Em Pantanal, Bruna Linzmeyer é uma mulher que orbita em 'lista sem fim'

Provocante, subversiva por natureza e sensual. Assim é Madeleine, personagem de Bruna Linzmeyer em Pantanal, mas a descrição poderia ser a da própria atriz. Madeleine --ou seria Bruna?-- vive rodeada de amigos. E pretendentes. A jovem não dá a mínima para normas ou qualquer convenção social que tentam lhe ditar. Não foi à toa que o diretor artístico Rogério Gomes, o Papinha, tenha escolhido Bruna para viver a icônica personagem na nova versão de Pantanal.

"O Papinha me ligou e falou que era uma personagem interessante, que ele sabia que eu poderia trazer algumas camadas para ela que não estavam à mostra. E eu acho a leitura dele boa mesmo, é exatamente o que eu gosto de fazer", diz a loura, que na segunda fase vai ser substituída por Karine Teles.

Apesar das semelhanças com a personagem, Bruna precisou fazer um extenso trabalho de composição para dar vida a Madeleine. Principalmente porque suas mudanças são ditadas pelos acontecimentos.

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"Adoro o set e adoro a construção do personagem. É algo que me divirto fazendo. Liguei para o meu professor de ioga, porque eu percebi que tenho o corpo muito relaxado. E eu achei que a Madeleine deveria ter a coluna ereta. Intuitivamente isso me veio, comecei a trabalhar essa abertura do peito, isso em maio de 2021. Comecei a trabalhar essa outra estrutura física para a Madeleine. Entendi que minha voz era muito doce, então liguei para a Leila, minha fonoaudióloga, para construir uma voz mais densa, que fosse ficando amargurada", conta a atriz.

Na novela, José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira) se apaixona e casa com Madeleine. Os dois se mudam para o Pantanal onde nasce Jove (Jesuíta Barbosa). A passagem de Madeleine pela fazenda, porém, é um caos. Com saudade da vida urbana e da mordomia da mansão de seus pais no Rio de Janeiro, a jovem não se acomoda àquela sina de solidão que é ser mulher de peão. Com o marido sempre em comitivas, ela se vê obrigada a conviver com Filó (Leticia Salles/Dira Paes), funcionária da casa a quem pouco conhece e nada confia.

"Ela é uma pessoa antes e outra depois do Pantanal. O marido passa o tempo todo viajando. Ela engravida, ninguém a visita, sua família não vê sua barriga crescer. Passa uma gravidez inteira sem ninguém. É de uma solidão gigante. Então ela pede uma coisa ao Zé Leôncio: que ele esteja em casa no parto dela. E ele não está. E isso é, para mim, uma virada", conta Bruna.

Assim que recebeu o convite para fazer a novela, a atriz passou a observar ainda mais as mulheres à sua volta. Foi então que ela percebeu que muitas têm histórias de solidão parecidas com a de Madeleine. Bruna reconheceu algumas até mesmo em suas viagens ao Pantanal para gravar:

Antes das cenas eu falava os nomes de todas elas para mim mesma. São mulheres que não viveram a vida delas, não viveram seus desejos, não conseguiram nem entender o que elas queriam, que orbitaram em torno do casamento, da maternidade, sem conseguir construir uma vida individual, para além desses dois pilares.

"É uma lista sem fim. Tive muitas inspirações. Inclusive no Pantanal, onde eu conheci algumas Madeleines. Ela perde sua autonomia emocional. Eu olho para ela e penso: puxa, que bosta de vida. E eu sinto muito. Mas é a vida que muitas pessoas vivem. Muita gente vive a vida girando em torno de outra pessoa", completa.

Bruna tem 29 anos e não era nascida quando Pantanal foi exibida, mas já sabia que a novela era um fenômeno. Ao contrário de muitos atores, que preferem não ver uma versão antiga para não criar referência, a atriz buscou assistir ao trabalho de Ingra Liberato, a Madeleine de 1990.

"A minha avó nasceu no Mato Grosso do Sul. Acredito que há uma comoção com a novela. Antes de ir para o Pantanal resolvi assistir a algumas cenas e foi legal ver".