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Memória da TV

Em crise, Band já sobreviveu a incêndio, confisco e fracassos retumbantes

Divulgação/Band

Grade atual da emissora é fortemente baseada no MasterChef, comandado por Ana Paula Padrão - Divulgação/Band

Grade atual da emissora é fortemente baseada no MasterChef, comandado por Ana Paula Padrão

THELL DE CASTRO

Publicado em 10/3/2019 - 7h19

No ar desde 13 de maio de 1967, a Band passa por uma grave crise institucional e financeira, incluindo disputa entre os irmãos Saad pelo controle do grupo, centenas de demissões e cancelamento de programas e de investimentos.

Em 2015, pouca gente entendeu o fim do Agora É Tarde, que havia acabado de receber injeção de recursos. Outro sucesso da emisora, o CQC (Custe o que Custar) saiu do ar no final daquele ano e não voltou mais.

No final de 2017, foi a vez do Pânico na Band deixar a grade. Quando a trupe comandada por Emílio Surita deixou a RedeTV! e seguiu para a Band, em 2012, sacudiu a televisão, mas perdeu o fôlego na nova casa. Continua somente no rádio e na internet.

A grade atual é fortemente baseada no MasterChef, que agora será exibido nas noites de domingo, e no Brasil Urgente, de José Luiz Datena, e dificilmente receberá grandes investimentos em 2019. A morte de Ricardo Boechat, no dia 11 de fevereiro, foi outro duro golpe.

divulgação/band

Pânico na Band deixou a grade e um prejuízo de R$ 15 milhões à emissora em 2017

Apesar de duradoura, essa não é a primeira e, provavelmente, não será a última crise da Band. Vamos relembrar algumas:

Incêndio devastador

Dois anos depois de entrar no ar, a TV Bandeirantes sofreu um incêndio devastador. Grande parte de suas instalações, equipamentos e arquivos se perdeu. O proprietário, João Jorge Saad (1919-1999), rapidamente determinou: "A Bandeirantes não vai parar". E não parou mesmo. Apesar dos prejuízos de 15 milhões de cruzeiros, a emissora foi reconstruída e sobreviveu ao grande percalço.

Contratação de Walter Clark

Em 1980, a TV Tupi saiu do ar. A Bandeirantes viu aí uma excelente oportunidade de se firmar no segundo lugar do ranking dos canais. A Globo era imbatível, e a Record virara carta fora do barulho havia alguns anos --SBT e Manchete ainda não estavam no ar.

Em 1981, a Band contratou Walter Clark (1936-1997) para decolar. Ele foi um dos responsáveis pela consolidação da Globo nos anos 1960 e 1970, ao lado de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

Vários programas foram lançados, e outros, que até faziam sucesso, foram tirados do ar ou mudaram de horário. Hebe Camargo (1929-2012) ficou sem espaço, o diretor Walter Avancini (1935-2001) foi demitido do núcleo de novelas e Cláudio Petraglia pediu demissão da superintendência de programação.

Clark levou fiéis escudeiros da época da Globo para as principais posições. "Ninguém deve esperar de mim milagres ou lances de gênio. Meu trabalho aqui é de montagem de uma infraestrutura mínima de programação, no departamento comercial e administração", sintetizou em entrevista à época, já prevendo o fracasso retumbante que tentaria evitar.

Muito dinheiro foi investido e pouco retorno obtido. Em alguns meses, Clark deixou a emissora, que precisou se reerguer e administrar os prejuízos, tanto financeiros como no Ibope. A partir de 1983, se fixou como o canal do esporte, numa estratégia bem-sucedida durante vários anos.

Crise do Plano Collor

Uma das crises mais complicadas vividas pela Band foi durante o Plano Collor, anunciado em 16 de março de 1990. Aliás, não somente pela emissora, mas por todas as redes, inclusive a Globo. A Band demitiu 108 funcionários ligados às áreas técnica e de produção de shows e tirou do ar o humorístico semanal Bronco, com Ronald Golias (1929-2005).

"Com essas medidas, a emissora pretende se adaptar à queda de 30% da receita publicitária acarretada pelo Plano Collor", informou a Folha de S.Paulo de 18 de abril de 1990.

"A Bandeirantes cortou a produção nas áreas que não eram prioritárias. Dificilmente faremos a linha de shows daqui para a frente", informou o então diretor-geral da rede, Rubens Furtado (1931-2011). "O mercado é que vai determinar novas medidas a serem adotadas", completou.

Parceria com a Traffic

Em abril de 1999, a Band extinguiu seu núcleo de novelas, que havia produzido nos anos anteriores tramas como Serras Azuis e Perdidos de Amor, demitindo 80 pessoas. Um infantil de Flávio de Souza, Gran Circo Marimbondo, teve a estreia adiada –e nunca foi ao ar.

Pouco depois, o canal fechou parceria com a Columbia Tristar/Sony para produzir versões brasileiras de sitcons de sucesso na TV americana, como A Guerra dos Pintos e Santo de Casa. As produções não decolaram e duraram pouco.

No mesmo ano, a Band terceirizou seu departamento de esportes para a Traffic, de J. Hawilla (1943-2018). Com isso, programas como o lendário Show do Esporte foram reformulados e perderam força. A atração definhou até ser tirada definitivamente do ar, em abril de 2004.

A Band deixou de transmitir campeonatos e perdeu o status de canal do esporte. Viu o espaço ser ocupado pela Record a partir de 2002. Somente em 2007 que a emissora retomou a parceria com a Globo nas transmissões do futebol nacional, interrompidas novamente em 2016, por questões financeiras.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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