Vitória Strada enterra mocinhas choronas com protagonista histérica e caricata

A menos experiente das protagonistas de Salve-se Quem Puder, Vitória Strada nem teve tempo de mostrar serviço no papel e já foi completamente bombardeada pelas críticas. Uma injustiça. Apesar de histérica e caricata, Kyra/Cleyde, a decoradora destrambelhada, é, sem dúvida, o melhor elemento do trio central da novela das sete da Globo.

Ela é um misto das outras duas protagonistas: guarda o deslumbramento e a afetação de Alexia (Deborah Secco), com um tom histriônico um pouco acima, e a doçura de Luna (Juliana Paiva).

Não à toa, suas cenas com as crianças Queen (Alice Palmar) e Mosquito (Ygor Marçal) são carregadas de ingenuidade e cumprem o apelo infantil da trama --aqui cabe um parênteses: os preparadores de elenco da emissora deveriam prestar mais atenção à dupla infantil do folhetim. 

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Ainda em comparação com as outras donas da história, Kyra é mais desafiadora na carreira da intérprete do que as atuais personagens de suas colegas. O talento de Vitória Strada vem sendo lapidado novela após novela, e o público pode acompanhar sua trajetória sem se decepcionar. 

Com um histórico de mocinhas choronas e sofredoras, Vitória Strada encara pela primeira vez a comédia --e com naturalidade. É certo que pesa um pouco nas caras e bocas, mas o exagero é a tônica de Salve-se Quem Puder, e não dá para dizer que ela está fora de tom. Sua composição está justamente no excesso de espalhafato. 

Nota-se na atriz um esforço e uma tentativa de se desvincular e enterrar suas personagens anteriores, coisa que Deborah Secco, por exemplo, pouco faz questão de apresentar --Alexia poderia ser a Darlene, de Celebridade (2003), com o sex appeal da Natalie Lamour, de Insensato Coração (2011). 

Ainda que seja uma personagem cômica, Kyra tem um arco bem desenhado. De início apresentada como alguém fútil, ela agora passa por uma transformação interessante. Aos poucos, revela um lado maternal e romântico que a humaniza, sem deixar de lado o caráter "fora da caixinha" que a caracteriza e gera empatia no público. E o fato de ser completamente atrapalhada dá a ela o tempero da comédia. 

E é em cena com seus pares que Vitória consegue mostrar versatilidade. Com Rafael (Bruno Ferrari), ao emular Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990), transbordou no romantismo. Já com Alan (Thiago Fragoso), o tom é cômico, como quando escorregaram numa gosma, em cena digna de As Loucuras de Jerry Lewis (1983).

O triângulo amoroso que começa a se formar entre eles dá mostras da divisão que pode ser provocada na torcida do público. Salve-se Quem Puder, aliás, é uma novela triangular em vários sentidos. Além do protagonismo pulverizado entre Alexia, Kyra e Luna, todas elas se dividem entre o amor de dois homens.

Para completar a cota romântica, Daniel Ortiz também investirá no triângulo Micaela (Sabrina Petraglia), Bruno (Marcos Pitombo) e Gael (Cirillo Luna). É uma aposta segura: se algum casal não der liga, o autor tem várias cartas na manga para usar. 

Salve-se Quem Puder conquistou o público com sua fórmula de fácil entendimento, e muito do sucesso da trama se deve à versatilidade de Vitória Strada. Agora, quem sabe, poderiam poupá-la das cenas constrangedoras com a galinha Felipa...

Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.