De Jade Picon a robô garçom: Sete erros que condenaram Travessia ao fracasso

Travessia chegou ao capítulo cem nesta quinta (2) com uma coleção de falhas, equívocos e bizarrices. A história de Gloria Perez tem tido dificuldades para levantar a audiência da faixa das nove por uma série de fatores, que vão desde a escalação de atores, como Jade Picon, até enredos sem apelo, como o do robô garçom. 

A autora cunhou, na época em que foi criticada pela trama de Salve Jorge (2012), a frase: "Pobre de quem não sabe voar!", em referência a um público que, segundo ela, não se deixava levar pela ficção novelesca e assistia ao folhetim só para colocar defeito. 

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No entanto, para quem assistiu aos cem capítulos de Travessia, difícil foi achar qualidades. Com exceção de boas atuações de parte do elenco, a novela se destaca por enredos arrastados e desinteressantes.

Confira sete erros que prejudicam o desempenho de Travessia na faixa das nove da Globo:

reprodução/travessia

O robô garçom de Travessia

Bar sem carisma

Nas novelas de Gloria Perez, os núcleos de humor já foram palcos de grandes sucessos --como o bar de Dona Jura (Solange Couto) em O Clone (2001) e a trama de Norminha (Dira Paes) em Caminho das Índias (2009). No entanto, em Travessia o humor é inexistente. O cenário que poderia fornecer alívios cômicos para a novela, no núcleo de Vila Isabel e do bar de Joel (Nando Cunha), só oferece constrangimento.

Vide o caso do robô garçom, uma tentativa de incluir um arroubo tecnológico na novela. Poucas tramas na história da teledramaturgia brasileira foram tão desinteressantes e irrelevantes quanto essa. 

Metaverso esquecido

De forma geral, a intenção de incutir transformações tecnológicas da atualidade na novela não teve muito sucesso. A começar pela questão do metaverso na construtora de Guerra (Humberto Martins), que já nasceu sem importância e foi esquecida ao longo dos capítulos. 

No entanto, outros pontos da história que envolviam dinâmicas na internet foram mal desenvolvidos. É o caso do vídeo deepfake envolvendo Brisa nos primeiros capítulos (já esquecido), seguido pela completa falta de contato da personagem com os familiares pelas redes sociais após sair da prisão, algo absurdo e totalmente inverossímil para uma história que se passa nos dias atuais. O telespectador não consegue "voar" e entrar no drama da personagem dessa forma.

Jade Picon

A escolha de Jade Picon para um papel de destaque em Travessia foi questionada desde antes de as gravações começarem, pelo fato de a ex-BBB não ter registro profissional como atriz. A jovem estreou carregada de ranço do público, o que obviamente já é prejudicial. A situação só piorou após as primeiras cenas dela serem exibidas.

Num erro que não cai apenas sobre Jade, mas também sobre a equipe de direção, o sotaque carioca da atriz foi muitíssimo criticado e virou piada. O texto da personagem dela, com gírias que soaram forçadas (como "flopar"), colaborou para aumentar exponencialmente a antipatia dos telespectadores em relação a Chiara e ao trabalho desempenhado pela atriz.

reprodução/tv globo

Trama da assexualidade não empolgou

Campanhas sociais não funcionam

Todo o sucesso que Gloria Perez teve em A Força do Querer (2017) com a trama de Ivan (Carol Duarte), um homem trans, não se repetiu com a história da assexualidade de Rudá (Guilherme Tavares) e Caíque (Thiago Fragoso) em Travessia. A trama, muito menos dramática, ainda não tem gerado grande repercussão, interesse ou mobilização do público, como aconteceu na novela anterior. O mesmo ocorre com as cenas dos cadeirantes, que passam sem grande destaque.

Crimes sem apelo

Não falta crime em Travessia: desde os primeiros capítulos, personagens como Helô (Giovanna Antonelli), Stenio (Alexandre Nero), Oto (Romulo Estrela) e Moretti (Rodrigo Lombardi) estão envolvidos até o último fio de cabelo em diversas falcatruas, investigações e delitos. Mas são ações tão intricadas que, se o telespectador não prestou atenção e tomou nota desde a primeira semana, certamente chegou ao capítulo cem totalmente perdido e sem ímpeto de voltar atrás e entender cada pequeno detalhe.

A trama de Helô e Stenio, aliás, seria mais bem explorada se focada na química sexual entre os dois (um dos poucos pontos positivos de Travessia) e menos nas rusgas e segredos que eles compartilham, relacionados a inquéritos e criminosos.

Texto e capítulos arrastados

Antes de chegar ao centésimo capítulo, Travessia teve vários outros neste ínterim em que nada ou muito pouco aconteceu para representar mudanças importantes na história. Durante um bom tempo, a novela foi focada na briga entre Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) pela guarda de Tonho (Vicente Alvite), por exemplo. Enquanto isso, personagens que poderiam render mais, como Talita (Dandara Mariana) e Gil (Rafael Losso) ficaram apagados e com tramas confusas ou sem desenvolvimento considerável.

reprodução/tv globo

Cassia Kis não deixará a novela

Oportunidade jogada fora

O capítulo cem foi marcado por uma bomba, literalmente: o carro em que Cidália (Cassia Kis) e Guerra (Humberto Martins) estavam foi alvo de um atentado e explodiu. No entanto, ambos sobreviverão. Essa teria sido uma boa oportunidade de mexer na trama e no elenco. 

Gloria Perez perdeu a chance de lançar um "quem matou", mistério que sempre gera mais interesse sobre uma novela. Ao mesmo tempo, teria sido um momento para tirar Cassia Kis do elenco. A atriz, que deu declarações homofóbicas, antiaborto e compareceu a manifestações golpistas, desagradou boa parte do público e arrastou para a novela uma leva de indignação dos telespectadores que não concordam com as posturas dela. 

Mas nada será feito nesse sentido, e quem acompanha Travessia seguirá com uma história cheia de falhas, equívocos e capítulos desperdiçados. 

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