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Velho Chico

Globo faz novela para conservadores: ‘Sem sacanagem’, diz autor

Fotos Caiuá Franco/TV Globo

O autor Benedito Ruy Barbosa na festa de lançamento de Velho Chico no último dia 7 - Fotos Caiuá Franco/TV Globo

O autor Benedito Ruy Barbosa na festa de lançamento de Velho Chico no último dia 7

MÁRCIA PEREIRA

Publicado em 13/3/2016 - 5h37

Velho Chico tira os centros urbanos do horário nobre da Globo e coloca no lugar uma história que faz um retrato do sertão nordestino a partir de 1968. A nova novela das nove está sendo escrita para o público conservador, que rejeitou tramas como Babilônia e A Regra do Jogo, suas antecessoras. Tem cenas de sexo, mas somente para ilustrar suas histórias de amor. Tem violência também, mas não o matar por matar. A produção se apoia na guerra de dois rivais defendendo suas terras e ideias: o coronel Jacinto Saruê (Tarcísio Meira) e o capitão Ernesto Rosa (Rodrigo Lombardi). Esse duelo vai atravessar gerações.

"Devemos respeitar o público. Quando se faz uma novela, tem 80 milhões de pessoas assistindo. O autor tem de saber que tem mãe, pai, tio, avô, o diabo a quatro diante da TV. Tem de respeitar essa gente", diz Benedito Ruy Barbosa, supervisor de Velho Chico. O texto é uma história dele, que foi desenvolvida e está sendo escrita por sua filha Edmara Barbosa e seu neto Bruno Barbosa Luperi.

O fio condutor da trama são as histórias de amor de Afrânio (Rodrigo Santoro) e Iolanda (Carol Castro), nos primeiros capítulos, e a de sua filha Tereza (Julia Dalavia) e Santo (Renato Góes) em seguida. Os atores que protagonizam esses romances, seguindo o estilo Romeu e Julieta, mudam no 25º capítulo. Antonio Fagundes assume o papel de Afrânio, e Christiane Torloni o de Iolanda. Camila Pitanga será Tereza na fase adulta, e Domingos Montagner, Santo.

Julia Dalavia (Tereza) e Santo (Renato Góis) se apaixonam na juventude: amor proibido

"O amor é a coisa mais linda do mundo. É bonito isso proliferar em uma sociedade carente de afeto. Tem excesso de violência, excesso de sacanagem na TV, falta bem querer, falta amor. Velho Chico tem histórias que podem parecer ficção, mas são verdadeiras. Já existiram e vão continuar a existir sempre. No dia em que li o capítulo sobre o principal amor da novela, eu chorei", conta Benedito Ruy Barbosa, que volta ao horário nobre após 14 anos, desde Esperança (2002). Ele é autor de 37 novelas, entre elas O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999).

Para o novelista, os folhetins atuais não têm emoção. Por isso, ele diz que o telespectador que sentar no sofá para ver a nova novela das nove vai se sentir aprisionado. "Antes, eu via três, quatro novelas seguidas. Hoje não consigo mais. Não é uma crítica a um ou outro colega, só preciso dizer que resgatar a emoção é necessário. É a emoção que faz o público querer ver o capítulo de amanhã e depois de amanhã", observa o veterano, aos 84 anos.

O começo de tudo

O começo da história mostra um rio São Francisco que não existe mais. Em 1968, as águas do rio eram fartas. Muitas famílias castigadas pela seca foram para as regiões banhadas pelo São Francisco fugindo da fome, da sede, da miséria. A partir de uma lenda, a novela une a história do rio com o foco da trama, o amor. Uma índia chora de saudade de seu grande amor, um guerreiro. Das suas lágrimas, surge a nascente do São Francisco. 

Nessa época, coronel Jacinto já é inimigo declarado do capitão Ernesto Rosa e sonha comprar as terras dele, favorecidas pelas águas do rio. Uma das primeiras cenas de embate dos dois é em uma bodega, onde homens bebem pinga de uma talagada só. A discussão esquenta os ânimos dos rivais, que quase partem para as vias de fato, atirando um no outro.

