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VOLTA AO PASSADO

Nostalgia e fuga da realidade: Globo pode repetir o sucesso de Pantanal em 2023?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Osmar Prado caracterizado como Velho do Rio. Ele tem a barba longa e veste chapéu de palha e casaco de pele. Ele dá um leve sorriso em cena da novela.

Velho do Rio (Osmar Prado) em Pantanal; queridinho, personagem uniu tribos e fez sucesso

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 30/12/2022 - 7h00

Pantanal dominou as conversas do público, os memes da internet, as críticas de especialistas e até o prêmio dos Melhores do Ano da Globo em 2022. Foi um sucesso incontestável, como há tempos a emissora não via em termos de repercussão. Travessia, sucessora da trama na faixa das nove, mostrou que manter esses bons números não é tarefa fácil. A audiência do horário está em queda livre desde o fim do remake, e é preciso se perguntar: a Globo conseguirá repetir o feito da novela?

Para Clarice Greco, ex-pesquisadora do Centro de Estudos de Telenovela da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), é difícil prever. Não é como se existisse uma "fórmula de sucesso", uma receita que os autores pudessem seguir.

Além de aspectos internos, que podem ser replicados por outras tramas --como a nostalgia envolvida em um remake e o aspecto de "fuga da realidade" de uma novela rural--, o momento em que a trama foi exibida contribuiu para estouro que foi a novela.

A obra estreou no pós-pandemia, depois de um período em que as pessoas tiveram de se adaptar e transformar suas vidas. Por ser o remake de uma novela clássica, Pantanal representava um porto seguro, um alento depois de tanta turbulência. Ao mesmo tempo, era um ponto comum em uma sociedade tão polarizada politicamente às vésperas das eleições mais concorridas na história do País.

O fato de as gravações acontecerem durante a exibição da novela também ajudou na repercussão imensa. Os espectadores estavam órfãos de mergulhar no universo do folhetim fora do momento em que a trama vai ao ar na TV.

Com Pantanal, bastava que todos corressem para as redes sociais dos atores, que compartilhavam suas rotinas, erros de gravação e piadas internas. O chamado "BBB do Pantanal", aliás, foi preponderante para conquistar o público jovem.

Foi um respiro acompanhar esses bastidores depois de tanto tempo. Afinal, por cerca de um ano, a Globo se resguardou com reprises e, mais tarde, com novelas que tiveram de ser gravadas inteiramente antes da exibição --caso de Um Lugar ao Sol (2021) e Quanto Mais Vida, Melhor! (2021).

Mesmo nesses últimos casos, a convivência entre os atores foi mínima, devido aos protocolos de segurança contra a Covid-19. Ou seja: nada de piadinhas com os fãs nas redes.

Apesar de todo esse contexto incontrolável, alguns pontos que causaram o sucesso estrondoso da novela podem ser reaproveitados. O Notícias da TV elaborou uma lista para que a emissora fique atenta em 2023.

REPRODUÇÃO/youtube

Velho do Rio (Claudio Marzo) na 1ª versão: nostalgia é chave da novela

Claudio Marzo na 1ª versão: nostalgia é chave

1. O poder da nostalgia

O sucesso do Vale a Pena Ver de Novo há quase 40 anos não deixa dúvidas: o público gosta de rever uma novela. Não só para recordar da trama, mas também pela chance de "reviver" o tempo em que aquela obra foi transmitida originalmente. É aquela sensação de reassistir a uma novela que passava durante sua infância e se recordar dos tempos sem responsabilidades, por exemplo. Às vezes o trunfo de uma reprise ou remake são as memórias individuais relacionadas a ela.

Também existem as memórias coletivas, aquelas que a sociedade como um todo compartilha --como as roupas, os penteados e os aparatos tecnológicos de uma época. Esse movimento, aliás, é uma tendência nos últimos nos últimos anos. Basta observar o sucesso de Stranger Things (2017-atualmente), na Netflix. A produção é ambientada nos anos 1980 e queridinha do público adulto, afogado em boletos e preocupações e louco para voltar a um tempo mais calmo. Como afirma Clarice:

Os fãs de 25 a 45 anos querem ter um retorno à adolescência. E [produtos com] esse elemento nostálgico são feitos para revivermos a infância. Isso cabe bem em períodos críticos, como agora, com uma sociedade fragilizada politicamente e com a pandemia. Então veio Pantanal, esse solo neutro e seguro, porque já sabemos que é uma trama que nos interessa e reconhecemos nosso passado naquilo. A nostalgia também é afetiva, e, com isso, a trama nos impacta mais.

Combina-se a isso o fato que a nostalgia é relacionada com uma certa segurança. A pessoa já sabe quais os desfechos de seus personagens favoritos e não ansiará por descobrir o que acontecerá com eles. Num mundo envolto por tantas incertezas, é bom ter algo firme. Tanto para o público, quanto para a emissora.

"A gente só faz remake de novelas que a gente sabe que foram um sucesso. Uma criação nova sempre tem um elemento surpresa mais característico. Pegar uma obra de sucesso e refazê-la já é uma espécie de solo seguro", completa a especialista.

