ANGELA CHAVES
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Clotilde (Simone Spoladore) em Éramos Seis; personagem sofreu diversas alterações em remake
DANIEL FARAD
Publicado em 20/3/2020 - 5h41
Autora de Éramos Seis, Angela Chaves não teve medo de usar a carta branca que ganhou de Silvio de Abreu, diretor de Dramaturgia da Globo. Ela abusou de tesouradas e mudanças substanciais na história que teve como base justamente os roteiros que o seu chefe escreveu ao lado de Rubens Ewald Filho (1945-2019) na adaptação do romance clássico de Maria José Dupré (1898-1984), exibida pelo SBT em 1994.
A roteirista foi escolhida a dedo pelo próprio todo-poderoso dos folhetins da Globo para a missão de mexer sem dó no texto de uma de suas obras de maior repercussão. A aposta foi bastante arriscada, já que os dois têm estilos bem diferentes de escrita, quase diametralmente opostos.
Em suas comédias, Silvio é conhecido por cenas histriônicas, como a clássica guerra de comida entre Charlotte (Fernanda Montenegro) e Otávio (Paulo Autran) na primeira versão de Guerra dos Sexos (1983). Mesmo em produções dramáticas, ele costuma pontuar os acontecimentos com frases de efeito como o "pobreza pega" que Bia Falcão (Fernanda Montenegro) emendou em Belíssima (2003).
O remake foi o primeiro trabalho solo de Angela na emissora depois dos percalços de Os Dias Eram Assim (2017), que ela dividiu com Alessandra Poggi. Com um texto simples, porém tocante, a autora privilegia os diálogos e até quebra regras dos folhetins ao pontuar suas histórias com inúmeros momentos de silêncio --centrados sobretudo nos dramas de Clotilde (Simone Spoladore).
A novelista conseguiu dar uma cara própria à sua versão de uma história que já foi contada à exaustão. Seus diálogos também fugiram do folhetinesco para beber na crônica do cotidiano com referências não tão comuns às novelas, como os contos da canadense Alice Munro ou os filmes do japonês Yasujiro Ozu (1903-1963).
Por outro lado, Angela derrapou tanto na modorrenta primeira fase da trama quanto no abuso de alguns clichês. Clotilde e Inês (Carol Macedo), por exemplo, repetiram a história da virgem que engravida em uma noite de amor proibido com diferença de poucas semanas.
Confira cinco mudanças que Angela Chaves fez no texto de chefão da Globo:
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Clotilde (Simone Spoladore) enfrenta os vizinhos preconceituosos na novela das seis da Globo
A personagem de Simone Spoladore foi um dos papéis que mais sofreu alterações tanto em relação ao livro original quanto aos roteiros de Abreu e Ewald Filho. A irmã de Lola (Gloria Pires) ganhou contornos sonhadores, em contraponto aos pés no chão da solteirona interpretada por Jussara Freire no SBT.
Apesar de passar boa parte de suas cenas calada, para marcar o seu esforço em reprimir o amor por um homem desquitado, a paixão de Clotilde por Almeida (Ricardo Pereira) se transformou na grande história de amor da produção.
REPRODUÇÃO/TV GLOBo
Justina (Julia Stockler) durante uma sessão de hipnose no remake de Angela Chaves: traumas
Uma mudança delicada, e que quase passou despercebida, foi a ausência de uma cena em que Justina (Julia Stockler) se livra de seu distúrbio mental, como acontecia em outras versões de Éramos Seis. Anteriormente, ela se tornava uma artista plástica famosa e se livrava de seu trauma como num passe de mágica.
O texto de Angela frisou que os problemas da personagem de Julia Stockler não estavam em seu transtorno do espectro autista, mas na incapacidade de Emília (Susana Vieira) em lidar com a própria filha. A jovem terminará o folhetim com todas as suas singularidades respeitadas e feliz ao lado de Adelaide (Joana de Verona).
PAULO BELOTE/TV GLOBo
Lola (Gloria Pires) se casa com Afonso (Cássio Gabus Mendes) no folhetim: desfecho feliz
A matriarca da família Lemos precisou de 77 anos e quatro adaptações televisivas para escapar da "tragédia anunciada" que a assombrava desde os primeiros capítulos. Lola até passará alguns episódios abandonada no asilo de madre Joana (Nicette Bruno), porém enfim conseguirá o seu final feliz ao aceitar o pedido de casamento de Afonso (Cássio Gabus Mendes).
ISABELLA PINHEIRO/GSHOW
Shirley (Barbara Reis) morre após se infectar pela bactéria do tifo: maldades pagas com a vida
Angela pode ter abusado de alguns clichês, mas pelo menos não entrou na furada de colocar a vida como a grande vilã da novela. Aos 30 anos, Barbara Reis ganhou duas missões ingratas da autora para ocupar o posto de principal antagonista da trama. Além de arrancar Inês dos braços de Afonso na primeira fase, ela teve a tarefa de separar o casal protagonista durante a segunda etapa da produção.
Odiada nas redes sociais, Shirley pagou as suas maldades com a própria vida. A vilã morreu sozinha depois de se contaminar com a bactéria do tifo em meio à sua obsessão de reatar o romance com o quitandeiro.
REPRODUÇÃO/TV GLOBo
Durvalina (Virgina Rosa) se emociona durante revelação da produção global: maternidade
A trama de Durvalina (Virginia Rosa) é uma das que mais dialoga com os avanços e retrocessos da sociedade brasileira desde a última versão, em 1994. A empregada personificou as mulheres que, quase um século depois da história original, continuam abrindo mão de seus filhos para se dedicar aos herdeiros dos outros, colocando dinheiro em casa com seu trabalho de babá.
A funcionária do armazém ganhou o direito de ter uma narrativa própria e exercer a maternidade que lhe foi negada nas adaptações anteriores. A atriz emocionou o público nas cenas em que descobre ser mãe de Marcelo (Guilherme Ferraz) e ainda terá a sua redenção ao virar estrela do rádio.
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