MEMÓRIA DA TV
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
O músico João Nabuco é o criador da vinheta que ficou associada a tragédia na programação da Globo
THELL DE CASTRO
Publicado em 3/5/2020 - 5h35
Muito temida pelo público, por normalmente ser associada a alguma tragédia, a vinheta do plantão da Globo começou a ser usada somente em 1991. Apesar de a emissora já ter mostrado outros tipos de noticiários para destacar qualquer acontecimento que mereça interromper a programação normal, foi só há 29 anos que o boletim urgente ganhou uma identidade própria.
Nas primeiras décadas da televisão, inaugurada no Brasil em 1950, o veículo ainda perdia feio para o rádio no quesito instantaneidade. Sem os modernos links para transmissão ao vivo via satélite ou pela internet que existem atualmente, os canais sofriam para transmitir informações em tempo real até meados dos anos 1980.
Nos anos 1950 e 1960, o Repórter Esso, noticiário que marcou época no rádio e na TV Tupi, era o veículo oficial para quem quisesse ficar sabendo das últimas novidades. Seu tema de abertura era o equivalente ao plantão global dos dias atuais. Com a sua extinção, em 31 de dezembro de 1970, o Jornal Nacional dominou o telejornalismo brasileiro.
Até os anos 1980, quando a Globo queria dar alguma informação importante para o público, colocava no ar um selo referente ao período de exibição de seus telejornais. Se o fato acontecesse até certo período da tarde, por exemplo, era o Jornal Hoje que informava. Depois, era a vez do Jornal Nacional. No fim da noite, o Jornal da Globo. As coberturas regionais eram feitas pelos telejornais locais, como o SPTV e o RJTV.
Na maioria das vezes, ninguém aparecia no vídeo. Em 1982, na estreia do Brasil na Copa daquele ano, o plantão do Jornal Nacional, com o locutor esportivo Oliveira Andrade, informava sobre o andamento da Guerra das Malvinas, entre a Argentina e o Reino Unido.
Uma cobertura famosa foi a da morte do presidente eleito Tancredo Neves, em 1985. Os primeiros plantões foram do Jornal da Globo, com Celso Freitas e Leda Nagle. Depois, a equipe do Bom Dia Brasil, com Carlos Monforte, seguiu com as informações.
Eram frequentes também boletins sobre o aumento dos combustíveis em tempos de hiperinflação. Mas os casos de maior comoção do público sempre acontecem com a morte de alguém conhecido, principalmente quando se trata de um fato inesperado.
Em 1991, a emissora resolveu criar uma vinheta oficial para seu plantão, com um tema marcante. Foi promovido um concurso interno, e o vencedor foi o músico João Nabuco, que estava na emissora havia pouco tempo. Enquanto a música é a mesma até hoje, a animação feita por Hans Donner já ganhou várias versões, que acompanharam as mudanças visuais e de marca da Globo.
"Na verdade, não é uma questão da vinheta. As pessoas acham que notícia ruim é mais urgente do que notícia boa. Se uma pessoa morre, é urgente. Se alguém nasce, pode esperar até 20h30 para ver no Jornal Nacional", disse Nabuco em entrevista ao UOL, em 2016.
O recorde de exibições de plantões da Globo em um mesmo dia aconteceu duas vezes: em 1º de maio de 1994, com a morte de Ayrton Senna, e no dia 7 de abril de 2018, na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em ambas as ocasiões, foram oito interrupções na programação.
Na era das informações em tempo real, já faz algum tempo que a Globo tem reduzido a utilização da vinheta de plantão em sua programação, deixando-a para casos realmente extremos. É comum em vários momentos, como em fatos que exigem atualização frequente ou na atual pandemia do novo coronavírus, que os jornalistas da emissora entrem diretamente no ar, sem necessidade de uso da temida trilha.
A última vez que o plantão tocou na emissora, até o momento, foi no último dia 16 de abril, para anunciar a queda do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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