COLUNA DE MÍDIA
Divulgação/TV Globo
Arthur Aguiar, campeão do BBB 22, foi acusado de usar robôs para vencer o programa
Arthur Aguiar venceu o BBB 22 na semana passada e, por causa de atitudes controversas dentro e fora do confinamento, foi acusado de manipular a votação com o uso de robôs. Isso seria possível? Outros críticos do ator questionaram o motivo de a Globo não limitar os votos por CPF, o que impediria o fã-clube de um brother de fazer mutirões vistos como injustos. Por que isso não é de interesse da emissora?
Comprar robôs, seguidores, likes e visualizações na internet é algo cada vez mais fácil e barato. Por R$ 29,90, você pode adicionar mil seguidores à sua conta de Instagram, Facebook ou TikTok sem dificuldades. Com R$ 1,2 mil, você pode aumentar em até 100 mil seguidores seus perfis nas redes sociais. Twitter e YouTube são um pouco mais caros, mas também são "compráveis".
Os preços podem variar, mas não é segredo que os números de seguidores e engajamento são facilmente manipuláveis nas redes sociais. Autointitulados "especialistas de marketing digital" anunciam abertamente ofertas de venda de perfis, seguidores e todo tipo de engajamento e views. Mas isso significa que também seria fácil manipular uma votação? A resposta é sim. E, ao mesmo tempo, não.
Especialistas ouvidos pelo Notícias da TV dizem que, se nas redes sociais é fácil manipular os números, na votação do BBB 22 a história é bem diferente. Ou seja, as chances de Arthur Aguiar ter usado robôs na plataforma de votação da Globo é bastante baixa. O campeão do reality venceu simplesmente porque recebeu mais votos (de humanos).
No ano passado, o influencer e hacker Gabriel Pato já havia apontado como a Globo havia aumentado consideravelmente o nível de segurança da votação do BBB 21. Em 2022, ele postou em seu perfil no Instagram um novo vídeo em que reafirmava que as medidas de segurança implementadas pela emissora carioca eram efetivas, e que a manipulação do resultado era pouco provável.
"É um sistema muito interessante e feito com muita maturidade", afirmou Pato em seu vídeo. "As pessoas sempre mandam imagens de mouse mexendo na hora de votar, mas isso não prova nada. O que queremos ver são os argumentos técnicos. Nesse ponto, já era seguro em 2021. E, neste ano, deve ter ficado ainda mais seguro."
Pato destacou o uso de recursos no sistemas como o Captcha, que exige que o usuário digite letras ou números aleatórios em uma imagem, e a identificação da localização de quem vota pelas coordenadas geográficas como exemplos de técnicas eficientes.
Segundo a Globo, existem ainda outras camadas de segurança no sistema capazes de rapidamente identificar um robô e neutralizá-lo. "Contamos com recursos de inteligência artificial e aprendizado de máquina, que mapeiam permanentemente, em tempo real, o comportamento dos votantes para identificar e mitigar eventuais riscos de interferência", disse a emissora por meio de sua Comunicação quando questionada pelo Notícias da TV sobre sua segurança na votação.
"Entre os parâmetros observados, estão a quantidade de votos por minuto por usuário, intervalos de horários de votação e pulverização da localização. Desta forma, quando nossos algoritmos identificam algum comportamento fora do padrão, atuam imediatamente para neutralizar qualquer ação que possa interferir no resultado da votação", informou a Globo.
Vale lembrar que a emissora também opera o Globoplay e o Globo.com, plataformas digitais que podem sair do ar se estiverem expostas a grandes ataques de robôs, o que intensifica a segurança na empresa. Outro detalhe: neste ano, toda a infraestrutura do BBB foi migrada para a nuvem do Google, ainda mais robusta do que a da própria Globo utilizada em 2021.
É impossível dar 100% de garantia de que as fraudes não existem. "Alguns bots conseguem ultrapassar Captchas de texto por conta própria. Pesquisadores também demonstraram maneiras de escrever um programa que derrota os Captchas de reconhecimento de imagem. Além disso, os invasores podem usar fazendas de cliques para derrotar os testes: milhares de trabalhadores mal pagos resolvendo os Captchas em lugar dos bots", afirma a empresa de infraestrutura de internet Cloudflare em seu site.
