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EQUIPES ACUADAS

Ataques ao jornalismo extrapolam barreira virtual e atrapalham trabalho ao vivo na rua

REPRODUÇÃO/TV GLOBO/SBT

Montagem de fotos com os repórteres Renato Peters, da Globo, e Amanda Campos, do SBT

O repórter da Renato Peters, da Globo, e Amanda Campos, do SBT, tiveram trabalhos interrompidos na rua

DANIEL CASTRO e VINÍCIUS ANDRADE

Publicado em 16/4/2020 - 5h24

Em um intervalo de apenas cinco dias, equipes de reportagem de três diferentes emissoras tiveram o trabalho interrompido de forma brusca enquanto passavam informações ao vivo na rua. O ataque ao jornalismo ultrapassou a barreira do virtual nas redes sociais e começou a deixar repórteres apreensivos durante atuações externas.

As equipes da Globo foram as mais acuadas --três desde sexta-feira (10). O primeiro caso aconteceu com o repórter Renato Peters, que teve o seu microfone bruscamente arrancado das mãos por uma mulher que gritou "A Globo é um lixo e [Jair] Bolsonaro tem razão".

O jornalista não reagiu ao ataque. No estúdio do SP1, o apresentador César Tralli parou a transmissão e se desculpou com os telespectadores. Nesse mesmo telejornal, mas na última terça (14), a repórter Mariana Aldano teve o seu trabalho interrompido por dois homens que saíram da fila de uma agência bancária na cidade Francisco Morato, na Grande São Paulo, e começaram a gritar "Globo lixo".

Rapidamente, a imagem foi cortada para Tralli, que estava assustado no estúdio, mas deu sequência normalmente ao telejornal. Em vídeo feito por uma pessoa que estava no local, é possível ver que homens continuaram xingando os funcionários da Globo mesmo depois que eles interromperam os trabalhos. Acuados, eles não reagiram.

Imagens mostram que Mariana Aldano e sua equipe, com cinegrafista, um auxiliar e um homem de camisa branca, que aparentava fazer a segurança, foram intimidados e impedidos de trabalhar. Além de "Globo lixo", eles gritaram "vaza".  Assista ao vídeo abaixo:

No mesmo dia do ataque a Renato Peters, a repórter Sabina Simonato também foi interrompida enquanto passava informações em um link para o Jornal Hoje. Um homem começou a bater palmas e gritou contra a emissora.

"Eventos como esse atrapalham o trabalho dos repórteres, que estão cumprindo a importante missão de informar. A Globo entende que protestar é um direito do cidadão, sempre que dentro da legalidade. A emissora repudia qualquer tipo de violência e aproveita para reiterar que cobre os fatos com isenção e profissionalismo, e que assim continuará a fazer o seu trabalho", reagiu a Globo em nota.

De acordo com funcionários do Jornalismo da emissora ouvidos pelo Notícias da TV, a ira contra as equipes é consequência da cobertura crítica que a emissora tem feito da (falta de) atuação do presidente Jair Bolsonaro na crise do coronavírus.

Outro agravante para a irritação de bolsonaristas, de acordo com as fontes, foi a entrevista de Luiz Henrique Mandetta para o Fantástico no último domingo (12). O ministro da Saúde voltou a ir na contramão de Bolsonaro e defendeu as medidas de isolamento social, reforçando que o governo federal deveria ter um só discurso. A entrevista ajudou a aumentar a indisposição do presidente com Mandetta, que continua ameaçado no cargo.

Motivações políticas

A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) acredita que os ataques ao trabalho de equipes de reportagem "encontram eco em constantes declarações do presidente da República contra a imprensa e contra os jornalistas. Monitoramento da Federação aponta o número de 141 ataques de Jair Bolsonaro à imprensa e aos profissionais, apenas no primeiro trimestre do ano --portanto, mais de um ataque por dia."

"Apenas no contexto do novo coronavírus, foram 21 ataques ao Jornalismo em março. O episódio da última sexta-feira [com Renato Peters] deixa evidente que o clima de beligerância do presidente contra jornalistas incentiva intimidação e violência contra os profissionais que apenas estão fazendo seu trabalho", defende a Fenaj, em nota.

No entanto, não são apenas os apoiadores de Jair Bolsonaro que atrapalharam o trabalho da imprensa. Na quarta (15), durante o matinal Primeiro Impacto, do SBT, a repórter Amanda Campos teve o seu link invadido por um homem com uma camiseta do PCO (Partido da Causa Operária) e com um jornal sindical na mão. "Fora, Bolsonaro", gritava ele.

"Márcia, me desculpa, tem bastante gente sem educação atrapalhando o trabalho dos jornalistas nas ruas", desabafou a repórter para a apresentadora Márcia Dantas. "Ele está atrapalhando o trabalho da repórter, tenha respeito pelo nosso trabalho, pelo trabalho da imprensa. A gente está se arriscando aqui, arriscando nossa vida pra levar informação", disse a âncora do Primeiro Impacto. Assista:

Na terça-feira (14), um pedestre invadiu um link da TV Gazeta e deixou o jornalista Luciano Penteado constrangido. O repórter do Jornal da Gazeta foi interrompido durante entrada ao vivo na avenida Paulista enquanto falava sobre o isolamento social. Neste momento, um rapaz passou na frente da câmera e gritou: "Tudo mentira". Assustado, Penteado rapidamente contornou a situação embaraçosa. Veja:

Presidente da Fenaj, Maria José Braga reforça o repúdio à violência e ao desrespeito com o trabalho jornalístico. "Essa nova modalidade de violência é impactante porque tem uma interrupção abrupta do trabalho que está sendo feito na rua. As empresas precisam criar formas de proteger esses profissionais e evitar de mandar apenas o câmera e o repórter para a rua, já que muitas vezes o repórter não vê se alguém está chegando naquele momento. O ideal é ter mais gente integrando essas equipes."

"Nós precisamos que a sociedade também se posicione e repudie esse tipo de violência, diga não ao ataque ao jornalismo", pede a jornalista.

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