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REPRODUÇÃO/TVMS
Veruska Donato em seu programa na Record do MS: jornalista processa Globo e denuncia etarismo
Uma das principais repórteres da Globo SP durante 21 anos, Veruska Donato entrou com uma ação na Justiça do Trabalho contra a líder de audiência. A jornalista alega que sofreu assédio moral para alcançar o padrão de beleza imposto pela empresa, o que a fez desenvolver síndrome de burnout. Se condenada, a TV poderá ser obrigada a pagar R$ 13 milhões.
Além disso, Veruska também pede reconhecimento de vínculo empregatício, já que deu expediente como PJ (Pessoa Jurídica) durante 17 anos, entre 2002 e 2019. A Globo só assinou sua carteira nos dois últimos anos. Por isso, a jornalista quer os direitos trabalhistas do período em que não era registrada.
O Notícias da TV teve acesso exclusivo ao processo, protocolado na última terça-feira (31) na 37ª Vara do Trabalho de São Paulo. O documento conta com 33 páginas, entre pedidos e provas anexados pelos advogados da jornalista, e mostra que Veruska Donato não pediu demissão da empresa em 2021, como foi informado à época, e sim foi demitida apenas cinco dias após retornar de um afastamento.
Exausta pela cobertura da pandemia, pelas cobranças da chefia por produtividade e pela pressão estética, Veruska desenvolveu burnout. O distúrbio emocional é caracterizado por sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultantes de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.
No segundo semestre daquele ano, após exame no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), a repórter precisou ser afastada durante 77 dias porque ficou comprovada "incapacidade para o trabalho", de acordo com o documento do órgão público obtido pela coluna. O afastamento durou até 28 de outubro de 2021, uma quinta-feira. Cinco dias depois, em 3 de novembro, Veruska foi desligada sem justificativa pela emissora.
Na Justiça, os advogados da jornalista acusam a TV de prática ilegal por demiti-la logo após voltar da licença. A lei trabalhista prevê estabilidade de um ano em caso de afastamento por doença ocupacional.
"Em 03/11/2021, a reclamada [Globo] demitiu a reclamante [Veruska Donato] sem justa causa ao ignorar o período da garantia de emprego dos 12 meses que se encontrava a reclamante em razão da doença laboral adquirida", diz a defesa de Veruska.
Em outros pontos da ação, Veruska Donato e seus advogados apontaram que chefes da Globo fizeram fortes cobranças sobre o trabalho e o visual da jornalista. Foram apresentados como prova dois e-mails enviados por Cristina Piasentini, diretora de Jornalismo da Globo em São Paulo entre 2008 e 2020, e Ana Escalada, então chefe de Redação e sucessora de Cristina no cargo de direção.
Em uma longa mensagem direcionada a repórteres, principalmente mulheres, em 2017, Cristina Piasentini cobrou que usassem roupas comportadas e que não marcassem o quadril ou "barriguinhas persistentes". O documento também recomendava alimentação balanceada para evitar ganho de peso e orientava o cuidado com unhas.
Veruska alega no processo que se sentia pressionada a alcançar o padrão e que chefes de Redação e equipe de figurino da Globo começaram a criticar o jeito que a jornalista aparecia no ar. Isso a fez desenvolver depressão e medo de perder o emprego por causa da aparência.
"No caso da reclamante, que se aproximava dos 50 anos de idade (após 20 anos de trabalho), a situação se agravou nos últimos anos da contratualidade, por conta do etarismo praticado pelos prepostos da ré, havendo críticas de chefes e do setor de figurino do jornalismo quanto a qualquer flacidez, ruga ou gordura considerada fora do lugar", diz a defesa de Veruska no processo.
Após sua saída da Globo, em entrevista à jornalista Luciana Liviero, Veruska chegou a comentar como se sentia com a pressão estética. "Para muita gente, para o Brasil, o velho não é bonito. E uma mulher de 50 anos na televisão não é legal. A TV é cruel. E as TVs investem em algo errado: eles querem gente jovem para rejuvenescer a audiência. Isso não é certo", disse ela.
Em 2019, a situação de Veruska Donato estava cada vez mais complicada. Ela havia perdido, três anos antes, o quadro Sala de Emprego, do Jornal Hoje, e passou a ser criticada por "não brigar pelas pautas" que gostaria de fazer para o SP2, jornalístico local da Globo na capital paulista.
A chefe de Redação teria tirado a jornalista de uma pauta alegando que Veruska não demonstrou interesse suficiente em fazer a reportagem.
"Se você estivesse na reunião do SP2, você poderia brigar pelas pautas que quer fazer. É desse envolvimento que te falei naquela conversa. Você pode ver que o Wallace Lara e o César Galvão estão sempre lá, brigando pelas pautas que eles querem fazer", teria dito Ana.
Veruska pediu desculpas e alegou ter entendido que a reportagem já havia sido aprovada, ou seja, que não precisaria "brigar" para executá-la.
A Justiça já marcou uma audiência para que Veruska Donato e a Globo se encontrem no tribunal, o que deve acontecer em 27 de março. Segundo apurou a coluna, a tendência é que a emissora peça um novo laudo para constatar que Veruska desenvolveu a síndrome que causou sua saída da empresa.
Procurados pelo Notícias da TV, os advogados Carlos Daniel Gomes Toni e Kiyomori Mori, que representam Veruska Donato, informaram que não se manifestam sobre processos em andamento. A jornalista não respondeu à tentativa de contato por e-mail. A Globo também não se pronunciou, mas não costuma comentar ações em andamento.
Atualmente, Veruska Donato se mudou para Campo Grande (MS), sua cidade natal. Ela é contratada da TVMS, afiliada da Record no Mato Grosso do Sul, e comanda o programa Balanço da Manhã.
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