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ASSÉDIO MORAL?

Diretor acusado de racismo é demitido da Globo dois anos após denúncias

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Vinicius Coimbra dirige Mariana Ximenes em Nos Tempos do Imperador: demissão após denúncia

Vinicius Coimbra dirige Mariana Ximenes em Nos Tempos do Imperador: demissão após denúncia

CARLA BITTENCOURT, colunista

carla@noticiasdatv.com

Publicado em 11/3/2022 - 17h28
Atualizado em 11/3/2022 - 19h19

Vinicius Coimbra, diretor artístico de Nos Tempos do Imperador, foi demitido da Globo nesta semana, dois anos após denúncias de racismo por parte do elenco. Em fevereiro, ele já havia sido afastado temporariamente de suas atividades na emissora. Procurado pelo Notícias da TV, Coimbra afirma que seu desligamento não foi provocado por preconceito racial: "Fui comunicado do meu desligamento da Globo por assédio moral". Já a Globo, em nota para esta reportagem fala que "não tolera" preconceito racial.

"Nas últimas semanas, muito foi dito a meu respeito. Por isso, agradeço àqueles que prezaram por uma apuração responsável dos fatos, sem atribuir a mim atitudes que não condizem com a minha índole ou que não são da minha competência", diz o diretor. 

"Como homem branco, porém, reconheço minha responsabilidade por atitudes que reproduzem privilégios. Eu sinceramente não gostaria que isso tivesse acontecido e estou empenhado para que não se repita. Desculpei-me à época e me desculpo novamente. Reafirmo meu profundo respeito pelo elenco da novela. Quero poder contribuir para juntos repararmos esta situação e construirmos um futuro melhor", complementa.

Coimbra estava à frente da próxima novela das seis, Mar do Sertão, e foi substituído por Allan Fiterman, que dirigiu Quanto Mais Vida, Melhor!

Procurada pelo Notícias da TV há três dias para comentar a demissão do diretor, a comunicação da emissora informou que "a Globo não comenta questões relacionadas a compliance, em razão do compromisso de sigilo previsto em nosso Código de Ética".

Depois da publicação desta reportagem, a Globo mandou um comunicado sobre a demissão do diretor (confira na íntegra no final deste texto). "Preconceito racial é uma prática não tolerada pela Globo. A fim de manter seu ambiente corporativo livre de discriminação, a empresa conta com um sistema de compliance atuante, com treinamentos de conscientização frequentes de seus colaboradores e um código de ética que proíbe a discriminação e pune severamente as violações apuradas", diz a nota.

"Em relação à novela Nos Tempos do Imperador, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia. Nesse sentido, foram identificadas oportunidades de aperfeiçoar nossos processos internos para tratar adequadamente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores", completa.

Já a assessoria do diretor afirmou que não "havia conseguido retorno de Coimbra para checar a informação". Somente no começo da tarde desta sexta (11), a assessoria de Coimbra confirmou o desligamento.

Na época em que a reportagem foi feita, o diretor não comentou as acusações, mas disse que respeita o elenco e que é a favor do diálogo: "O elenco da novela tem todo o meu respeito e admiração. Sou a favor do diálogo e acredito que todas as discussões sobre o tema são necessárias".

A decisão da emissora pelo afastamento de Coimbra foi oficializada na tarde de quarta (9) em resposta às acusações de preconceito racial registradas durante as gravações da novela de Alessandro Marson e Thereza Falcão. As atrizes Cinnara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues procuraram a direção da Globo para reclamar de posturas discriminatórias contra atores negros por parte de Coimbra e sua equipe.

A pedido do Notícias da TV, o advogado Matheus Falivene, doutor e mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), explicou que assédio moral é uma questão trabalhista que engloba, entre outras práticas, as ofensas raciais. Já o racismo é um crime da esfera penal e que deve ser investigado pela polícia. 

