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Sikêra Jr no programa Alerta Nacional: contrato com multa impagável vira problema para RedeTV!
O apresentador Sikêra Jr virou uma dor de cabeça milionária para a RedeTV!. Após chamar gays de "raça desgraçada", o jornalista perdeu quase 40 anunciantes em duas semanas. Sua saída até começou a ser estudada pela emissora, mas o seu contrato impede isto. Bem amarrado, o acordo válido até 2027 tem multa total de R$ 38 milhões. São R$ 20 milhões para quem quiser rescindir, mais 50% dos salários até o fim do vínculo.
O Notícias da TV teve acesso ao contrato do apresentador. Sikêra ganha R$ 6 milhões por ano --R$ 500 mil por mês. A rescisão não é apenas uma possibilidade da RedeTV!. Se quiser, a TV A Crítica, canal independente de Manaus (AM) responsável pela produção do Alerta Nacional, também pode comunicar seu desejo de romper o acordo com a emissora.
Porém, se o fizer, é ela quem pagará o valor para a TV de Amilcare Dallevo e o apresentador policial. Mesmo que A Crítica faça parte de um grupo forte no Norte do país, o SCC (Sistema Calderaro de Comunicação, que abrange vários veículos de imprensa em Manaus), essa possibilidade é remota pela robustez do pagamento.
"A parte que der causa à rescisão unilateral antecipada, ou à rescisão fundada por descumprimento, incorrerá em multa equivalente a R$ 20.000.000 (20 milhões de reais), reduzida proporcionalmente ao tempo restante para a vigência convencionada, além do pagamento de 50% do valor dos salários restantes", diz o trecho do contrato que fala do assunto.
Como Sikêra ganha R$ 6 milhões por ano, a multa correspondente a metade desse valor corresponderia a R$ 3 milhões anuais. O contrato válido até 2027 implica que Sikêra custaria R$ 18 milhões a mais para a RedeTV!, caso a emissora decidisse se livrar do Alerta Nacional. Essa quantia seria somada aos R$ 20 milhões já citados.
Em tempos de pandemia e crise econômica, o valor é considerado impagável para a RedeTV! e a TV A Crítica. Hoje, o mercado de comunicação atua por contratos mais enxutos e por obra justamente para evitar multas com valores impossíveis. O contrato de Sikêra é um dos poucos que tem essa prerrogativa.
Uma "esperança" para a direção da RedeTV! seria uma decisão judicial que impedisse a produção do programa. O contrato prevê que "não caberá qualquer ônus à RedeTV! se a transmissão do programa não puder ser efetuada por: determinação ou questionamento causado por conflito entre o conteúdo do programa e as normas vigentes, determinações dos órgãos legais competentes ou disposições firmadas com terceiros, ainda que posteriormente a este contrato".
Ou seja, as ações movidas pela Aliança Nacional LGBTQIA+ e o Ministério Público Federal, que pedem multa de R$ 15 milhões e retratação pelas falas homofóbicas de Sikêra em seu programa diário, podem servir de pretexto para a RedeTV! rescindir o contrato, se ela for condenada.
Por contrato, também é vetado que a TV A Crítica faça "práticas que prejudiquem a imagem da RedeTV!, à sua audiência e às suas relações com seus anunciantes". Toda a produção do Alerta Nacional, inclusive salários de produtores e repórteres, é bancada pela TV A Crítica.
A RedeTV! só gasta com cachês de ações realizadas por Sikêra Jr (15% do valor arrecado por publicidade) e banca a operação técnica de transmissão e repórteres que atuem fora da área de concessão da TV A Crítica --no caso, fora do Amazonas.
Nos lucros com publicidade, o contrato determina que a RedeTV! fique com 65% do seu lucro. Outros 25% ficam com A Crítica. E os 10% restantes são repassados para a MCZ PLY, de Sikêra Jr. É a empresa dele, inclusive, que arca com os custos de ações judiciais que o Alerta Nacional sofre, conforme estabelecido no vínculo.
No dia 28 de junho, o grupo Sleeping Giants iniciou um trabalho em parceria com o roteirista Pedro HMC, ativista LGBTQ+, para abordar os anunciantes do Alerta Nacional e denunciar o comportamento homofóbico do apresentador, que três dias antes, ao vivo para todo o país, chamou os gays de "raça desgraçada".
Os prejuízos que a RedeTV! vem somando desde então são enormes. Mais de 30 empresas que anunciavam na emissora e no telejornal policial romperam seus contratos por não compactuarem com as falas do apresentador.
Além disso, os intervalos comerciais do policialesco também sofreram perdas, e foram reduzidos em 57%. Antes o espaço era disputado por empresas, e atualmente somente campanhas do Governo Federal e chamadas institucionais para outros programas da casa ocupam a área de anúncios.
A RedeTV! demorou cinco dias para se manifestar sobre as declarações preconceituosas de Sikêra Jr., e classificou como um "episódio lamentável", além de afirmar que a empresa é contra qualquer tipo de preconceito.
Os vídeos de Sikêra Jr na página oficial da RedeTV! no YouTube foram retirados e até o tótem de papelão que fica na entrada da RedeTV!, com o rosto do apresentador, sumiu. O incômodo com a situação é tão grande que Nathália Arcuri pediu demissão da RedeTV! por não concordar com a forma que a direção trata o caso.
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