ANÁLISE
Fotos: Reprodução/TV Globo
Camila (Anaju Dorigon) e Valéria (Bia Arantes) em cena; golpistas se redimiram na novela das seis da Globo
MÁRCIA PEREIRA
Publicado em 27/9/2019 - 18h50
Com guerra, amores impossíveis, mocinha sacrificada e um vilão de dar medo, Órfãos da Terra arrebatou "corações" logo de cara e fez o público shippar não só o casal protagonista, mas a novela em si. Até Aziz (Herson Capri) ser assassinado, tudo ia às mil maravilhas. Mas, de lá para cá, foram quatro meses com uma história arrastada. Só na reta final é que a trama saiu do tédio com o romance lésbico e a amizade de dois ex-inimigos.
O amor inesperado de Valéria (Bia Arantes) e Camila (Anaju Dorigon) surpreendeu justamente por ganhar torcida logo de cara. Não porque elas se descobriram gays, mas porque as duas, até então, eram personagens insuportáveis.
A ruiva deu golpes e usava todo mundo por interesse financeiro, já a prima traíra de Laila (Julia Dalavia) foi se redimindo pela metade do caminho. Mas ainda tinha resquícios do tom arrogante que a sua intérprete imprimiu no começo.
Já a virada nas vidas de Boris (Osmar Prado) e Mamede (Flávio Migliaccio) foi bem construída, e os atores deram show dia após dia. O judeu virou o "pai" do árabe com Alzheimer, que não reconhece nem os próprios netos.
Mas por que a novela das seis desandou? O engajamento no combate à discriminação foi mantido do começo ao fim, sem comprometer o roteiro. De sírios a índios, muitos oprimidos tiveram voz, e esse mérito tem de ser reconhecido.
Aos 84 anos, o ator Flávio Migliaccio encenou com brilho o drama de quem sofre de Alzheimer
Assim como a boa audiência: são 21,7 pontos de média registrados no Ibope da Grande São Paulo. Praticamente quatro pontos a mais do que Espelho da Vida, que saiu de cena com 17, 8 pontos em abril deste ano.
Porém, uma novela tem de seduzir quem está em casa e a chama dessa atração precisa de gás para não apagar. A vontade de ver a história de amor de Laila e Jamil (Renato Góes) deixou de existir na maioria dos telespectadores.
Até as maldades de Dalila (Alice Wegmann) --atriz cada vez mais madura e competente-- cansaram. Ela nadou, nadou, e morreu na praia. Não é à toa que foi apelidada de Cebolinha nas redes sociais, pelo excesso de "planos infalíveis" que armou, assim como o personagem da Turma da Mônica.
A vilã carregou o folhetim nas costas e, quanto mais os mocinhos caíam que nem patos em suas armações, mais tedioso tudo ficava para quem acompanhava o desenrolar de Órfãos da Terra. O problema é que a vingança da libanesa não passava de recalque, de orgulho ferido, coisa de uma jovem mimada.
Julia Dalavia e Renato Góes na sequência do nascimento do filho de Laila e Jamil na novela
Houve ainda um certo desperdício em deixar o assassinato de Aziz de lado durante meses. Reduzir a história de Hussein (Bruno Cabrerizo) a uma participação especial depois do que ele enfrentou ao lado de Soraia (Letícia Sabatella) também entra na conta do que foi mal aproveitado no folhetim.
O vaivém de Missade (Ana Cecília Costa) e Elias (Marco Ricca) só serviu para afastar quem chegou a torcer para ela dar a volta por cima. Já a intérprete da matriarca síria fez bonito na defesa dessa mulher conservadora e guerreira.
Entre os pontos positivos, estão as atuações do ator revelação da saga dos refugiados: o ex-BBB Kaysar Dadour. Veronica Debom e Cristiane Amorim também são nomes que merecem elogios pelo trabalho apresentado.
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