COLUNA DE MÍDIA
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Tadeu Schmidt vai comandar o BBB22; recorde de acessos de usuários no streaming são desafio
O consumo de streaming não para de crescer no Brasil. Pesquisas já apontam o país como o segundo maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E esse número deve disparar em 2022. Quem tenta assistir a filmes e esportes na internet já deve ter se decepcionado com a lentidão ou mesmo com a dificuldade de acesso. E, no ano que vem, haverá um recorde de jogos de futebol transmitidos online no Brasil.
Teremos 16 jogos do Campeonato Paulista exibidos gratuitamente no YouTube. Um recorde de clubes oferece transmissões de suas partidas fora da TV e exclusivamente online; e até a Globo fechou um acordo para transmitir 36 jogos da Copa do Brasil no streaming da Amazon, além de seguir com as partidas nas plataformas digitais da própria Globo.
Na Itália, essa receita foi explosiva. O serviço de streaming DAZN venceu a concorrência para transmitir os jogos da Série A do futebol italiano em plataformas digitais. Em um movimento radical, a proposta foi tirar a maior parte das partidas da TV e levar para o digital. Foi um caos. A internet não aguentou, as transmissões foram marcadas por imagens de baixa qualidade, e o país viveu um apagão.
Além do futebol, ainda teremos por aqui o BBB 22, que prevê atingir sua maior audiência online de todos os tempos.
Você provavelmente nem imagina, mas o Brasil já tem o maior ponto de troca de tráfego do mundo em número de participantes e em volume de tráfego na internet. No último dia 6, atingiu o pico de 20 Tbit/s (20 trilhões de bits por segundo) de troca de tráfego na internet, 43% a mais do que o registrado no mesmo mês de 2020.
Mas existe o risco de o Brasil passar por um "apagão da internet" como na Itália? Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de projetos especiais e desenvolvimento do NIC.br, entidade civil encarregada de operar a internet no país, conversou com o Notícias da TV e explicou por que o risco é baixo e quais medidas foram tomadas para que você possa assistir ao seu streaming com alta qualidade e sem se preocupar. Confira:
Notícias da TV - Nos últimos anos houve um crescimento expressivo do consumo de mídia por streaming, particularmente na pandemia. Qual foi o impacto desse crescimento na internet brasileira?
Milton Kaoru Kashiwakura - O streaming mudou o perfil de tráfego em 2013, o pico de tráfego na internet que ocorria no meio da tarde com leve queda deste volume à noite passou a ter o pico de tráfego à noite, por volta das 22h, e assim permanece até hoje.
Durante o isolamento social, devido à pandemia de Covid-19, no início houve um aumento súbito no volume de tráfego na internet pegando algumas redes não preparadas, mas a ação rápida de baixar a qualidade dos vídeos por parte dos provedores de conteúdos de streaming deu tempo para que os provedores de acesso adequassem suas redes e, em poucos meses, todos os vídeos voltaram para a qualidade de transmissão de vídeo normal.
O IX.br de São Paulo, o maior ponto de troca de tráfego do mundo em número de participantes e em volume de tráfego, suportou bem o crescimento súbito por trabalhar com redundância --se uma estrutura falha, tem outra, e se as duas infraestruturas estiverem trabalhando no mínimo têm o dobro da capacidade necessária. No início da pandemia, o pico de tráfego atingia menos de 7 Tbit/s; hoje, são mais de 13 Tbit/s e sempre trabalhando com redundância. Isso significa suportar mais de 26 Tbit/s de tráfego. Estamos bem preparados para qualquer aumento no volume de tráfego.
A infraestrutura brasileira está apta a atender a rápida migração dos usuários da TV para o streaming? O sinal de internet ainda parece mais lento em regiões mais distantes das grandes capitais.
O uso de streaming já ocorre há muito tempo, os grandes conteúdos iniciaram usa participação no IX.br de São Paulo desde longa data, Google em 2008, Amazon em 2011, Netflix em 2012, Facebook e Microsoft em 2013, assim como várias CDNs (redes de distribuição de conteúdos). Os usuários de TV já assistem a vários vídeos sob demanda nas suas smart TVs, e vários com qualidade 4K, então não vejo alterações nos grandes centros.
O problema da latência (demora no envio dos dados), para as regiões mais distantes, o NIC.br está em encurtar a distância entre o usuário e o conteúdo. Já que não conseguimos levar os usuários para mais perto dos datacenters onde estão os conteúdos, a ideia é ter a replicação dos grandes conteúdos mais próximo dos usuários. Um exemplo é o caso de Manaus: com o projeto OpenCDN, iniciado em dezembro de 2020, pode-se notar um aumento considerável de tráfego desde então, mais de dez vezes e crescendo à medida que se consiga levar mais conteúdos para perto dos manauara.
