Verdade das entranhas e feridas: Por que assistir Um Lugar ao Sol é preciso?

Sabe aquela patada que você leva quando fala o que vem à cabeça e que te despedaça? E aquelas pessoas que em meia hora de conversa te fazem chorar com suas histórias de vida? Um Lugar ao Sol colocou isso no horário nobre. A novela das nove apresentou uma fórmula bem preparada da realidade com a fantasia, misturando ingredientes que não são novidades para ninguém, mas que promovem muitas sensações, e sobretudo, identificação.

Mas por que assistir ao folhetim de Lícia Manzo é preciso? A novela é a primeira totalmente inédita desde novembro de 2019 no horário nobre. Esses dois anos foram avassaladores não para uma pequena parcela da população. O ano de 2020 tirou todo mundo do lugar; seja pobre ou rico, todos tinham o mesmo inimigo e a mesma bandeira para lutar: a própria vida. 

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Calma! Um Lugar ao Sol não tem máscara, álcool gel ou Covid-19, mas mostrou em seus primeiros capítulos que o elenco, a novelista e a direção estavam imbuídos do desejo de que o antigo normal voltasse a ser realidade.

A pandemia nem existiu para Christian (Cauã Reymond) e companhia, mas afetou quem está por trás deles e resultou em personagens à flor da pele, que se mostram tão feridos a cada fala que fazem o telespectador parar para pensar nas situações que eles vivem. 

Vida cruel

Eles arrancam verdades das entranhas e expõem como qualquer um pode ser cruel consigo mesmo ou com o próximo. Com o pé cravado na vida real, a novela revirou com sutileza e até uma certa doçura como órfãos podem ter vivências extremamente cruéis. "Como alguém pode devolver alguém?", disse um dos personagens ao saber da história de Ravi (Juan Paiva).

Ravi é mais irmão de Christian do que muitos irmãos de sangue são por aí. Como o "gêmeo pobre" pode ser tão azarado? Quem nunca enfrentou uma maré de azar que parecia que nunca iria acabar? Foi assim que Lícia Manzo conseguiu colocar o chamado "mundo cão" na história, mas sem sair matando e espalhando sangue como em um telejornal policial.

Esse talvez seja um dos segredos de como as histórias que ela criou seguram quem está em casa no sofá. São dramas enormes, mas não são só conflitos folhetinescos. Porém, todo enredo também pode ser só "coisa de novela". Tem ação, tem romance do bom e do tipo tóxico, tem gente sonhando com um futuro melhor, tem pai esfregando verdade na cara do filho... 

As entrelinhas

Curiosamente até um dos diálogos que poderia ser apedrejado por ser gordofóbico, com Bárbara (Alinne Moraes) criticando a irmã Nicole (Ana Baird) por comer mais do que o seu médico tinha dito, acabou fazendo o inverso: ninguém é vítima de ninguém, a não ser que se permita.

Na cena, que foi ao ar na última quinta-feira (11), a personagem de Alinne Moraes cortou as verdades que a parente soltava dizendo que ela só podia comer duas colheres de salada de fruta por dia. O diálogo à mesa continuou com as duas saindo de casa.

Bárbara revelou que iria atrás de Renato (Cauã Reymond), o namorado que lhe havia dado o cano e desligado o telefone na sua cara. A ruiva, então, disparou: "Bárbara, não eram só duas colheres? Duas colheres de falta de amor próprio por dia".

O capricho está até nas entrelinhas. Sobretudo, as tramas de Um Lugar ao Sol mostraram que o "astro rei" não brilha para todos do mesmo jeito.

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