Além da Ilusão volta 425 anos em busca de fórmula encantada; veja qual

Alessandra Poggi revirou a estante de clássicos e tirou a poeira de um exemplar de Romeu & Julieta (1597) para resgatar um recurso já clichê para cinema e literatura, mas razoavelmente incomum para telenovelas brasileiras. Em Além da Ilusão, Davi (Rafael Vitti) e Elisa (Larissa Manoela) fazem as vezes de star-crossed lovers --os amantes desafortunados, em tradução livre para português.

William Shakespeare (1564-1616) cunhou a expressão no prólogo de uma das suas tragédias mais famosas para indicar que o romance entre os protagonistas estava fadado ao fracasso. Eles nasceram sob o desígnio de uma estrela ruim, em que o próprio destino se encarregaria de separá-los a qualquer custo.

A teledramaturgia também promove uma série de encontros e desencontros, até como se fosse obra de uma força maior, mas o telespectador já conta um final feliz à espera dos protagonistas no último capítulo. A novela das seis, porém, quebra essa expectativa diante da morte trágica de Elisa. 

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Davi realmente não tem qualquer possibilidade de ser feliz ao lado da filha de Violeta (Malu Galli) que será atingida em cheio por um disparo acidental de Matias (Antonio Calloni). Eles serão separados para sempre, já que a paixão do rapaz por Isadora (Sofia Budke/Larissa Manoela) na segunda fase não tem qualquer explicação sobrenatural.

O ilusionista até vai se impressionar com semelhança entre as irmãs, mas não se encantará pela caçula dos Tapajós imediatamente. Ele voltará não para concluir uma história de amor, mas para provar que é inocente e que passou dez anos atrás das grades em uma armação do personagem de Antonio Calloni.

Davi e Elisa na novela das seis

Amantes desafortunados

A Globo não traz uma história de star-crossed lovers há pelo menos 27 anos, desde que Otávio (Antonio Fagundes) e Diná (Christiane Torloni) morreram antes de serem felizes em A Viagem (1994). Eles também não ficaram juntos em nenhuma das encarnações mostradas pela história de Ivani Ribeiro, uma no século 18 e outra na Idade Média.

Em geral, novelas espíritas fazem uso de parte do recurso, mas o subvertem na fase seguinte, como Alma Gêmea (2005) e Além do Tempo (2015). Um dos casos mais recentes foi Espelho da Vida (2018), em que Júlia e Daniel só se realizaram afetivamente na próxima encarnação --com Cris (Vitoria Strada) e Danilo (Rafael Cardoso).

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