Rir e aprender
Imagens: Reprodução/Netflix
Os comediantes Dave Chappelle e Cedric The Entertainer em especiais de comédia feitos para a Netflix
JOÃO DA PAZ
Publicado em 15/11/2019 - 5h02
Feriados como esses, com dois dias de descanso próximos um ao outro, são sempre uma boa pedida para encarar uma maratona no sofá. Com o Dia da Consciência Negra celebrado no dia 20, vale a pena aliar diversão a um pouco de aprendizado, com cinco stand-ups disponíveis na Netflix para dar boas risadas e compreender a negritude.
O Notícias da TV apresenta uma lista eclética com humoristas negros ícones da comédia stand-up americana, que aproveitam o palco e o microfone na mão para não apenas contar piadas, mas combater o racismo, protestar contra a violência policial e valorizar sua cultura.
O ponto de vista é necessário para ter um entendimento mais amplo de como é a vida de negros, com eles sendo os protagonistas da narrativa.
As dificuldades dos negros americanos no convívio social rotineiro são muito parecidas com as do Brasil, embora lá nos Estados Unidos eles façam parte da minoria da população, e aqui são maioria. Há algo em comum entre os dois países: o passado manchado pela escravidão, tema presente nos especiais.
Ao assistir a esses cinco espetáculos, é possível notar várias semelhanças entre negros brasileiros e americanos. Saiba mais:
Revelado pelo programa Def Comedy Jam (1992-1997), um celeiro de comediantes, Cedric The Entertainer é adorado pelo público fã de piadas não tanto agressivas, que andam no limite do politicamente incorreto.
Em Live from the Ville, ou Ao Vivo de (Nash)Ville, ele opina sobre como as letras de rap mudaram com o passar do tempo e atualmente estão mais agressivas e atrevidas em comparação aos clássicos. Cedric cita de Fetty Wap, que alerta em uma música que vai atirar em você se olhar torto para a mina dele, a Jhené Aiko, que rimou: "Você tem de comer uma bunda como se fosse a compra do mercado".
Como o especial foi gravado em 2016, um ano antes do fim da presidência de Barack Obama, o comediante usou o palco para aplaudir os feitos do político negro em sua gestão, elogiando como o governante conseguiu manter sua compostura mesmo enfrentando uma forte oposição.
Sem dúvida um dos comediantes mais ácidos da atualidade, Dave Chappelle transforma um caso grave em uma aula sobre o que é o racismo. Logo no começo de Deep in the Heart of the Texas (No Fundo do Coração do Texas), ele relembra o episódio em que um espectador branco, durante uma apresentação na cidade de Santa Fé (Califórnia), jogou uma casca de banana no palco. Chappelle também recapitula outros momentos nos quais foi vítima desse crime.
Mesclando falas sérias com momentos bem-humorados, Chappelle conta como reagiu ao caso, e como as pessoas que lhe agrediram se comportaram. O humorista cita Malcolm X (1925-1965), um dos ativistas negros mais proeminentes do século 20, enquanto narra suas histórias.
Entre outros temas, Chappelle comenta sobre a violência policial, o uso da palavra ofensiva "nigger" (crioulo) e o acesso fácil que homens brancos têm a vacinas.
DeRay Davis, D.L. Hughley e Katt Williams soltam o verbo em especiais hilários na Netflix
Ator que apareceu em séries como Empire e Snowfall e em uma dezena de filmes, DeRay Davis desabafa sobre a vida de um ator negro em Hollywood. Por isso, o título do seu especial é How to Act Black (Como Atuar como um Negro). Ele ironiza ao contar que são pessoas brancas que vão avaliar, em um teste, se um ator negro é apto para fazer o papel de "negro da periferia de Chicago".
Davis tem uma visão bem polêmica, para dizer o mínimo, sobre o racismo, algo que merece ser conferido. O comediante bate muito na tecla da importância da conscientização política, social, cultural e racial.
Ele fala que a violência policial na periferia poderia ser menor se policiais que conhecessem as manhas e o linguajar do gueto trabalhassem na quebrada. Dessa forma, saberiam amenizar as coisas e lidar com os problemas sem brutalidade.
Fazendo jus ao nome do seu especial (Contrarian, ou Do Contra), D.L. Hughley não foge de polêmicas ao abordar assuntos controversos. Ele cutuca ao falar sobre os brancos e pobres que votaram em Donald Trump na última eleição presidencial americana: "Como você é branco e não tem dinheiro nos EUA? Como vocês estragaram 400 anos estando na frente? É um desperdício de brancura".
Hughley também ataca supremacistas ao relembrar a escravidão nos EUA. Ele fala que os africanos chegaram na América forçados, não foram convidados para o país. "Não pegamos um cruzeiro porque ouvimos que estavam contratando", dispara. Sarcasticamente, o comediante solta a frase "escravidão é uma escolha", que provoca um verdadeiro frisson na plateia.
O comediante mais espalhafatoso do quinteto, com sua voz estridente e uma decoração de palco que é pura ostentação (sem falar do paletó e do microfone), Katt Williams é certeza de muitas risadas, sempre com informação. Por ter sido feito em 2018, o stand-up Great America (América Grande) é bem político e retrata como é a experiência do negro em um país governado por Trump, depois de oito anos de Barack Obama na Casa Branca.
Williams deixa claro que a atual gestão tenta desmerecer tudo o que Obama fez, sem dar qualquer crédito ao político. Ele zomba da CNN e de outros veículos de comunicação que erraram ao não projetar uma vitória de Trump. Para o comediante, os brancos sabem bem esconder um segredo: "A gente não sabia o que eles estavam tramando até começarem a mostrá-los na fila para votar. Todos [os brancos] pareciam que estavam escondendo algo".
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