Crítica: Verão 90 usa a nostalgia para maquiar história desinteressante

Estreia da semana no horário das sete na Globo, Verão 90 usa o artifício da nostalgia para fisgar o público, a começar pela ótima abertura, que traça com maestria um panorama rápido daquilo que foi o início dos anos 1990. O problema é que novela nenhuma é feita só de abertura e de nada adianta um rol de referências quando a história central não é forte o suficiente para aguentar pelo menos seis meses no ar.

A saga dos ex-integrantes da banda Patotinha Mágica, grupo infantil que fez sucesso na década de 1980, está longe de ser original. Para completar, o trio central, formado por Manuzita (Isabelle Drummond) e os irmãos João (Rafael Vitti) e Jerônimo Guerreiro (Jesuíta Barbosa), é um tanto quanto desequilibrado.

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Embora tenha em mãos um ótimo papel, o do vilão alpinista social, Jesuíta Barbosa mais uma vez parece interpretar a si mesmo. Com exceção de seu último trabalho, Onde Nascem os Fortes (2018), o ator apresenta poucas nuances em sua interpretação entre um personagem e outro.

Rafael Vitti, por sua vez, tem carisma, mas padece de uma certa falta de estofo, algo que ele pode adquirir ao longo da trama. Já Isabelle Drummond, a mais experiente dos três intérpretes, segura o rojão, apesar de ainda patinar para acertar o tom de comédia, novidade em sua carreira.

Nem mesmo os mais experientes do elenco estão imunes a erros. Claudia Raia, a grande promessa de atrair os olhares da trama, está alguns tons acima com Lidiane, outra mulher tresloucada em sua extensa lista de personagens cômicas. O sotaque artificial, simulando o chiado típico da fala carioca, não convence e, para uma atriz de seu porte, é dispensável. Mas é preciso reconhecer que, pelos primeiros capítulos, ficou claro que Claudia tem a ingrata tarefa de levar a novela nas costas.

Verão 90 também está a um passo da mexicanização com a vilã Mercedes (Totia Meireles), tamanho o exagero da personagem. A matriarca que controla os negócios da família com pulso firme tem um quê de Odete Roitman, a icônica vilã interpretada por Beatriz Segall em Vale Tudo (1988), folhetim que também serviu de referência para compor a história de Jerônimo e Janaína (Dira Paes).

Mas emular o clássico de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères pode ser um tiro no pé, principalmente porque o texto de Verão 90 é quase como uma criança que aprende a balbuciar as primeiras sílabas. Pelo menos até agora, mostrou-se raso e não deu aos personagens nenhum tipo de profundidade.

Por fim, diferentemente da trilha sonora, que, apesar de alguns descompassos anacrônicos, é boa e transporta o público para o passado, a ambientação e os figurinos deixam a desejar, com uma certa artificialidade no ar. A impressão é que a produção sofre de falta de verba, tamanha a simplicidade dos cenários.

Porém, há o que se salvar em meio aos destroços de uma tempestade de verão. Dira Paes encontrou o tom exato de Janaína, a mãe coragem que vai sofrer com rivalidade dos filhos e também com as consequências da instabilidade econômica do início da década de 1990. Segura e sem exageros, é dela a responsabilidade de segurar a cota de drama da história.

Já a PopTV, emissora fictícia dedicada a videoclipes, é uma homenagem explícita à boa e saudosa MTV Brasil. Tal núcleo tem tudo para dar certo ao apostar em rememorar os grandes clipes que tocavam em looping na época em que Verão 90 é ambientada. Novamente, vale pelo destaque promovido pela nostalgia de um tempo que não volta em detrimento da história.

No melhor estilo "falem bem ou falem mal, mas falem de mim", Verão 90 certamente será lembrada. É temeroso apenas que não seja da melhor maneira...