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Edmara Barbosa

Novelas erram ao ignorar o Brasil rural, diz nova aposta da Globo

Bob Paulino/TV Globo

Edmara Barbosa no lançamento da novela Paraíso, em 2009, que assinou com o pai - Bob Paulino/TV Globo

Edmara Barbosa no lançamento da novela Paraíso, em 2009, que assinou com o pai

JANAÍNA NUNES

Publicado em 15/10/2015 - 6h29

Escolhida pela Globo para escrever a novela que substituirá A Regra do Jogo, Edmara Barbosa 54 anos, acredita que as tramas atuais estão derrapando no Ibope porque têm apostado em uma realidade extremamente urbana e que só diz respeito a quem vive no eixo Rio-São Paulo. Sua fórmula? Fugir para o Nordeste e investir em uma "saga", com disputa de terras, brigas de famílias e amores proibidos.

“Na minha opinião, falta abordar mais a história do Brasil,  mostrar o interior do país, saindo um pouco das metrópoles. Falar do Brasil rural. Tem de se discutir e estar antenado com a realidade, mas novela é ficção. Sua função é contar uma história, trazer mudança de pensamento, entreter, exibir as diversas paisagens de uma região”, diz, em entrevista ao Notícias da TV.

A partir de abril, Edmara estará ao lado do filho assinando a principal produção do horário nobre da Globo, Velho Chico, uma trama ambientada nas margens do rio São Francisco, no interior da Bahia. A novela, sem ser "panfletária", irá levantar uma bandeira ecológica.

Será a estreia de Edmara no horário nobre. A rigor, será sua estreia como autora de uma trama original _até hoje, ela apenas apareceu nos créditos como autora de remakes ou colaboradora do pai, Benedito Ruy Barbosa, 84, que supervisionará Velho Chico. Será a volta da família Barbosa ao horário nobre após 13 anos. Desde Esperança (2002), os Barbosa só fazem novelas das seis, como Paraíso (2009) e Meu Pedacinho de Chão (2014), ou minisséries (Mad Maria, de 2006).

Edmara com o pai, Benedito Ruy Barbosa, em evento familiar (Foto: Acervo Pessoal)

Edmara herdará a faixa das 21h abalada pelas audiências baixas de Babilônia e, até agora, de A Regra do Jogo. “Não posso dizer que nossa novela será melhor ou que vai salvar o horário. Será uma história tradicional, com brigas entre famílias, com disputa de terras, com amor e com encontros e desencontros. Será uma verdadeira saga”, adianta a escritora.

Originalmente, Velho Chico foi concebida para as 21h, mas a Globo optou por exibi-la às 18h, no segundo semestre de 2016. Há duas semanas, tudo mudou. Velho Chico voltou a ser uma trama das nove. Vai entrar na vaga que seria de Sagrada Família, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari. A Globo corre contra o tempo para começar a gravar Velho Chico em janeiro.

“Acredito que foi uma mudança positiva. [Velho Chico] É uma história densa. Fala de brigas de família, mortes. Se ela fosse ao ar às seis, teríamos de aliviar um pouco a mão. Além disso, nesse horário pouca gente tem tempo de acompanhar uma novela porque está trabalhando. Desde o início, meu pai insistia que Velho Chico deveria ser uma novela das nove", diz. "Também acredito que o fato de a segunda reprise de O Rei do Gado ter feito tanto sucesso tenha pesado na decisão”, afirma.

Desde o início do mês, Edmara e sua equipe têm mergulhado nos capítulos de Velho Chico, enquanto Benedito Ruy Barbosa e o diretor-geral Luiz Fernando Carvalho correm atrás do elenco.

Um rio, mil histórias

“Estou trabalhando mais de 20 horas por dia. Uma coisa é uma novela estrear em agosto de 2016. Outra é ela mudar de horário e estrear seis meses antes. Estávamos em outro ritmo e tivemos de acelerar. Não estou reclamando, mas estamos correndo. Estou no projeto há quatro anos. Nesse meio tempo, percorri o São Francisco cinco vezes. A última vez foi no final de 2014. Fui com meu filho, que não conhecia. São quase 3.000 quilômetros de rio. Não é uma viagem simples”, conta.

Antonio Fagundes em O Rei do Gado: ator deve estar em Velho Chico, que terá elementos da novela de 1996

O rio São Francisco percorre cinco Estados (Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas). “Cada lugar que ele passa tem uma história, uma cultura diferente. Daí nosso trabalho de pesquisa ser extenso. É um dos mais importantes rios do Brasil e da América do Sul, e a maioria dos brasileiros não o conhece. Queremos apresentá-lo aos brasileiros, falar de sua importância e fazer o rio navegar dentro do telespectador, e não só a gente navegar por ele. É um rio essencial que está chegando ao fim”, discursa.

É possível sentir emoção da filha de Benedito ao ouvi-la falar do rio São Francisco. Aliás, é possível até mesmo imaginar algumas cenas. Assim como ocorreu em Pantanal (1990, Manchete), as imagens paradisíacas e de destruição devem permear a história.

“Mas não é Pantanal”, apressa-se em corrigir. “É uma história nordestina, talvez lembre mais Renascer [1993] e O Rei do Gado [1996]. Alguns amigos que leram os capítulos disseram que parecia um texto do Benedito e eu fiquei muito feliz porque é uma novela do Benedito! E é bom que se diga que é um projeto coletivo: meu, do meu pai, do Luiz Fernando Carvalho, que é da região, e do Bruno”, afirma.

Será a primeira vez que o filho de Edmara, Bruno, 28 anos, assinará um folhetim. Os dois já trabalharam juntos em roteiros para o cinema. “Ele é publicitário, trabalhou em algumas agências, mas sempre quis fazer roteiro. Fez um curso nos Estados Unidos e escreve muito bem”, derrete-se a mãe. É a saga dos Ruy Barbosa.


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