Recentemente, na Itália, houve um "apagão" do streaming e internet quando se passou a transmitir o campeonato italiano de futebol pela internet. À medida que os campeonatos no Brasil também migrem para os serviços de streaming e saiam da TV, existe risco semelhante?
Temos assistido a grandes eventos com sucesso pela internet, por exemplo a final da Champions League, a Copa do Mundo da Fifa, os Jogos Olímpicos, são eventos que costumam fazer com que o tráfego de internet suba acima do normal. E todos eles ocorreram com qualidade, sem intercorrências, a infraestrutura da internet tem suportado bem.
No site de medições do NIC.br há informações que ajudam o usuário a calcular a banda de internet necessária para os serviços desejados e o medidor Simet para aferir se o serviço de internet entregue está adequado ao que foi contratado.
Na Coreia, operadoras de cabo estão tentando taxar empresas de streaming para "ajudar" a pagar pelo custo de infraestrutura de transmissão. Esse modelo faria sentido no Brasil?
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), desde o seu início em 1995, estabeleceu que o Brasil deveria ter pontos de troca de tráfego (PTT) ou "Internet Exchange Points" (IX), para que as redes troquem tráfego entre si sem custos, este é o modelo que faz sentido para o Brasil.
O primeiro surgiu em 1998 na Fapesp para que o tráfego entre as redes brasileiras não tivesse a necessidade de ir até os Estados Unidos para que as trocas de tráfego entre as redes acadêmicas e as redes comerciais ocorressem. Hoje, a quantidade de pontos de troca de tráfego de internet aumentou com o projeto IX.br, administrado pelo NIC.br: são 34 localidades espalhadas pelo Brasil, onde os provedores de acesso, redes de conteúdos, redes acadêmicas, redes de governo e redes de empresas privadas podem trocar tráfego normalmente sem custos, e isto reduz os custos e melhora a qualidade das redes.
Neste modelo de troca de tráfego, os provedores de conteúdos participam do IX.br e trocam abertamente o tráfego com qualquer outra rede, sem custos entre eles. As operadoras de cabo e incumbentes costumam fazer troca de tráfego direta sem passar pelo IX.br e perdem no ganho estatístico que o IX.br oferece.
Como assim?
As negociações entre as grandes redes e as grandes redes de conteúdos existem e costumam ser sigilosas, isto que está ocorrendo na Coreia já ocorreu nos Estados Unidos entre Netflix e Comcast, e Netflix e Verizon.
No Brasil, com o crescimento dos provedores regionais, atendendo juntos a uma quantidade significativa de usuários domésticos que as "incumbentes" não quiseram atender, num território muito maior, o que faz sentido é ter os conteúdos estrategicamente distribuídos nos pontos de troca de tráfego do IX.br, levando os conteúdos para perto dos usuários finais. O Brasil tem a infraestrutura de rede mais resiliente e confiável do mundo. Segundo dados da Radar, devido à grande quantidade de redes autônomas, mais de 70% de todas as redes da América Latina e Caribe estão no Brasil.
O Globoplay durante o Big Brother passado sofreu uma série de "apagões", esse problema estava relacionado à infraestrutura brasileira de internet ou era uma questão ligada à capacidade de entrega da própria empresa?
A Globo.com tem infraestrutura de distribuição de conteúdo em várias localidades do IX.br, dificilmente terá um apagão generalizado. A Globo.com tem utilizado o IX.br e tem ampliado sua capacidade de tempos em tempos.
Que medidas, públicas ou privadas, poderiam ser adotadas para melhorar a experiência dos usuários brasileiros de streaming?
O projeto OpenCDN tem grande potencial para melhorar a experiência do usuário ao levar o conteúdo para próximo do usuário. No Brasil, os principais conteúdos estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, esta iniciativa procura facilitar a instalação de servidores de conteúdos em outras localidades.
OpenCDN nada mais é do que uma infraestrutura de rede conectada ao IX.br em localidades onde não há os principais conteúdos. Ao facilitar a hospedagem de servidores de conteúdos de CDNs, as empresas de CDNs com alto volume de tráfego convidadas podem alocar seus servidores de replicação de conteúdos. O OpenCDN está presente nas cidades de Salvador e Manaus, e o NIC.br está trabalhando para ter esta infraestrutura em Brasília ainda em 2021. Pouco a pouco, vai-se espalhando a infraestrutura do OpenCDN.
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