COBRA INCÔMODA
ANTONIO CHAHESTIAN/RECORD
Fofocas no Balanço Geral deixam Record em vantagem contra Entretenimento da Globo
Apontado como o principal responsável pela extinção do Vídeo Show (1983-2019), o quadro A Hora da Venenosa se transformou em uma pedra no sapato da Globo. Mas por que as fofocas feitas por três jornalistas, que interagem com uma cobra de pelúcia, alcançam a liderança com frequência? Para o trio, a boa performance se explica pelo entrosamento interno e pela cumplicidade com o público.
"As pessoas percebem que a gente é de verdade e não fica fazendo tipo na televisão. Tem vários apresentadores que diante das câmeras se fazem de amiguinhos, mas depois vai cada um para o seu lado, e um fala mal do outro pelas costas. O público não é trouxa", alfineta Fabíola Reipert, que reitera que os três convivem muito bem fora do ar.
Paralelamente, a fofoqueira também destaca que, via de regra, o quadro não tem roteiro. Apenas conteúdos especiais são produzidos com antecedência. Como consequência, muitas brincadeiras e situações surgem de improviso, sempre apostando na irreverência para entreter quem está em casa.
A química entre "o cara que apresenta, a mulher que faz fofoca e o senhor que conquistou o prêmio Esso" também é destacada como um diferencial por Reinaldo Gottino, que chegou a trocar a Record pela CNN, mas se sentiu preso pelo formato que comandou durante apenas oito meses no canal de notícias.
"Nós conquistamos um patrimônio grande: a nossa relação com os telespectadores ultrapassa um pouco a televisão. Fazemos companhia, somos como uma extensão da sala da pessoa. Na prática, eles sabem até quando nós não estamos bem. É um vínculo muito forte", resume.
Mais experiente do trio, Renato Lombardi destaca a boa convivência, apesar das diferenças de personalidade. "Uma característica importante é a liberdade para falar. Nem sempre eu concordo com o Gottino e a Fabíola, e vice-versa, e acho fundamental a existência do contraponto. Quando você trabalha com pessoas que não querem puxar o seu tapete, que não querem mais do que você, o resultado acaba sendo muito bom."
O sucesso do quadro de fofocas rendeu dor de cabeça à Globo. Antes do ponto-final no Vídeo Show, a emissora fez diversas tentativas para tentar trazer de volta o público perdido: após a saída de Monica Iozzi, em 2016, diversos artistas, repórteres e até ex-BBBs foram testados na bancada.
VICTOR POLLAK/tv GLOBO
Globo apostou em revival do Vídeo Game
No ano seguinte, a Globo apelou para um revival do Vídeo Game (2001-2011), gincana em que Angélica desafiava os participantes a testarem seu conhecimento sobre TV. Nada deu certo, e o programa foi tirado do ar bruscamente em janeiro de 2019, sem direito a uma despedida que honrasse a sua história.
Meses depois, foi lançado o Se Joga, capitaneado por Fernanda Gentil. Em sua fase diária, a atração recebeu uma enxurrada de críticas do público e da imprensa e passou bem longe de cumprir sua missão de devolver a liderança à emissora.
A Globo passou a respirar aliviada quando apostou no prolongamento do Jornal Hoje. A decisão --tomada em função do agravamento da pandemia de Covid 19-- fez com que as vitórias de A Hora da Venenosa se tornassem menos frequentes.
Com o lançamento do Plantão BBB, no entanto, as fofocas recuperaram o fôlego: apostando em pautas requentadas, o programa de Ana Clara Lima também virou freguês: até a última quinta-feira (29), a Record levou a melhor em 14 dos 19 confrontos em São Paulo. O desempenho é ainda mais catastrófico em outras regiões do país.
Apesar dessa hegemonia, Gottino demonstra respeito pela concorrência e diz que o público é o grande vencedor dessa disputa. "Na televisão, não existe zona de conforto. Se você faz um programa ruim em um, dois ou três dias, as pessoas já perceberam que elas têm um controle remoto. Não existe esse negócio de vencer sempre. A gente vai ganhar e vai perder", analisa.
Os resultados demoraram a aparecer, mas ele se lembra da primeira vez em que o quadro ficou durante um minuto à frente da Globo. Naquele dia, o jornalista teve uma espécie de premonição. "É agora! É o caminho para a gente poder escrever o nosso nome na Record e na televisão", recorda o âncora.
Fabíola Reipert, por sua vez, admite que ainda fica surpresa com as vitórias. "Cada dia é uma conquista nova. Nunca imaginei estar na televisão, quanto mais ficar em primeiro lugar. Por outro lado, procuro não ficar refém do Ibope, ou a gente acaba enlouquecendo. E isso não é saudável”, desabafa.
Outro fator que ajuda a explicar o bom desempenho, segundo Lombardi, é uma mudança de comportamento do público. O veterano aponta que, antigamente, as pessoas tinham o costume de deixar a televisão o tempo inteiro na Globo, ainda que no volume mudo.
"Pouco a pouco, as pessoas perceberam que há mais opções. A gente também traz conteúdos legais. Muitas vezes, o espectador assistia aos telejornais e sentia falta de alguma coisa. Enquanto isso, na Record, existe a liberdade para comentar as notícias. Estamos subindo de degrau em degrau, mas é gratificante você ganhar de quem sempre venceu."
Enquanto as fofocas começam às 14h40, o Balanço Geral entra no ar a partir de 11h50, com comentários de Renato Lombardi e ancoragem de Gottino. O apresentador classifica o programa como uma revista eletrônica completa e diz que principal critério é a relevância de uma notícia, não importando onde o fato esteja acontecendo.
"A gente transita pelas pautas, virando a chavinha entre notícias mais sérias e o entretenimento. Nos últimos dias, demos destaque à vacinação, caso Henry ou a disputa pela herança de Agnaldo Timóteo [1936-2021], por exemplo. Somos o programa mais vivo da tarde: estamos em tempo real e temos a possibilidade de entrar em qualquer cobertura. E aí eu tenho uma grande bagagem, Lombardi também."
Mesmo com toda sua experiência, Gottino entrega que não tem qualquer pudor em participar de momentos descontraídos. O jornalista aproveita para rebater algumas críticas que recebe por interagir com uma cobra de pelúcia.
"Eu acho engraçado. O Tadeu Schmidt quando fala com os cavalinhos [no Fantástico] é cult, o Gottino fazendo a mesma coisa é cafona. As pessoas gostam de rotular, ir para o lado que elas estão inclinadas, entendeu?", questiona, enaltecendo o talento e as sacadas de Marcos Paulo Souza, manipulador de Judite.
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