ANÁLISE
FÁBIO ROCHA/TV GLOBO
Christian/Renato (Cauã Reymond) e Bárbara (Alinne Moraes) formam o casal protagonista da novela
Uma das tramas mais profundas apresentadas pela Globo nos últimos anos, Um Lugar ao Sol chega ao fim ostentando a amarga marca de ser a novela das nove com a pior audiência da história da emissora. Entre altos e baixos, são diversos os fatores que explicam o fracasso de público do primeiro folhetim de Lícia Manzo no horário nobre.
Tida como experimental por ter sido totalmente gravada e finalizada na pandemia, Um Lugar ao Sol sofreu com o descaso da própria emissora. Logo no início, a divulgação foi levíssima, quase inexistente, e sua grade de exibição foi instável, com a emissora priorizando partidas de futebol à regularidade dos capítulos em um horário fixo.
Como se não bastasse, a Globo decidiu picotar a edição da trama a fim de não prejudicar Pantanal, que teve sua estreia adiada por conta de atrasos nas gravações. O desrespeito ao passar a tesoura sem o menor critério deixou a narrativa completamente sem uma das principais características do gênero: os ganchos, essenciais para prender o público e assegurar a audiência no dia seguinte.
Mas é de se reconhecer que Um Lugar ao Sol também passou longe de ser popular por conta de suas características próprias. Conhecida por seu texto denso, repleto de diálogos profundos, Lícia Manzo botou quase todos seus personagens no divã de Ana Virgínia (Regina Braga), e a sensação que por vezes a trama passou foi de que se tratava de uma verdadeira sessão de terapia.
Se o papo com a terapeuta provocava reflexões, por outro lado exigia do público um grau maior de atenção, um verdadeiro convite à dispersão para quem não está muito a fim de pensar ao assistir a uma novela e prefere tudo mais mastigadinho.
Embora a densidade psicológica dos personagens tenha sido um fator positivo, o texto por vezes também pecou por seu vocabulário empolado, beirando o elitismo. "Assoberbado", "espoliado" e "patologizado", por exemplo, foram alguns dos adjetivos pouco comuns ditos pelos personagens com a maior naturalidade. Nem sempre palavras lindas de serem lidas são exatamente perfeitas para serem ditas e, pior ainda no caso de uma novela, compreendidas.
Além da questão do blábláblá excessivo, com personagens mais falando do que agindo de fato, Um Lugar ao Sol também sofreu com a barriga que apresentou no meio da história. As recaídas de Júlia (Denise Fraga), o vai-e-vem de Rebeca (Andrea Beltrão) e Felipe (Gabriel Leone) e o casamento à beira do fracasso de Bárbara (Alinne Moraes) e Christian/Renato (Cauã Reymond) fizeram com que a novela não saísse do lugar.
A repetição também pôde ser vista na solução dos conflitos de Christian. Todos os personagens que descobriram sua verdadeira identidade morreram de forma trágica, de Túlio (Daniel Dantas) a Stephany (Renata Gaspar). A dubiedade do protagonista, aliás, o fez transitar de um injustiçado pela vida para um canalha completamente indefensável, o que dificultou a identificação do público com ele.
Nem só de problemas viveu a novela das nove, pelo contrário. Um Lugar ao Sol trouxe atores em registros diferentes do habitual, como Fernanda de Freitas (Érica), que viu a importância de sua personagem aumentar na reta final, e Marieta Severo (Noca), com um papel à altura de seu talento. Profunda e popular, a cozinheira passou verdade em suas falas e ações.
Já Alinne Moraes provocou inúmeros sentimentos na plateia: da repugnância pelo caráter torto de Bárbara à piedade por sua excessiva carência. E por fim Andrea Beltrão, protagonista moral da novela, teve em Rebeca uma das melhores atuações de sua carreira.
A abordagem de temas sociais relevantes também foi bem explorada pela autora. Violência doméstica, capacitismo, gordofobia, racismo e sanidade mental foram pontos aprofundados no decorrer da história de forma natural e inseridos no contexto dos personagens.
Um Lugar ao Sol mostrou-se uma trama que serviria muito bem para o novo modelo de dramaturgia que a Globo vem explorando no streaming. Sem fazer uso de tramas paralelas desgastadas e focada no drama central, Lícia Manzo manteve-se fiel à história que quis contar.
Em outros tempos, seu folhetim teria sido decepado e descaracterizado para agradar os anseios do público. Apesar de todos os percalços que teve, Um Lugar ao Sol foi uma novela com mais qualidades que muitas outras consideradas estouro de audiência.
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Um Lugar ao Sol: Resumo dos capítulos da novela da Globo - 23 a 26/3
Quarta, 23/3 (Capítulo 117)
A emissora não forneceu o resumo do capítulo.
Quinta, 24/3 (Capítulo 118)
A emissora não forneceu o resumo do penúltimo capítulo.
Sexta, 25/3 (Capítulo 119)
A emissora não forneceu o resumo do último capítulo.
Sábado, 26/3 ...Continue lendo
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