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DIVERSIDADE NA TV

Enquanto busca redenção, Globo tropeça ao passar pano para Cassia Kis

REPRODUÇÃO/YOUTUBE

Cassia Kis durante entrevista

Atuação ineficaz da Globo no caso Cassia Kis atrapalhou a redenção da emissora pela diversidade

JOSÉ VIEIRA

jose@noticiasdatv.com

Publicado em 2/1/2023 - 7h00

A demanda pela inclusão de minorias em espaços relevantes da mídia tem gerado mudanças na produção audiovisual brasileira. Neste ano, a Globo se destacou ao inserir a diversidade como ponto fundamental de suas obras. Apesar do avanço, a emissora ainda possui uma dívida aberta por ignorar os erros de Cassia Kis.

O fortalecimento de lutas pela representatividade de minorias no Brasil impactou o consumo do audiovisual. Entre fracassos de audiência e virais na internet, folhetins da Globo tiveram um papel importante para o aumento da inclusão de determinados grupos. Em Mar do Sertão, por exemplo, a emissora escalou 15 atores nordestinos para compor o elenco principal.

Embora o progresso seja perceptível, alguns tropeços cometidos pela empresa não passaram em branco. Cassia Kis, intérprete de Cidália na novela Travessia, foi uma figura constante na mídia brasileira após uma série de declarações preconceituosas.

Em outubro, a atriz atacou jornalistas, fez declarações contra a população LGBTQIA+ e militou contra o uso de anticoncepcionais. "Para esses jovens, fazer um aborto, tomar uma pílula do dia seguinte, um anticoncepcional é muito fácil, porque eles não têm a referência do bebê", disse ela, que interrompeu uma gravidez em 1985.

"A ideologia de gênero já está na escola. Eu recebo imagens inacreditáveis de crianças se beijando. Duas meninas se beijando dentro de uma escola, onde há um espaço chamado 'beijódromo'. O que está por trás? Destruir a família", continuou, ao promover uma fake news muito usada na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) --em quem ela declarou voto.

Após os comentários, internautas chegaram a pedir que Cassia fosse retirada do folhetim escrito por Gloria Perez. Para reduzir as consequências das declarações da veterana, a emissora emitiu um comunicado para a imprensa. "A Globo tem um firme compromisso com a diversidade e a inclusão e repudia qualquer forma de discriminação", disse em nota.

Kaká Rodrigues, consultora de inclusão e cocriadora da empresa Diversidade Agora!, explica ao Notícias da TV que a emissão de uma nota de repúdio não é o suficiente para esses casos.

O grande desafio de uma empresa como a Globo, que é diferente de uma empresa mais tradicional, é que muito dos seus colaboradores são influenciadores. A forma como as empresas respondem a determinados comportamentos discriminatórios fala muito sobre o quanto efetivamente essa empresa está comprometida com a questão da diversidade.

A ausência de uma atuação eficaz no caso de Cassia Kis gera um mau exemplo para outros funcionários da empresa. "Então se eu for preconceituoso, eu vou ter uma conversa de feedback. A empresa vai emitir uma carta dizendo que não compactua com a minha fala e nada vai acontecer. Vou continuar aqui fazendo o meu trabalho e não muda na minha vida."

A especialista relembra que a legislação brasileira pune atos de racismo e LGBTfobia. Contudo, ambas regulamentações são constantemente invisibilizadas pelo país. Assim, muitas denúncias não são levadas a sério e nem chegam a ser julgadas.

Foi decidido que o racismo, a homofobia e a transfobia seriam crimes no Brasil. Quando ignoramos isso, a gente está dizendo que os nossos acordos não estão de pé. É uma forma de incentivar toda a sociedade a continuar reproduzindo preconceito, porque sabe que não vai ter nenhuma responsabilização sobre isso.

Por que diversidade importa?

O ano de 2022 começou de forma complicada para a Globo. Uma série de denúncias contra Vinicius Coimbra, diretor de Nos Tempos do Imperador (2021), o acusaram de racismo nos bastidores da novela. Após ser palco de inúmeros casos de intolerância racial e assédio, a emissora criou a diretoria de Diversidade e Inovação em Conteúdo.

Com o novo departamento, a empresa tenta corrigir erros do passado. Em Mar do Sertão, o público assistiu à fuga do eixo Rio-São Paulo. Em Cara e Coragem, a adição de protagonistas negros em locais de destaque, sem que estivessem conectados aos estereótipos de bandidos ou moradores da periferia. Em Além da Ilusão (2022), os atores Nikolas Antunes e Michel Bois deram vida ao casal gay Plínio e Leopoldo.

"[A falta de diversidade] afeta na nossa incapacidade de ter uma visão mais profunda do Brasil. Antigamente, as novelas praticamente só mostravam Ipanema, Leblon e Copacabana", comenta Kaká. "Acho que quando a gente não tem diversidade, a gente limita a nossa capacidade, a nossa potência de inteligência cultural, porque a diversidade é uma riqueza".

A especialista concorda que a representatividade ajuda na luta contra a marginalização das minorias, fruto do processo histórico de colonização. "Foi estabelecido, na nossa sociedade, que o homem ideal é o homem branco, cis, hétero e descendente de europeu, de preferência. Tudo que se afasta disso, acaba sendo visto como menos valioso", avalia.

As atrizes negras eram as empregadas ou, em novelas de época, as mucamas. Os homens negros estavam sempre em posições de violência, de banditismo. As pessoas LGBTQIA+, muitas vezes, em posições caricatas ou de prostituição. Isso é uma questão, porque a gente está desumanizando essas pessoas.

Inclusão

Fora da Globo, produções como Manhãs de Setembro, do Prime Video, e o reality show Queens Stars Brasil, da HBO Max, contribuem para a inclusão no audiovisual brasileiro. Apesar de ser otimista sobre o futuro da diversidade na mídia, Kaká admite que a sociedade está longe de alcançar o parâmetro ideal de representatividade.

"Acredito que o papel dessas organizações é também ajudar a sociedade nesse processo de trazer consciência para a diversidade, de mostrar o valor da inclusão, de revolucionar", opina a consultora.

"Estamos caminhando para uma sociedade que tem essa consciência e que cobra esse movimento das empresas", complementa. "Só precisamos acelerar esse processo, porque não dá para a gente esperar 300 anos para termos representatividade na sociedade."


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