Tarcísio Meira (coronel Jacinto) contracena com Rodrigo Lombardi (capitão Ernesto Rosa) 

No primeiro capítulo, ficará claro que coronel Jacinto é o todo-poderoso da região e sua família controla até o padre da paróquia da fictícia Grotas de São Francisco. O sonho dele é ver o filho Afrânio na política. O jovem mora em Salvador e se forma advogado para tentar se eleger deputado, assim como o pai quer.

Na capital baiana, Afrânio desfruta de uma vida boa na casa da família. Ele se apaixona por Iolanda, uma cantora que faz a linha feminista e revolucionária. Para a mulher de Jacinto e mãe de Afrânio, Encarnação (Selma Egrey), Iolanda não serve para o filho. A personagem é uma mulher amargurada por causa da morte de seu outro herdeiro. Seu tom de voz e toda a composição feita pela atriz mostram uma mulher-macho, mais dura que muito homem. 

No segundo capítulo, o coronel Jacinto morre de um infarto fulminante. Afrânio é obrigado a assumir o lugar do pai nos negócios. Ele termina com Iolanda e logo arruma uma mulher para ter seu filhos, Leonor (Marina Ney). Encarnação vai atormentar a vida da jovem, que engravida e tem Tereza. Um parto impossível. A menina nasce das mãos da própria avó, que a arranca do ventre da mãe quando a parteira diz que o neném está sentado e não vai nascer. 

A modelo Marina Nery estreia na TV como Leonor, mulher do personagem de Santoro

Leonor fica com a saúde debilitada, mas mesmo assim fará de tudo para dar ao marido o filho homem que ele tanto quer. Ela morre de hemorragia quando esse menino nasce oito anos após o difícil parto de Tereza.

Chico Diaz dá vida a Belmiro, um homem simples que se vê obrigado a cair na estrada com a família por conta da seca. O retirante é acolhido por Ernesto Rosa e sua mulher, Eulália (Fabiula Nascimento). O filho dele com Piedade (Cyria Coentro), Santo dos Anjos, vai virar o grande amor da filha de Afrânio, perpetuando a guerra começada entre Jacinto e o capitão Rosa.

Ainda na adolescência, Tereza engravida de Santo. Só que seu pai toma um tiro justamente na hora em que vai acertar as contas com o desafeto. Santo não fica sabendo de nada e segue sua vida após a amada se casar com o político Carlos Eduardo, que será vivido por Rafael Vitti e Marcelo Serrado. Ele cria o filho da mulher como se fosse seu. O menino recebe o nome de Miguel (Gabriel Leone). Ele surgirá mais para a frente terminando os estudos fora do país, mas com convicções semelhantes ao do pai biológico, Santo, nessa fase interpretado por Domingos Montagner. 

Base no Nordeste

Luiz Fernando Carvalho, diretor-geral da trama, revela que gravar no Nordeste e contar essa história é fácil para ele porque é filho de nordestinos. "Trago na veia a luta, a resistência, os sonhos, os abandonos desse grande território nacional", declara.

O diretor diz que busca nas belas paisagens do sertão uma força avassaladora para mostrar ao país. Por isso, optou por não deixar claro em que Estado se passa a trama, criando a fictícia Grotas de São Francisco para representar toda a região.

O rio São Francisco é um dos protagonistas da história. O drama de seu abandono vai permear toda a novela. "Velho Chico não faz apologia a nada, mas acontece que o rio deveria ser orgulho nacional e se transformou numa vergonha para o país. É uma vergonha os milhões de reais gastos lá. Só restaram tratores apodrecendo. Obras paradas. O povo vai se revoltar, mas não é com a novela, é com a situação do país. Vamos contar isso, sem radicalizar como foi na questão dos sem-terra, em O Rei do Gado", conclui Barbosa.

As gravações dos primeiros 25 capítulos da trama _ a primeira fase_ já foram realizadas. Os trabalhos estão sendo concluídos nos Estúdios Globo (novo nome do Projac) no Rio de Janeiro. Dia 21, Carvalho dá início as gravações da segunda fase, já com outro elenco na base que montou no Nordeste. Antonio Fagundes, Camila Pitanga, Marcos Palmeira e Domingos Montagner estão entre eles.  


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