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Globo é acusada de fazer vista grossa em caso de racismo nos bastidores de novela

MAURICIO FIDALGO/TV GLOBO

Vinícius Coimbra está de camisa estampada em tom azul, em meio a set de novela de época Novo Mundo da Globo

Vinicius Coimbra nos bastidores de gravação da novela de época Novo Mundo (2017), da Globo

GABRIEL VAQUER, colunista

vaquer@noticiasdatv.com

Publicado em 30/1/2023 - 7h00

O Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) conseguiu comprovar, por meio de depoimentos e documentos, que a Globo foi conivente com os casos de racismo nos bastidores da novela Nos Tempos do Imperador (2021). Com isso, a emissora deverá responder a ação civil pública sobre o assunto. O inquérito está em fase final de apuração e análise de provas.

O Notícias da TV obteve com exclusividade informações sobre alguns pontos já concluídos na investigação e teve acesso ao depoimento de uma testemunha que atuou na novela. Ao todo, mais de dez profissionais foram ouvidos.

Além da Globo, o então diretor artístico da novela, Vinicius Coimbra, acusado diretamente pela discriminação dos atores, deverá responder juntamente com a empresa. Coimbra foi demitido no início de 2022, logo após o caso vir a público.

Hoje, o MPT-RJ investiga os crimes de racismo e injúria racial, cometidos principalmente contra as atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Dani Ornellas. No depoimento obtido pela reportagem, uma colega de elenco das atrizes (que terá o nome preservado) confirmou que o elenco negro era tratado de forma diferente.

A testemunha cita um informe de distribuição de camarins, pelo qual Roberta e Cinnara foram avisadas de que deveriam se arrumar em um local separado das protagonistas Leticia Sabatella, Mariana Ximenes e Gabriela Medvedovski. Elas também teriam sido orientadas a não conversar com atrizes do "núcleo branco" para não atrapalhar o cronograma de gravações.

Em outro trecho do depoimento, a colega das atrizes confirma que elas e atores negros foram obrigados a gravar a novela durante os meses de maio e junho de 2021, período em que o Brasil vivia o pico de casos de Covid-19. Uma atriz reclamou formalmente para a direção sobre o assunto, mas levou uma bronca e não tocou mais no assunto.

Globo só agiu quando caso vazou

Por fim, a depoente comenta que a Globo só tomou alguma atitude após o assunto vazar para a imprensa. Ela afirma que diversos nomes do elenco fizeram denúncias ao compliance sobre a conduta de Vinicius Coimbra, porém não receberam respostas da direção da emissora. As primeiras queixas ocorreram no início das gravações da trama, antes da pandemia, em janeiro de 2020.

A testemunha cita como exemplo da vista grossa da empresa a escalação de Vinicius Coimbra para a direção de Mar do Sertão, trama que está no ar na faixa das seis. A informação chegou ao elenco de Nos Tempos do Imperador e passou à equipe a impressão de que a Globo quis "seguir a vida" após as denúncias, sem demonstrar intenção de agir contra o que acontecia nos bastidores.

Posteriormente, após a repercussão do assunto, o diretor foi retirado da equipe da novela de Mario Teixeira. Em seu lugar, foi escalado Allan Fitermann, que dirigiu Quanto Mais Vida Melhor (2021), outra novela produzida pela Globo durante o auge da pandemia de coronavírus. Pouco depois, Coimbra foi demitido.

Por fim, a testemunha conta que chegou a comentar com outros colegas que Ricardo Waddington, diretor de Entretenimento da Globo, e José Luiz Villamarim, diretor de Dramaturgia, conversaram com atrizes e parte da produção para entender o que estava acontecendo. Mas isso só ocorreu quando as denúncias vieram a público.

Globo diz que colabora com investigação 

Nas próximas semanas, serão concluídos os protocolos para dar fim às investigações. Hoje, quatro procuradores estão dedicados ao assunto no Ministério Público do Trabalho.

Em nota ao Notícias da TV, o MPT-RJ disse que não pode comentar detalhes da investigação por conta do sigilo, mas confirmou que irá ajuizar ação contra a emissora, o que só é feito quando há convicção de que as provas sustentam a acusação.

"A investigação está em curso, por ora sob sigilo. Estão sendo analisados documentos e depoimentos de testemunhas. Após esses procedimentos será ajuizada ação civil pública", diz a nota.

Também procurada pela reportagem, a Globo afirma que não comenta assuntos de compliance, mas que está colaborando com as investigações. "A Globo não comenta questões relacionadas a compliance e aproveita para reiterar seu repúdio a qualquer forma de discriminação, esclarecendo que está sempre à disposição para contribuir com as apurações das autoridades", informa.



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