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COLUNA DE MÍDIA

Band acerta ao contratar Faustão, mas há riscos para apresentador e emissora

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Fausto Silva segurando um microfone e vestindo uma camiseta de manga longa preta

Fausto Silva em seu programa no último domingo (2); apresentador está a caminho da Band

GUILHERME RAVACHE

ravache@proton.me

Publicado em 3/5/2021 - 10h00

Como noticiou em primeira mão o Notícias da TV, a Band será a nova casa de Fausto Silva em 2022, quando o apresentador deixará a Globo para retornar à antiga emissora após 33 anos. Contratar Faustão é uma aposta correta da empresa chefiada por Johnny Saad e pode ajudá-la a reparar um equívoco histórico.

Atualmente, Faustão é a personalidade mais influente do país com a audiência, mas também com os CEOs e executivos das grandes marcas presentes no Brasil. As famosas reuniões com pizza na casa do apresentador são mais determinantes para o rumo da economia brasileira que muitos eventos em Brasília.

O potencial de Faustão na Band é evidente. Mas como todo novo negócio, por melhor que seja, também traz riscos. 

Gerenciamento de estrelas

Segundo artigo da Harvard Business Review, que fala sobre gerir estrelas, "ter um funcionário extremamente talentoso em sua equipe é o sonho de um chefe". Mas também pode ser um verdadeiro desafio, de acordo com Linda Hill, professora da Harvard Business School e coautora de Being the Boss: The 3 Imperatives to Be Be a Great Leader (2011).

Você precisa ter certeza de que sua estrela tem trabalho suficiente para ficar totalmente engajada --mas não tanto para ficar esgotada. E você precisa "oferecer feedback positivo",  mas não de maneiras que sejam contraproducentes para o crescimento e desenvolvimento da pessoa.

“A dinâmica de grupo é outra preocupação quando você tem um artista de destaque em sua equipe", diz Mary Shapiro, que ensina comportamento organizacional no Simmons College, em Boston (EUA), e escreveu o Guia HBR para liderar equipes.

"Pode haver ressentimento real, devido à percepção de que o chefe está favorecendo o astro do rock”, diz ela. "Quer a sua estrela tenha acabado de se juntar à sua equipe ou esteja trabalhando para você há algum tempo”, conclui a publicação.

Nesse momento, por exemplo, se discute se Faustão terá uma atração aos domingos na Band ou um programa noturno diário de segunda a sexta-feira. Cinco vezes por semana no ar poderia esgotar o apresentador? O custo de produção de sua atração seria um investimento desproporcional para sua antiga e futura emissora? Os demais colegas que eventualmente perderão espaço na grade ficariam ressentidos?

Obviamente, essas são questões difíceis de prever e será um grande desafio para os gestores na Band. Também há decisões complexas de investimento.

Faustão é o maior salário da TV brasileira há décadas e tem uma produção de primeiro time. São custos elevados. E além de investir no novo programa, a Band está gastando no processo de digitalização da empresa, com iniciativas como a Vibra, startup independente do grupo com projetos de streaming e e-commerce. 

Caso o programa do Faustão seja de segunda a sexta, no horário noturno, poderia haver necessidade de levar o programa de R.R. Soares, que loca horário na grade para exibir os cultos da Igreja Internacional da Graça de Deus, para a madrugada. O religioso em uma faixa com menor audiência poderia significar um impacto na receita da emissora. 

Walter Clark e a Band

Muitas estrelas já passaram pela Band. Mas nenhuma com a significância de Faustão. Possivelmente com uma exceção: Walter Clark (1936-1997).

Em 1980, a TV Tupi saiu do ar e a Bandeirantes (como era conhecida na época), viu sua chance de se firmar na segunda colocação de audiência, atrás somente da Globo. A Record estava em crise, e o SBT e Manchete não existiam.

Em 1981, a Bandeirantes contratou Walter Clark. Em 1977, o executivo havia sido demitido da TV Globo. Ele, junto com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, são considerados os responsáveis por criar o modelo de negócios que levou a emissora da família Marinho a crescer nos anos 1970 e 1980, e assumir a liderança do mercado de TV.

Como conta Gabriel Priolli no livro O Campeão de Audiência (1991), biografia de Clark, o executivo que chegava de Ferrari aos estúdios da Bandeirantes nunca se adaptou à nova casa.

Clark lançou programas, tirou alguns outros do ar, incluindo o show de Hebe Camargo (1929-2012). O diretor Walter Avancini (1935-2001) foi demitido do núcleo de novelas e Cláudio Petraglia (1930-2021) pediu demissão da superintendência de programação. 

O executivo também levou muitos funcionários da Globo para a Bandeirantes. Muito dinheiro foi investido e pouco retorno obtido. Em poucos meses, ele foi demitido e a emissora lutou para pagar as dívidas crescentes.

Se hoje as emissoras batalham contra a fuga da audiência e verba publicitária que migram para os meios digitais, nos anos 1980 enfrentava uma gigantesca crise econômica que assolava o Brasil, com o governo militar em um beco sem saída, a disparada da dívida externa e aumento do déficit público.

Agora, a Band tem a chance de mostrar que Clark foi um acontecimento isolado. Mas toda aposta tem riscos. Felizmente, com Faustão ao seu lado, suas chances de vitória aumentam muito.


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