MAIS UMA BAIXA
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Carlos Alberto Sardenberg no Jornal da Globo: comentarista deixa emissora após 24 anos de trabalho
Um dos principais comentaristas de economia da Globo, Carlos Alberto Sardenberg vai deixar a emissora após 24 anos. Com 53 anos de carreira, ele optou por reduzir a rotina de trabalho para aproveitar um pouco a vida. Com isso, ele não fará mais a coluna que comanda nas segundas e quintas no Jornal da Globo --e também não irá mais participar do Em Pauta e do Jornal das 10, na GloboNews.
Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, prestou internamente uma homenagem a Sardenberg. O executivo relembrou a estreia dele na TV aberta em 2006, após fazer sucesso no canal de notícias do grupo, no qual trabalhava desde 1998.
"É difícil apontar a qualidade mais marcante de Carlos Alberto Sardenberg. Para uns, é a clareza sem afetação com que traduz o economês. Para outros, é a simpatia e delicadeza com que trata todos, no ar ou nos bastidores", diz.
A coluna apurou que Sardenberg já havia conversado com a direção da Globo no ano passado, assim que voltou ao expediente após se vacinar da Covid-19, para desacelerar no trabalho. Ele seguirá contratado do grupo, com participações semanais na CBN e com uma coluna no jornal O Globo.
Carlos Alberto Sardenberg tem 75 anos e 53 de carreira. Começou em 1969, na revista Veja, com passagens por O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil. Na televisão, sua estreia foi em 1992, como comentarista de economia no SBT, dentro do Aqui Agora (1991-1997).
Ele foi diretor de jornalismo da Band entre 1993 e 1997, quando fez uma dupla notória na função com Fernando Mitre. Chegou a GloboNews em 1998, a convite de Alice Maria, ex-chefe do Jornal Nacional, que era responsável pelo canal até então.
Além de comentarista, Sardenberg apresentou o Jornal das 10 por um curto período em 2010. Depois, voltou aos comentários. Ele era presença constante no telejornal noturno comandado por Aline Midlej e no Em Pauta, programa de debates apresentado por Marcelo Cosme.
Leia o texto de Ali Kamel na íntegra:
É difícil apontar a qualidade mais marcante de Carlos Alberto Sardenberg. Para uns, é a clareza sem afetação com que traduz o economês. Para outros, é a simpatia e delicadeza com que trata todos, no ar ou nos bastidores. Para outros tantos, é a independência com que aponta erros e acertos de governos de todas as vertentes.
O “Sarda”, como alguns colegas mais próximos o chamam, é uma unanimidade entre nós. É inevitável, portanto, essa homenagem que presto a ele ao informar que, hoje, com suas participações de logo mais no Em Pauta, no J10 e no JG, Sardenberg estará se despedindo da Globo.
Aos 76 anos de vida, 53 de carreira e uma rotina de quatro empregos (JG, Gnews, CBN e O Globo), decidiu desacelerar. Deixa a TV e vai continuar no rádio e na coluna de jornal.
A qualidade de seu texto vem de longe. Nosso colega William Bonner costuma dizer que em 1989, quando se mudou para o Rio, logo se impressionou com clareza da coluna de Sardenberg que aprendeu a admirar quando lia o Jornal do Brasil. E que, portanto, não ficou surpreso quando viu Sardenberg traduzindo a economia diante de um telão do Jornal da Globo a partir de 2006.
Ali no JG, Sardenberg foi o primeiro de nós a usar um monitor sensível ao toque para ilustrar seus comentários, hoje uma tecnologia presente em muitos telejornais da Globo e da Globonews. Na coluna de economia, duas vezes por semana, Sardenberg analisava os desafios econômicos enfrentados pelo Brasil.
O texto claro passou a contar com o auxílio de gráficos e ilustrações sempre a serviço da compreensão, como ele mesmo contou ao Memória Globo. “Procuro fazer tecnicamente correto de acordo com a doutrina, a ciência econômica, mas falando de um modo que as pessoas entendam. Um grande avanço foi o desenvolvimento de gráficos.” Nos comentários de Sardenberg, os países menos corruptos ganharam notas ruins, vermelhas, para assinalar seu subdesenvolvimento.