"A Globo foi prudente em não atribuir a demissão dele a racismo. Se houver um processo na esfera criminal e ele for inocentado, por exemplo, ele pode processar a empresa por danos morais. O assédio moral é referente ao direito do trabalho, o racismo ao direito penal, é um conceito criminal. Em regra, para não se comprometer, a empresa demite por assédio moral, que tem um conceito bastante amplo", explica Falivene.

Entenda o caso

Tanto Ricardo Waddington (diretor de Entretenimento) quanto José Luiz Villamarim (diretor de Dramaturgia) foram avisados sobre as queixas das três atrizes e disseram a elas e seus representantes que tomariam providências. As gravações começaram em janeiro de 2020.

Com o passar dos meses e sem nenhuma mudança de comportamento da direção e da produção da novela, Cinnara, Dani e Roberta fizeram uma queixa formal ao setor de compliance da Globo.

As atrizes alegam que Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas e que fizeram segregação entre os atores. Em documentos, inclusive, eles separavam as pessoas entre elenco branco e elenco negro. Até camarins separados havia nos estúdios de Nos Tempos do Imperador.

Na queixa ao complicance da emissora, Cinnara, Dani e Roberta falaram sobre o episódio em que a trama vacilou ao retratar o "racismo reverso" envolvendo Samuel (Michel Gomes) e Pilar (Gabriela Medvedovski). A cena causou um pedido de desculpas da autora Thereza Falcão, e Coimbra insistiu que elas e outros atores negros defendessem a novela em entrevista e em redes sociais.

Posteriormente, a Globo contratou consultores para realizar uma revisão histórica e apontar os erros no texto.

Leticia Sabatella e Gabriela Medevedovski, que interpretaram Thereza e Pilar na novela, foram citadas na queixa ao compliance. Elas defenderam as três atrizes em algumas situações e, ao lado de Maicon Rodrigues, o Guebo da trama, tentaram resolver o impasse entre os diretores e as atrizes, que estavam insatisfeitas com o tratamento recebido nos bastidores.

Orientadas por um corpo jurídico, as três atrizes de Nos Tempos do Imperador esperam o fim da investigação interna para decidirem se vão processar a emissora e Coimbra na Justiça comum. Por causa do ocorrido, Cinnara, Dani e Roberta, ainda abaladas, estão fazendo tratamento psicológico e psiquiátrico.

Leia a nota da Globo na íntegra sobre a saída do diretor Vinicius Coimbra:

"Sobre a sua consulta e em relação a notícias recentes a respeito de denúncias envolvendo a novela Nos Tempos do Imperador, a Globo reitera que não expõe apurações de relatos recebidos por sua ouvidoria, em razão do sigilo garantido a todos os colaboradores em seu código de ética e que, por isso, não vai se manifestar sobre o assunto.

Preconceito racial é uma prática não tolerada pela Globo. A fim de manter seu ambiente corporativo livre de discriminação, a empresa conta com um sistema de compliance atuante, com treinamentos de conscientização frequentes de seus colaboradores e um código de ética que proíbe a discriminação e pune severamente as violações apuradas.

Mas reconhecemos que, como ocorre em todos os segmentos da sociedade, há muito a avançar no caminho da diversidade, para além das rigorosas regras de compliance que praticamos no nosso dia a dia a esse respeito.

Em relação à novela Nos Tempos do Imperador, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia. Nesse sentido, foram identificadas oportunidades de aperfeiçoar nossos processos internos para tratar adequadamente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores.

Este processo contínuo em busca de oportunidades de melhoria é possível em virtude da crença da Globo no permanente diálogo e na criação de mecanismos para intensificá-lo, especialmente com seus colaboradores, que desde o ano passado estão engajados em treinamentos específicos sobre Diversidade e Inclusão e em grupos de afinidades de mulheres, negros e negras, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência para a promoção de ambientes cada vez mais inclusivos e representativos.

Através de iniciativas como essas, conduzidas pela área de Diversidade e Inclusão, criada em 2020, e que fazem parte da ampla política de diversidade da empresa, a Globo avança e aperfeiçoa seus processos internos, atenta sempre para às legítimas demandas que se apresentam, sem perder o foco nos princípios que constituem a sua essência."


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