Além de apostar em tramas de época ou remakes, a própria exibição de reprises faz parte de uma estratégia que preza pela nostalgia. Nesse último sentido, a emissora está bem resguardada. A nova faixa de edições especiais, que já foi ocupada por O Cravo e a Rosa (2000) e Chocolate com Pimenta (2003), caiu no gosto do público.

reprodução/tv globo

Intérprete de Tibério, Guito estreou na TV em Pantanal

Intérprete de Tibério, Guito estreou na TV

2. Busca por talentos

Pantanal também acertou ao economizar os atores que emendaram muitos papéis nos últimos anos. Com exceção de Juliana Paes, Enrique Diaz, Marcos Palmeira, Murilo Benício e Juliano Cazarré, ou os atores não davam as caras na faixa das nove fazia muito tempo, ou nunca tinham estado lá.

Parte do grupo era composta por iniciantes na profissão. Alanis Guillen, a Juma, só havia protagonizado Malhação: Toda Forma de Amar (2019); Gabriel Sater (Trindade) e Paula Barbosa (Zefa) tiveram papéis de destaque apenas em Meu Pedacinho de Chão (2014).

Também pipocaram revelações no elenco. Guito (Tibério), Bella Campos (Muda) e Leticia Salles (a Filó na primeira fase) conquistaram o público, tanto que os três já têm trabalhos engatilhados para os próximos meses.

O interessante é que nenhum deles é do eixo Rio-São Paulo, um convite para a emissora explorar talentos Brasil afora e deixar de insistir tanto nos influenciadores digitais. Afinal, a estratégia não funcionou com Jade Picon em Travessia.

Não há como deixar de ressaltar o papel central destinado a um veterano: Osmar Prado. Atores mais velhos são um chamariz para a audiência do público conservador, além, claro, de exibirem um talento aprimorado pela experiência.

joão miguel jr./tv globo

Isabel Teixeira em cenário bucólico de Pantanal

Isabel Teixeira em cenário de Pantanal

3. Ambiente rural

Como o próprio nome diz, Pantanal faz do bioma brasileiro um de seus protagonistas. São várias as cenas que expõem a beleza do local, além de discussões sobre o desmatamento e as queimadas que assolam a região. A natureza exposta ali funciona como um chamado para o público urbano, tão afastado dessas raízes.

A imensidão verde, para Clarice Greco, é um retorno ao simples para um público acostumado com prédios, portões e cercas. Ao mesmo tempo, a magia retratada naquele ambiente, com pessoas que se encantaram em onça e uma entidade protetora, mexe com os pragmáticos cidadãos urbanos. Um alento que, combinado com a segurança de um remake e o conforto da nostalgia, é importantíssimo para o sucesso da novela.

reprodução/tv globo

Tenório (Murilo Benício) chora em Pantanal; vilão despertou compaixão

Tenório: canalha despertou compaixão

4. Personagens carismáticos 

Com exceção de Renato (Gabriel Santana) e, talvez, de Solano (Rafael Sieg), todos os personagens de Pantanal fisgaram o público. Mesmo o vilão Tenório (Murilo Benício) teve seu momento de despertar compaixão, ao chorar a morte dos pais durante uma roda de viola. Já Zuleica (Aline Borges), "rival" da maior queridinha do público, Maria Bruaca (Isabel Teixeira), compadeceu qualquer um com o relato de estupro e de como acabou se submetendo à relação com Tenório.

Não que os personagens fossem perfeitos. O protagonista, José Leôncio (Marcos Palmeira), vivia tirando os internautas do sério com suas grosserias. Até Maria Bruaca humilhou a empregada doméstica uma vez, numa situação para lá de elitista. Os peões queridinhos foram homofóbicos, e Filó (Dira Paes), apesar de seus conselhos fofos, irritou a web de tanto se intrometer na vida sexual de Juma.

De certa forma, os erros compõem o lado interessante do personagem. É muito mais legal vê-los tropeçando e aprendendo do que acompanhar um personagem que parece um panfleto de boas maneiras. A humanidade dos pantaneiros gerou identificação, e os sofrimentos de cada um, com destaque ao relacionamento abusivo vivido por Bruaca, despertaram a torcida do público.

reprodução/tv globo

Em vez de usar bordões da Internet, Juma (Alanis Guillen) virou meme

Em vez de se apropriar do Twitter, Juma virou meme

5. Nada de reinventar a roda

No fim, Pantanal fez sucesso por ser uma novela sem medo de ser novela. Ela abordou os temas que fazem sucesso no melodrama há décadas: amor entre pessoas opostas, sofrimento, regeneração e vingança. Tudo isso com uma pitada política e discussões relevantes, mas submersas na trama, e não como parte preponderante --tal qual o papel da tecnologia em Travessia.

Também não foi um folhetim que se pautou pela internet, tentando emplacar expressões forçadas. Muito pelo contrário: foi o espectador que garimpou ideias para fazer seus memes. Depois disso, a Globo fez o óbvio e surfou na onda. Compartilhou mensagens nas redes sociais, promoveu interações entre os atores, usou os comentários dos internautas em entrevistas... Mas foi o público que tomou a iniciativa.

A lição que fica é que, em tempos tão caóticos, seja pela política, pelas consequências de uma crise climática ou por uma tecnologia que evolui em velocidade impressionante, o público queira se entreter voltando ao passado.


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