Elaborou também um gráfico de bolinhas que mostrava que, embora tivesse PIB de país rico, o segundo maior do mundo, a China, não conseguira PIB per capita de nação desenvolvida. Tudo cabia nos seus comentários, da viabilidade econômica das viagens espaciais à inflação do tomate no supermercado.
O comentarista que o público da TV aberta conheceu em 2006 já fazia sucesso na Globonews em 1998, quando juntou-se ao canal a convite da então diretora, Alice-Maria. Estreou no canal participando como repórter das diversas edições diárias do “Em Cima da Hora” e do “Jornal das 10”. Entrevistou empresários e profissionais do mercado financeiro.
Logo se destacou e passou a fazer parte da equipe de comentaristas do canal. Adaptou-se muitíssimo bem à nova função e passou a brilhar também com suas análises econômicas especialmente no J10. Veio, então, em 2009, a proposta de uma tripla ancoragem no J10, com André Trigueiro, no Rio e Carlos Monforte, em Brasília. Mais uma aposta certeira. Deu ao J10 a justa temperatura do maior centro econômico do país, com relevância e simplicidade.
Foi fundamental na equipe que se formou para a criação de um outro produto do canal: o “GloboNews Em Pauta”, jornal que surgiu em 2010 com uma proposta diferente na grade de programação: os principais assuntos do dia discutidos de forma diferente e descontraída, uma espécie de mesa redonda da GloboNews.
Mais uma vez, Sardenberg se adaptou perfeitamente ao formato, expandindo a área de atuação, comentando política e comportamento, além da economia. Versatilidade que a gente acompanha também na CBN na hora do almoço.
Entre as coberturas históricas das quais participou na GloboNews, vale destacar a recente alta dos combustíveis neste difícil ano de 2022, a crise mundial no mercado imobiliário, em 2008, e os impactos da pandemia da Covid-19 na saúde financeira do Brasil. Apesar da fala mansa, da leveza e da serenidade, é firme quando necessário.
Foi assim quando analisou o atraso do Brasil na busca por vacinas em pleno recrudescimento dos casos da doença no Brasil, em dezembro de 2020, o que poderia conter o agravamento da crise econômica já instalada. Foi enfático durante comentário no “Em Pauta”: “Não temos a vacina. E também estamos começando a retirar o auxílio emergencial. Então, estamos numa situação dramática. Temos o pior dos dois problemas".
Com a mesma firmeza, tratou da aprovação da PEC dos precatórios, em 2021, que dribla o teto de gastos furando o limite de despesas. Segundo a análise precisa de Sardenberg, uma combinação perigosa para a economia, que cria uma “bagunça na administração pública”.
Ao mesmo tempo, tinha a dose certa de acidez quando o assunto permitia. Como quando, no “Jornal das 10”, falou sobre a escalada da inflação em 2022: “A inflação vai se espalhando. E, quando a gente fica se perguntando qual é a principal causa da inflação, o economista argentino Roberto Frenkel costumava dizer: ‘É a mesma coisa de você chegar diante de um corpo crivado de balas e tentar descobrir qual foi o tiro fatal.’ Ou seja: você não vai achar nunca.”
Durante a pandemia de Covid, Sardenberg teve de se afastar da redação, mas seus comentários seguiram firmes de casa, tanto na Globonews quanto no JG. Quando retornou ao trabalho presencial, abraçou cada colega emocionado. E esse é um ponto que sobressai na saudade que sentiremos.
O Sarda é um colega espetacular, tem sempre uma história engraçada para contar e um olhar fraterno sobre o outro. Um ser humano extraordinário. Pronto para ajudar e compartilhar suas experiências de vida, dentro e fora das redações.
Deixou nossas noites e madrugadas mais leves. E, generoso, continuará a compartilhar conosco o melhor do jornalismo em O Globo e na CBN.
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