OPINIÃO
DIVULGAÇÃO/TV GLOBO
Vinicius Coimbra dirigiu Nos Tempos do Imperador e foi acusado de atitudes racistas nos bastidores
Na tarde desta quinta-feira (29), o Emmy Internacional, principal premiação da televisão mundial, divulgou os seus indicados. Entre nomes merecidos, como o documentário Caso Evandro, do Globoplay, e Leticia Colin, por sua atuação na série Onde Está Meu Coração, está uma grande piada de mau gosto: Nos Tempos do Imperador (2021) foi nomeada para concorrer a melhor novela. A mesma produção que tratou de "racismo reverso" e teve o diretor demitido por preconceito contra atores negros.
Além de colocar em evidência uma produção ruim como novela, a indicação reforça uma crítica antiga de quem questiona como a IATAS (Academia Internacional das Artes & Ciências Televisivas) escolhe os indicados: sem saber o contexto e realmente sem ver as novelas novelas concorrentes --a decisão é feita com base em um compacto editado da trama. Mas, no caso do folhetim protagonizado por Selton Mello, a gravidade dessa nomeação é ainda maior.
Nos Tempos do Imperador foi a primeira novela inédita da Globo a ir ao ar após a paralisação dos trabalhos pela pandemia de Covid-19. Foi, de fato, cercada de grande expectativa por ser dos mesmos autores de Novo Mundo (2017), folhetim elogiado pela abordagem do contexto histórico brasileiro.
Tecnicamente falando, é uma novela muito bem produzida. A fotografia é caprichada. Mesmo com as restrições de gravação por causa do coronavírus, houve grandiosidade em sequências com figurantes, e os protagonistas defenderam bem seus papéis. Mas além do texto absolutamente irregular, a novela cometeu inúmeros erros sobre a forma como tratou a situação racial.
Em um capítulo, o líder negro Dom Olu (Rogério Brito) proibiu a médica branca Pilar (Gabriela Medvedovski) de morar em um quilombo chamado Pequena África --onde eram aceitos apenas negros livres e fugidos que precisavam de proteção e abrigo. De repente, seu namorado, Samuel (Michel Gomes), fez um diálogo defendendo a existência de "racismo reverso".
"Só porque você é branca não pode morar na Pequena África? Como queremos ter os mesmos direitos se fazemos com os brancos as mesmas coisas que eles fazem com a gente?", alegou o rapaz na cena. A repercussão foi tão ruim que a autora Thereza Falcão pediu desculpas, e um consultor foi contratado logo depois para que casos do tipo não acontecessem mais.
Mas o pior aconteceu com o diretor Vinicius Coimbra. As atrizes Cinnara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a direção da Globo para reclamar de posturas discriminatórias contra atores negros. Com o passar dos meses e sem nenhuma mudança de comportamento da direção e da produção da novela, Cinnara, Dani e Roberta fizeram uma queixa formal ao setor de compliance da Globo.
As atrizes alegam que Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas e que fizeram segregação entre os atores. Em documentos, inclusive, eles separavam as pessoas entre elenco branco e elenco negro. Até no auge do pico da Covid-19, em maio de 2021, atores negros foram obrigados a gravar cenas. Coimbra foi demitido pela Globo e tirado de Mar do Sertão, atual novela das seis.
Lamenta-se principalmente dois pontos. O primeiro é que a Globo não tenha tido o bom senso de inscrever essa novela no prêmio. Não é uma obra que merecia ser lembrada por isso. Não tem boa produção que dê jeito em um texto ruim e em uma novela manchada por racismo nos bastidores e em cena. É até contraditório para uma Globo que tenta melhorar sua governança e avançar.
O segundo é que quem vota e a própria academia sequer tenham se preocupado em buscar informações sobre os finalistas e o que, de fato, foi Nos Tempos do Imperador. Mostra desconexão da realidade absoluta e inacreditável para uma academia renomada.
Será mais absurdo ainda se a trama levar o prêmio de melhor novela e a Globo comemorar. É premiar o caso de racismo na televisão. Não será uma vitória. Será uma vergonha. Uma das maiores da história da dramaturgia brasileira. A nossa TV não merece essa mancha.
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