde; em 23 de maio, quando a programação foi interrompida duas vezes para a informação da quebra do sigilo da gravação da reunião presidencial de 22 de abril, com exibição de trechos das falas de ministros; e nos dias 5 e 6 de junho, para atualização do número de infectados e mortos pela Covid-19.

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