A companhia lembra ainda que "além do Captcha, é preciso haver outras estratégias para impedir a ação de bots indesejados".
Mas, no caso da Globo, o sistema de votação também é certificado por uma auditoria externa. "Podemos assegurar que não há qualquer indício de votos realizados por robôs ou outros mecanismos de fraude nas votações. Prova disso é que os top 1.000 perfis que mais votaram na final do BBB 22 representaram apenas 0,7% do total da votação, o que indica que não houve nenhum tipo de interferência no resultado final da edição", afirmou a Globo.
Contratar pessoas de verdade para votarem em um participante do BBB é uma possibilidade, mas pouco provável. Nos casos de sistemas de votação menos seguros e sem Captcha, o custo por cada mil votos gira na casa de R$ 15. Além disso, o BBB recebe milhões de votos em poucos dias, e manipular o resultado das votações custaria muito dinheiro.
O prêmio de R$ 1,5 milhão do BBB seria suficiente para comprar 100 milhões de votos se usada a estimativa de R$ 15 por cada mil votos. A final do BBB teve pouco mais de 751 milhões de votos. Com o dinheiro necessário, seria possível manipular a votação e contratar milhares de colaboradores, mas a Globo facilmente identificaria a origem dos votos pelo endereço (IP) das máquinas, principalmente se estivessem fora do país, onde a mão de obra é mais barata, e a estrutura para fraudes digitais é mais desenvolvida.
Sim, é possível burlar a identificação da localização por meio do uso de VPNs (redes virtuais privadas) mas, novamente, a operação é encarecida pelo aumento da complexidade, e a velocidade do voto ainda seria identificável.
Pagar centenas de pessoas no Brasil para votarem seria ainda mais caro, além de ser difícil evitar que boa parte desses humanos dissesse nas redes sociais que foram contratados para votar em candidato A ou B.
"Com a tecnologia disponível no mercado, é praticamente impossível que ele tenha vencido com robôs", explica Fátima Pissarra, sócia da agência Mynd. "A Globo com certeza tem sistemas bastante eficientes contra robôs. O Arthur venceu porque foi o mais votado, é histórico como o BBB mobiliza as pessoas em todo o país a votar."
A executiva tem propriedade para falar sobre o tema, pois agencia inúmeros ex-BBBs, tanto os vitoriosos quanto os que não levaram o prêmio final.
O fato é que Arthur jogou melhor do que seus concorrentes dentro e fora da casa. Dentro do reality, soube representar o papel de quem traiu, admitiu o erro e quis se redimir para ficar com a família. Assim, assegurou o voto do sofá, que é um público mais velho e menos digital. Essa é uma parcela enorme da população, apesar de pouco presente no Twitter. Em boa medida, o resultado do BBB é um retrato do Brasil e de seu público conservador.
Arthur também jogou melhor do que os adversários (e aqui a fragilidade dos concorrentes facilitou a vitória do "pãozinho"). Soube ser vítima e algoz, herói e vilão. Boa parte dos momentos em que os concorrentes ganharam destaque foi quando bateram de frente com o ator e cantor --caso de Jade Picon.
Fora da casa, Arthur também se saiu melhor. Ter como gestora de redes sociais a influenciadora Maíra Cardi foi fundamental. A mulher do ator tem 8,4 milhões de seguidores no Instagram e é bastante ativa nas redes. Ela sabe o que funciona no mundo digital e, principalmente, foi hábil em desviar o foco das discussões quando Arthur cometia gafes dentro da casa.
A genialidade da dança do pão de Maíra está justamente no fato de ser no mínimo um vídeo promocional de gosto duvidoso.
View this post on Instagram
Coordenar uma equipe de 50 pessoas, como Maíra revelou, é um desafio. Também exige um alto investimento. Ajuda muito ter essa estrutura a seu favor, mas não assegura a vitória. A Mynd tem dezenas de funcionários e larga experiência em redes sociais e BBB. A agência foi responsável pela gestão das redes sociais de Douglas Silva e Jessilane Alves do meio da competição em diante.
