Nova novela da Globo, Cara e Coragem traz 'núcleo preto, poderoso e no comando'

Esqueçam os personagens negros em papéis de subserviência, submissão e pobreza. Em Cara e Coragem, Claudia Souto deu aos atores pretos o núcleo mais poderoso de sua novela. Os personagens milionários interpretados por artistas negros são um alento não só para o elenco como para o telespectador, que vai se sentir mais representado.

Taís Araujo e Paulo Lessa são o casal protagonista da trama --ao lado de Paolla Oliveira e Marcelo Serrado. "Na minha infância e adolescência não tinha um Ítalo. E em 2022 ser esse cara numa novela que vem quebrando estereótipos e está indo além do entretenimento é muito importante. Ítalo é um protagonista negro, com uma casa incrível, um carro maravilhoso, bem-sucedido, sem ser superficial", diz Lessa.

Taís, que está na Globo há 25 anos, tem contato direto com a autora Claudia Souto e ajuda a novelista a construir as camadas dos personagens pretos e a adequar falas e comportamentos de algumas cenas.

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"Eu, como autora, estou abrindo espaço mas não entendo muito, sou fruto de uma dramaturgia do patriarcado branco. É tudo muito novo pra mim. Agradeço muito a Claudia [Di Moura], Taís, Ícaro [Silva], Paulo pela generosidade de me ensinarem. É um absurdo olhar para nosso país e eu estar aprendendo em 2022 e não ter aprendido antes de escrever. Que bom que novela é uma obra aberta e eu posso adicionar algumas coisas", fala a autora.

Taís é só elogios à postura da novelista de não só pensar na representatividade como também ter a sensibilidade de ouvir o elenco: "É muito bom ver uma autora que não se bota no lugar de Deus. Nunca tive um diálogo neste nível --e olha que tenho bastante diálogo dentro da Globo-- de a gente poder dizer: 'Essa não é minha vivencia, minha realidade'. E ela entender, alterar... É a primeira vez que isso acontece. É um grande passo na dramaturgia e na nossa história".

Em seu segundo papel em novelas, Claudia Di Moura é só felicidade e emoção com a ousadia de Cara e Coragem em apostar em atores pretos para papéis tão importantes.

"Estou aproveitando todos os meus privilégios agora! De vestir Gucci e ter o cabelo que eu quero", dispara a atriz, que estreou no papel da submissa Zefa em Segundo Sol: "Somos um núcleo preto, poderoso e no comando. Os personagens são ricos de nascença, não conheceram a pobreza, nem a dor. Isso até parece inverossímil. Essa família Gusmão é a encarnação de uma espécie de justiça social", diz Claudia.

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