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Record mira em Gênesis, mas 'adapta' Livro de Jó sem 'querer querendo'

REPRODUÇÃO/RECORD

Close up do ator Felipe Roque como Ibbi Sin em cena de Gênesis, ele está com uma coroa de louros banhada de ouro e usa um cavanhaque

Felipe Roque interpreta Ibbi Sin em Gênesis; folhetim bíblico perdeu quase quatro pontos de audiência

DANIEL FARAD

vilela@noticiasdatv.com

Publicado em 10/3/2021 - 6h50

Depois de um início avassalador, Gênesis perdeu quase quatro pontos de média de audiência nas últimas seis semanas. Com uma trama morna em sua quarta fase, Ur dos Caldeus, a novela bíblica da Record já não conta com o brilho dos efeitos especiais e testa o público com seus números musicais e elenco pouco afiado --capaz até mesmo de fazer Jó perder a paciência.

Aos que fugiram da escola dominical ou da catequese, e mesmo os que não professam qualquer tipo de fé cristã, o personagem bíblico tem a sua história contada no Velho Testamento. Ele se torna um exemplo de fidelidade a Deus ao ser testado de todas as maneiras possíveis pelo diabo, que não consegue fazê-lo blasfemar contra o Criador.

O sete-peles chega a lhe tirar todas as riquezas, matar cada um dos seus filhos e cobrir o seu corpo com chagas e lepra, a ponto do pobre homem raspar as feridas com cacos de telha em praça pública. Nenhum tormento é capaz de fazê-lo se voltar contra o Senhor, que restituiu cada uma de suas perdas ao final da parábola.

O coisa-ruim talvez teria um pouco mais de sucesso se obrigasse Jó a assistir a atual etapa da produção, que vai dar um salto de 17 anos nesta quarta (10) em busca de melhores índices de audiência. Vitor Novello assumirá o protagonista Abrão para passar o bastão posteriormente a Zécarlos Machado, quando oficialmente haverá uma troca de fases.

A trama de Camilo Pellegrini, Raphaela Castro e Sthefanie Ribeiro se mostrou burocrática e sonolenta, com poucos acontecimentos relevantes à frente para causar impacto nos números. O dilúvio, a arca de Noé (Oscar Magrini) e a destruição da Torre de Babel, por exemplo, foram fundamentais para que a história anotasse os seus recordes.

Gênesis alcançou 15,8 pontos nos primeiros cinco capítulos e, na semana passada, atingiu apenas 12 de média --3,8 pontos a menos. O resultado não é o pior da série histórica, já que o recorde negativo fica por conta do período entre 1º e 5 de março, em que alcançou 11,6 de audiência.

A Record parece acomodada com os índices na casa dos dois dígitos, um feito que seus folhetins bíblicos não alcançam há tempo, e parece pouco inclinada a fazer mudanças. A pandemia do coronavírus (Covid-19) também dificulta qualquer reação mais imediata, já que boa parte da história está gravada e à espera de ir ao ar.

Os consecutivos atrasos no lançamento também deixaram Gênesis com uma boa frente e pouca margem de manobra. Uma intervenção para tirar os números musicais, que enchem linguiça e rendem reclamação nas redes sociais, significaria adiantar a produção das fases finais e diminuir o número total de capítulos --uma carta fora da manga para a emissora de Edir Macedo.

A ofensiva da Record contra a Globo para roubar parte de seu elenco jovem também não teve o efeito esperado. Os rostos são conhecidos, mas os atores ainda estão muito crus e com pouco estofo para lidar com um texto de época e até mesmo teatral --o tom farsesco toma conta de núcleos como o do rei Ibbi-Sin (Felipe Roque) e da rainha Enlila (Maria Joana).


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