A Mynd não representava Aguiar durante o programa, mas nesta semana a agência também passou a cuidar da publicidade do campeão do BBB 22.
Obviamente, qualquer participante pode contratar perfis verdadeiros ou falsos para apoiar ou atacar alguém nas redes sociais. Inflar perfis com seguidores fakes também é uma prática comum, mesmo entre grandes influenciadores (fãs e marcas se sentem validados ao verem grandes números, mesmo que eles sejam, em parte, falsos).
Também vale lembrar que as redes sociais apenas amplificam aquilo que as pessoas já têm tendência a gostar ou acreditar. Se você não se importa, apenas ignora o tema nas redes sociais.
Foi um post no Twitter da usuária Amanda Brasil que aumentou os comentários sobre o suposto uso de robôs por Arthur. Mas há uma grande diferença entre o uso de robôs nas votações auditadas e controladas pela Globo e o uso de perfis falsos em redes sociais --estes bem mais comuns.
Pra quem não sabe, o Tuty é muito famoso no mundo árabe. pic.twitter.com/BfYBMi7QEg
— amanda brasil 🍰 (@viuvarica) April 27, 2022
Se por um lado a Globo pode controlar os robôs na votação, ela não tem poder para controlar o uso de robôs e outros truques nas plataformas de terceiros. Além disso, quanto maior o confronto nas redes sociais, maior a exposição do BBB e de seus participantes, o que gera maior reconhecimento de marca e engajamento.
Esse mesmo "conflito" ajuda a explicar a existência de robôs e constantes polêmicas nas redes sociais, que se beneficiam do engajamento gerado por esses embates. O Twitter, por exemplo, ainda permite o uso de robôs na plataforma. No caso das fake news, a atuação das plataformas melhorou muito nos últimos anos e é bem mais restritiva, mas a mesma rigidez não se aplica aos influenciadores.
Os mais incrédulos podem imaginar que toda a votação não passe de uma grande mentira. Seja com robôs ou mesmo com a Globo apertando um botão ou alterando um número para mudar o resultado final.
Porém, a Globo é a maior interessada em manter a votação do BBB idônea. Uma manipulação comprovada seria um desastre para sua imagem. Além disso, se os votos caírem em descrédito, o programa perde seu componente competitivo, o que provavelmente significaria o seu fim.
Hoje, o BBB é uma máquina de fazer dinheiro dentro da Globo, faturando mais de R$ 1 bilhão por edição. Você imagina qualquer empresa arriscando R$ 1 bilhão (ou bilhões, ao longo de anos) apenas para escolher um vencedor? Na Globo, Arthur Aguiar é somente mais um na fila do pão. Ele sequer teve seu contrato renovado com a emissora.
Mas é justamente o componente competitivo do BBB e os bilhões que o programa gera que ajudam a explicar por que a Globo não exige o CPF na hora do voto.
"Sobre o CPF, este é um campo de preenchimento opcional na votação do BBB. O que notamos é que a obrigatoriedade de um voto por CPF restringe o engajamento dos fãs e dos fã-clubes, que são um ingrediente importante para o sucesso do programa", explicou a Globo por meio de sua Comunicação.
Então, a Globo não se preocupa se os fãs criam vários perfis para votar. O uso de robôs, sim, seria um problema porque desequilibraria o jogo dramaticamente, colocando em risco a competição.
Ninguém gosta de sair derrotado de uma disputa. A tecnologia oferece uma desculpa perfeita para justificar qualquer derrota, até por ter um componente "misterioso", já que as coisas funcionam longe do nosso campo de visão no digital.
Se você não é fã de Arthur e do que ele representa, é reconfortante imaginar que o resultado foi manipulado. Afinal, se é tão fácil inflar os números nas redes sociais, por que não aconteceria o mesmo na votação do BBB?
Mas a realidade é que o BBB é um retrato do Brasil, cada vez mais polarizado e dividido, inclusive na hora de votar. E Arthur Aguiar, mesmo sendo odiado por muitos, recebeu mais votos. Simples assim.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.