DUELO NA IGREJA
FOTOS: REPRODUÇÃO/NETFLIX
Padre Paul Hill (Hamish Linklater) em Missa da Meia-Noite; sacerdote não é o mais carismático da Igreja
Uma das "queridinhas" do momento, Missa da Meia-Noite tomou de assalto o Top 10 da Netflix no Brasil no último fim de semana com o mistério em torno do padre Paul Hill (Hamish Linklater). Apesar do hype, a série comete um pecado que talvez nem Jesus perdoaria: todo mundo já se divertiu mais vendo os parentes discutirem com a Missa do Galo rolando ao fundo no Natal.
A produção de Mike Flanagan, por trás também de A Maldição da Residência Hill (2018), obviamente, sai em desvantagem já que fica difícil para qualquer sacerdote competir com o carisma do papa Francisco a cada 25 de dezembro. Linklater, porém, até tem os seus momentos para brilhar durante os sermões do pároco da ilha Crooked.
O primeiro deles, aliás, aparece já no segundo episódio que, junto com o primeiro capítulo, dão uma experiência digna da empolgação de qualquer adolescente ateu que foi obrigado pelos pais a comparecer na catequese. Arrastados e cheios de simbolismo, eles talvez sejam a melhor representação do Purgatório já vista na Netflix.
Os telespectadores que conseguirem expiar os seus pecados finalmente vão ser abençoados lá pelo terceiro episódio, quando Paul finalmente começa a colocar as asinhas de fora. Uma reviravolta que, para quem não dormiu no início da história, nem é tão surpreendente assim.
Afinal, Flanagan talvez seja o diretor mais alinhado com a perspectiva da Netflix de produzir um conteúdo capaz de agradar aos algoritmos da plataforma, podendo ser recomendado a quase todos os seus assinantes --da senhora que torceu para Estela (Lavínia Vlasak) ficar com o padre Pedro (Nicola Siri) em Mulheres Apaixonadas (2003) ao fã de snuff movies.
Leeza (Annarah Cymone) na série da Netflix
Missa da Meia-Noite chega a ser irritante ao repetir a todo momento as alegorias e exibir à exaustão objetos que vão ser importantes na trama, entregando praticamente tudo mastigado para o espectador.
Não é necessário ser um Sherlock Holmes para chegar ao fim dos primeiros episódios já desconfiado que o cálice de vinho, que passa de boca em boca na comunhão, tem um papel fundamental na narrativa. O copo chega a ter mais tempo de tela em certos momentos do que o próprio protagonista, Riley (Zach Gilford).
Com a virada, a série até ganha um novo fôlego que lembra os tempos áureos de American Horror Story, em que Ryan Murphy colocava vários temas dentro de um saquinho e simplesmente sorteava às cegas quais deles iria misturar em mais uma temporada --deixando o público tão perdido quando os alienígenas de Asylum (2012).
A trama até faz uma boa escolha ao trazer à tona o fundamentalismo religioso, mas peca ao esquecer que o público já viu pelo menos uma penca de produções sobre o assunto. Algumas cenas chegam a ser bastante parecidas ao recente Rogai por Nós (2021), que bebe na mesma fonte de Flanagan --leia-se Stigmata (1999), que está no catálogo do concorrente Amazon Prime.
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