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SEM FORÇAR

Mar do Sertão faz inveja em Gloria Perez com memes espontâneos e de qualidade

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Giovanna Figueiredo usa um terninho rosa em cena de Mar do Sertão; ela sorri enquanto encara Isadora Cruz --fora do quadro.

Jessilaine (Giovanna Figueiredo) soltou um 'vamos galera, mulheres!' em cena de Mar do Sertão

SABRINA CASTRO

sabrina@noticiasdatv.com

Publicado em 16/11/2022 - 6h45

Mar do Sertão pode até ter assustado o público com costumes que parecem antiquados em 2022 --como duelos pela honra de uma moça--, mas se mostrou bem moderninha ao incluir vários memes em seu texto. Travessia, no entanto, seguiu justamente o caminho contrário. Apesar de a trama ser envolta em tecnologia e debates caros à geração Z, os termos usados pelos personagens adolescentes são de causar arrepios em qualquer espectador da mesma faixa etária --justamente os mais interessados nos temas abordados pelo folhetim.

Seja pelo excesso de gírias fora de contexto, uso de memes que caíram em desuso há pelo menos dois anos ou a abordagem estereotipada de adolescentes, a novela não parece ter fisgado o público do Twitter, rede social cuja maioria dos usuários se concentra entre 18 e 29 anos (38% do total). Se Pantanal (2022) gerava identificação e debates naquele espaço, a atual novela das nove da Globo só parece ganhar críticas --mesmo que de forma bem-humorada.

"Simplesmente a Gloria Perez jogou no Google 'gírias atuais que os jovens estão usando' e enfiou cada uma das palavras no roteiro, né?", comentário escrito por um internauta identificado como Garoto do Chapéu, resume boa parte das alfinetadas nesse sentido. Parece estranho que uma jovem antenada como a personagem de Jade Picon se limite a usar gírias antigas.

Praticamente nenhum adolescente em 2022 ainda usa "cringe" --termo em inglês cujo significado se aproxima do nosso esquisito ou brega. Muito menos mistura "flopar" (algo como fracassar), "biscoiteiro" (pessoa que precisa de atenção) e "crush" (paquera, pretendente) numa única frase.

Se Travessia vem afastando os mais novos, Mar do Sertão parece agarrar esse público. Pelo menos é o que indica uma projeção da Globo, obtida pelo Notícias da TV. São 24 milhões de espectadores entre 18 e 34 anos por mês --17% do público da TV aberta e 54% do Globoplay.

Claro, há muitos fatores envolvidos nisso --inclusive porque a última novela do horário, Além da Ilusão (2022), foi protagonizada por Larissa Manoela, um fenômeno para essa faixa etária. Mas o fato de não ter nenhum adolescente "morrendo de vergonha alheia" nas redes sociais também é um bom indicativo.

Só nas últimas semanas, memes famosos do Twitter foram usados no roteiro sem causar nenhum estardalhaço nas redes. Um aspecto positivo, pois dá a entender que eles se encaixaram no contexto e não causaram estranhamento ao espectador. 

Primeiro, tivemos o "vamos galera, mulheres!" dito por Jessilaine (Giovanna Figueiredo), numa cena em que ela discutia feminismo com a protagonista, Candoca (Isadora Cruz). A frase viralizou depois que Flay a citou no BBB 20, incentivando as amigas a cumprirem uma prova do reality show.

Houve até uma saudação aos millenials com uma adaptação do icônico "não é feitiçaria, é tecnologia" --usado numa propaganda com a personagem Feiticeira, interpretada por Joana Prado no início da década de 2000. Foi Timbó (Enrique Diaz), alívio cômico do folhetim, que citou o bordão em um dos seus argumentos trambiqueiros de venda. 

Ou seja: o uso dos bordões fez sentido com o contexto e cria um laço entre trama e espectador. A parcimônia também foi essencial --os memes e gírias pouco aparecem, sempre numa situação apropriada. Por isso, é estranho pensar em Isa (Duda Santos) citando um "cringe" do nada na atual novela das nove, em contextos que nem fazem tanto sentido com a real aplicação desse termo pelos adolescentes.

Receita para flopar

Ainda há outro ponto problemático em Travessia: os sotaques. Embora a Globo já tenha escorregado diversas vezes com isso, especialmente em relação aos Estados nordestinos, Mar do Sertão parece ter acertado no ponto. Provavelmente porque, pela primeira vez, grande parte do elenco de uma novela é nordestina.

Mesmo quem foi criado fora da região, como Giovana Cordeiro, conseguiu encarnar bem o espírito da coisa. Vira e mexe alguém se choca com o fato de ela ser carioca. Segundo a atriz, o diferencial foi justamente poder conviver com quem nasceu e viveu no Nordeste. No caso dela, a principal referência foi Suzy Lopes, a Cira da novela.

Travessia peca em todos os âmbitos. Além dos chiados exagerados de Chiara, o sotaque maranhense também não vem convencendo o público. O excesso de dialetos fora de contexto também tem sido alvo de críticas nas redes sociais.

Não é uma questão inédita para a autora. Gloria já deturpou os costumes do Marrocos, em O Clone (2001), e voou longe demais no sotaque de Ritinha (Isis Valverde), em A Força do Querer (2017). Em Travessia, porém esses erros ficaram ainda mais nítidos pela fluidez da concorrente das seis. 

Não que a novela de Mario Teixeira não tenha seus tropeços. É o caso da repetição de uma abordagem recorrente e estereotipada do Nordeste, baseada em falta de recursos, coronelismo e roupas de couro --como o Notícias da TVabordou em outra reportagem.


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