NOVOS TEMPOS
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Fausto Silva no comando do Domingão: saída do apresentador da Globo marca o fim de uma era
Maior salário da televisão brasileira, Fausto Silva está em seu último ano como contratado da Globo. A partir de janeiro de 2022, a emissora ficará com um buraco na grade aos domingos pela primeira vez em 32 anos. Como substituir um programa e um apresentador que estão na história e representam uma era de sucesso de publicidade e influência?
O Notícias da TV conversou com Pedro Curi, coordenador de Cinema e Audiovisual na ESPM e doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. O professor aponta que Faustão tem um estilo cada vez mais raro.
"O Faustão é um tipo de apresentador que a gente quase não vê mais na televisão, que faz um tipo de programa que é um dos formatos mais antigos, inspirado no rádio, e abre espaço para um público muito grande. É um programa para toda a família, no domingo à tarde. Vem muito de uma origem da televisão para toda a família. De fato, isso acabou chamando muitos anunciantes", explica ele.
O domingo ainda é o dia dos programas de auditório na TV. O SBT tem Silvio Santos, Eliana e Celso Portiolli; a Record, Rodrigo Faro; e Fausto Silva é quem mantém essa tradição na Globo. O comandante do Domingão sempre construiu uma boa relação com anunciantes, o que ajudou a transformar o seu programa em um sucesso não só de audiência, mas também comercial.
Ao confirmar que não renovaria o contrato que acaba no fim deste ano, Fausto Silva falou à reportagem do Notícias da TV que "a Globo faturou bastante" com ele, o que é verdade. Além de ações de merchandising, o apresentador também foi o rosto de campanhas de grandes bancos e redes de varejo por ser considerando um "influenciador das antigas".
Só que o público e a publicidade vêm mudando nos últimos anos. Para Pedro Curi, a saída de Faustão representa, sim, uma perda para a Globo, mas o doutor em Comunicação defende que a emissora tem a chance de trazer público e anunciantes diferentes para o horário da família na TV.
"É possível pensar em uma programação de variedades, talvez ancorada por mais de uma pessoa, e apostar em apresentadores que têm uma grande penetração no digital, com seguidores nas redes sociais e uma presença em outros meios. O Faustão tem aquele público que é de TV aberta e não está se renovando muito, então é a oportunidade de renovar o público", afirma o coordenador da ESPM.
Atualmente, o Domingão do Faustão ocupa a faixa das 18h às 20h de domingo --perdeu uma hora no ano passado, após o fechamento dos estúdios pela pandemia, e não recuperou mais esse tempo. Em 2022, o horário pode ser ocupado até mesmo por quadros tradicionais da atração de Fausto Silva, como a Dança dos Famosos, mas em formato de temporadas.
"Uma solução seria dar mais autonomia para esses quadros, com patrocínio [pacote comercial próprio] e apostar em diferentes apresentadores, que trazem uma diversidade maior. O Faustão é um tremendo apresentador e como poucas pessoas consegue segurar um programa desse, mas em vez de ter um programa para toda a família com um apresentador para toda a família, que represente o 'chefe da família', você terá diferentes possibilidades, famílias e pessoas do Brasil representadas nos nichos", sugere Curi.
Nos últimos anos, uma das marcas da Globo, que fez um processo de unificação de todas as empresas do grupo, foi o enxugamento da folha salarial, que afetou contratos de atores, autores e executivos que estavam havia anos na emissora --além das demissões.
O apresentador do Domingão sempre "se pagou" e nunca representou um problema financeiro para a líder de audiência. Pelo contrário. Estima-se que Fausto Silva receba R$ 5 milhões por mês, uma cifra que representa uma era em que as TVs faziam altos investimentos para manter seus talentos ou tirar artistas de outras emissoras. Mas a realidade da televisão não é mais essa.
Na década de 1990, por exemplo, Silvio Santos pagou uma multa de R$ 43 milhões para tirar Ratinho da Record. Em 2009, a emissora de Edir Macedo ofereceu um salário de R$ 3,5 milhões para fazer Gugu Liberato (1959-2019) topar sair do SBT --depois, ele passou a negociar o contrato por temporada e recebia "apenas" R$ 250 mil de salário, além de merchans.
"Hoje se pensa numa lógica não só do merchandising, que é um pouco a lógica do Faustão na Globo. Além do salário fixo alto, ele tem também essa composição com o merchandising", começa Pedro Curi.
"A tendência é ter não só o merchandising do programa em si, mas na ideia de mostrar para determinados talentos e artistas que, ao estar presente e ter a oportunidade de se mostrar em um horário como o de domingo, eles vão ter a chance de nas redes deles e em outras plataformas se associarem às marcas e ganharem dinheiro também com isso", destaca o professor.
Ou seja, as emissoras entendem que não é necessário mais pagar um salário tão alto para manter um talento, mas sim oferecer uma possibilidade de "parceria" que inclui mostrar para o artista que ele tem chance de aumentar os ganhos com as redes sociais próprias se estiver no ar na televisão.
"Você continua pagando para a pessoa fazer o programa, mas ela entende que ela vai ganhar também com aquilo. É a lógica da sinergia. Eu vou trazer pra cá algo que faz sucesso e sai todo mundo ganhando mais do que se eu fosse o 'dono desse talento', tendo que 'prendê-lo' e pagar por ele. As emissoras começaram a observar que estão dando espaço para aquela pessoa também", opina Pedro Curi.
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