NOVELA CAIXA-PRETA
Reprodução/TV Globo
Isis Valverde em cena como a Betina de Amor de Mãe: novela que deveria parar o Brasil não vira assunto
LUCIANO GUARALDO e MÁRCIA PEREIRA
Publicado em 19/2/2020 - 5h49
A Globo armou uma verdadeira operação de guerra para evitar o vazamento de spoilers de Amor de Mãe: agora, os atores e a equipe não têm mais os capítulos em papel, apenas em um aplicativo de celular que não pode ser reproduzido ou espalhado. A caixa-preta, no entanto, tem prejudicado a história de Manuela Dias. Com escassas publicações sobre o que vai acontecer na novela, a produção repercute menos do que a flopada Segundo Sol e sofre para bater a audiência da novela das sete.
Com um elenco de peso e no embalo de A Dona do Pedaço, a trama até que estreou bem: marcou 35,4 pontos na Grande São Paulo em seu primeiro capítulo, índice maior do que o de sucessos recentes como O Outro Lado do Paraíso (35,1) e A Força do Querer (33,1). Depois disso, porém, foi ladeira abaixo --a novela atualmente tem média de 29,3 pontos, abaixo da meta da Globo para o horário em que é exibida.
Ainda mais preocupante é o fato de que a trama das nove, que deveria ser o principal produto da TV brasileira, durante 24 de seus 73 capítulos, ficou atrás de outros dois programas, Bom Sucesso (que estava em sua reta final) e o Jornal Nacional. Em 24 de dezembro, ela foi trocada pela ceia de Natal e registrou apenas 17,0 pontos, uma das piores audiências da história da emissora no horário.
Mas a Globo acendeu o sinal de alerta e interveio na novela --e não apenas pelo ibope. Está preocupada com o fato de que a história da autora novata tem passado em branco pelo público. Ela não rende conversas de bebedouro nem desperta interesse pelo que vai acontecer nos próximos capítulos.
Na internet, o descaso é o mesmo. A pedido do Notícias da TV, o Google Brasil fez um levantamento da repercussão das últimas seis tramas das nove em seus primeiros 90 dias no ar. Amor de Mãe supera apenas O Sétimo Guardião, fracasso histórico que resultou na demissão de Aguinaldo Silva.
O atual carro-chefe da Globo fica atrás dos hits O Outro Lado do Paraíso, A Dona do Pedaço e A Força do Querer. Perde até para a esquecida Segundo Sol, a sonolenta declaração de amor à baianidade que João Emanuel Carneiro cometeu em 2018.
O que as outras novelas tinham em comum? A Globo não se preocupava com o vazamento de spoilers. Todo mundo sabia como Maria da Paz (Juliana Paes) recuperaria sua fábrica, como Clara (Bianca Bin) se vingaria de seus algozes e como seria a readequação de gênero de Ivan (Carol Duarte). E, ao contrário do que ocorre nas séries, os noveleiros cresceram com a cultura de saber o que vem por aí. Fizeram questão de assistir àquilo que já tinham lido sobre.
É só observar o que acontece com Avenida Brasil, atualmente reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. A trama que fez o Brasil parar em 2012 não tem nenhuma novidade, mas ainda assim o público quer saber o que vai acontecer nos próximos capítulos --não por acaso, a novela é a segunda mais popular no Google entre as tramas atualmente no ar, à frente das inéditas Salve-se Quem Puder e Éramos Seis.
Como definiu a colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, o vazamento de spoilers é benéfico para todos. Ele ajuda a gerar buzz e não espanta o público, que quer ver na telinha as cenas empolgantes que leu antes no site de televisão ou na revista de fofocas. Nessa operação de guerra da Globo para manter os segredos de Amor de Mãe, o tiro está sendo disparado no próprio pé.
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