Série histórica
Divulgação/ABC
Sheryl Lee em quadro como Laura Palmer em Twin Peaks, uma das imagens mais icônicas da história da TV
JOÃO DA PAZ
Publicado em 8/4/2020 - 5h53
Existe spoiler mais cruel do que dizer quem foi o assassino da mocinha, assim na lata, sem mais nem menos? Pois é, o drama Twin Peaks (1990-1991; 2017), que completa 30 anos nesta quarta-feira (8), foi a primeira série a ter sua grande revelação antecipada, pelo jornal Folha de S.Paulo, o que causou muito ruído na época.
Quem matou Laura Palmer (Sheryl Lee)? Essa pergunta foi o alicerce de Twin Peaks, série que abalou as estruturas da TV americana e mundial há três décadas. A atração policial, com elementos sobrenaturais e muito mistério, se passava na cidade fictícia de Twin Peaks, no Estado de Washington. O detetive Dale Cooper (Kyle MacLachlan), do FBI, e o xerife local, Harry S. Truman (Michael Ontkean), uniram forças para desvendar o crime.
O vaivém da investigação durou duas temporadas. No Brasil, Twin Peaks atraía uma audiência expressiva, exibida pela Globo aos domingos. Em 1991, um mês e meio antes do último episódio da segunda temporada ir ao ar para o público brasileiro, a Folha veio com uma grande reportagem, capa do caderno Ilustrada, que dizia na manchete: "Saiba quem matou Laura Palmer".
"Bob [Frank Silva], uma alma penada com obsessão por facas, matou Laura Palmer". Assim começou o texto assinado pelo jornalista Álvaro Pereira Júnior. De nada serviu o jornal colocar um aviso logo abaixo da manchete, na linha fina: "Não leia o texto abaixo se você não quer saber o mistério da série Twin Peaks". A Folha recebeu uma enxurrada de protestos e levou uma bronca pública.
Caio Tulio Costa, o ombudsman do veículo na época, escreveu um texto compilando cartas (sim, cartas) de vários leitores reclamando do spoiler. O título da coluna de Caio dizia: "Não adianta avisar".
De lá para cá, a mídia cada vez mais se policia sobre spoilers de séries, que diferentemente dos de novela, não são aceitos pela maioria do público. Textos com spoilers de séries costumam vir com avisos e títulos que não entregam tudo.
Reprodução
Reprodução do caderno Ilustrada da Folha de abril de 1991; segredo revelado bem na capa
Em 2017, o canal Showtime pegou a onda de revivals de séries clássicas que tomaram conta da TV americana no meio desta década e escolheu Twin Peaks. Em formato de minissérie, o projeto continuaria a trama encerrada 26 anos antes. Teve os criadores David Lynch e Mark Frost como roteiristas e Lynch na direção de todos os novos 18 episódios.
Também ressuscitaram os personagens principais, como o agente Dale Cooper, vivido por MacLachlan. Se não faltou nostalgia, sobrou confusão com uma trama complexa que misturou sonhos com realidade e só agradou a intelectuais. O jornal The New York Times sintetizou bem a experiência que foi ver a Twin Peaks ressuscitada: "Que diabos é isso que eu estou assistindo?".
O público não gostou da ideia de trazer Twin Peaks de volta, e isso se concretizou na audiência. A terceira temporada teve média de 267 mil telespectadores nos Estados Unidos, um número baixíssimo mesmo para um canal como o Showtime, que com Homeland chegava ao patamar de 1 milhão de telespectadores por episódio.
Isso fez Twin Peaks não repetir o impacto que tinha conseguido nos anos 1990. A terceira temporada, que no Brasil está disponível na Netflix, passou batida no século 21. Se houve alguma coisa boa, foi a atuação marcante de Naomi Watts, a que mais brilhou em um rol de mais de 200 (!!!) personagens.
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