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COLUNA DE MÍDIA

Banco da Record tem aumento bilionário de depósitos e triplica o lucro

Alan Santos/Presidência da República

O presidente Jair Bolsonaro com o bispo Edir Macedo em visita ao Templo de Salomão, em 2019

Jair Bolsonaro com o bispo Edir Macedo em visita ao Templo de Salomão; Record tem lucros suspeitos

Guilherme Ravache

ravache@proton.me

Publicado em 4/11/2021 - 6h40

Não foi somente o patrimônio da Record que disparou após a compra do banco Digimais pelo bispo Edir Macedo em junho de 2020. Dados do Banco Central indicam que o Digimais também teve saltos no lucro e na captação de recursos após a entrada da Rádio e Televisão Record e seus controladores no comando da instituição financeira.

No primeiro semestre de 2020, antes da aquisição do Digimais pela Record, o lucro líquido do banco tinha sido de R$ 14 milhões. Em 2021, já sob controle da Record, o resultado saltou para R$ 26 milhões. O lucro líquido é calculado após o desconto de impostos e participação nos lucros pelos acionistas.

Já o lucro operacional, que deduz somente as despesas e seria um retrato mais fiel da operação, foi de R$ 11,6 milhões no primeiro semestre de 2020. Saltou para R$ 35,2 milhões no mesmo período de 2021. Mais do que o triplo. 

Recorde de lucros

O financiamento de automóveis é a principal fonte de receita do Digimais. A aquisição completa do banco por Macedo se deu em meio à pandemia, quando a venda de carros caiu no país. Mesmo assim, o lucro operacional da instituição após a aquisição chegou a R$ 62,2 milhões, um recorde histórico. No mesmo período um ano antes da aquisição, o lucro operacional tinha sido de R$ 25,7 milhões, menos da metade.

Para efeito de comparação, apenas nos primeiros seis meses de 2021, o lucro líquido do Digimais foi de R$ 26 milhões. Em 2020, no ano inteiro, o lucro tinha sido de R$ 31,9 milhões. Em 2019, o lucro anual era de R$ 31,1 milhões e, em 2018, R$ 25,5 milhões. 

No segundo trimestre de 2021, o Digimais teve lucro líquido e operacional, respectivamente, de R$ 22,7 milhões e R$ 24,9 milhões. Para efeito de comparação, o lucro reportado dos meses de abril, maio e junho, apenas um trimestre, representa quase o lucro total do banco em 2018 (R$ 25,5 milhões).

Aumento de patrimônio e de depósitos

Os dados do Banco Central também indicam um aumento de 48,5% do patrimônio do Digimais. O patrimônio líquido da instituição saltou de R$ 226 milhões para R$ 335,7 milhões em um ano. 

Também impressiona o crescimento do volume de depósitos a prazo no Digimais nos 12 meses seguintes à aquisição. O valor, que era de R$ 1,8 bilhão em junho de 2020, saltou para R$ 3,09 bilhões em junho de 2021, um aumento de mais de 71%. No Itaú, o crescimento de empréstimos a prazo no mesmo período foi de menos de 13%, e no Bradesco, de 11%.  

Salto no balanço da Record

O crescimento do lucro do banco Digimais aconteceu no mesmo período em que houve um salto no patrimônio líquido da Record. No balanço da emissora, o patrimônio líquido consolidado, que era de R$ 1,826 bilhão em 31 de dezembro de 2019, saltou para R$ 5,050 bilhões no final de 2020.  

Edir Macedo é sócio do banco Digimais, antigo banco Renner, que pertencia à família Renner, dona das lojas de mesmo nome. Em 2013, ajudado por um decreto da então presidente Dilma Rousseff, de quem era próximo, Macedo adquiriu 49% das ações da instituição gaúcha como "sócio estrangeiro", por ter residência no exterior. A aquisição foi feita por meio da B.A. Empreendimentos e Participações Ltda, que é controlada pela Rádio e Televisão Record S.A., a razão social da Record.

Em julho de 2020, após aval do Banco Central, Macedo comprou o restante da operação do banco Renner. Após uma disputa pelo uso do nome do banco (a família Renner exigiu a mudança), a instituição passou a se chamar Banco Digimais.

Concorrentes em apuros

Enquanto a Record aumenta o lucro e o patrimônio em suas operações, concorrentes tradicionais como a Globo enfrentam um cenário cada vez mais desafiador com a migração dos anunciantes para o digital e da audiência para o streaming. A Globo, no primeiro semestre deste ano, teve um prejuízo de R$ 144 milhões

As rentáveis operações do grupo Record possivelmente explicam por que o bispo Edir Macedo pressionou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a barrar a mudança na legislação que permitiria maior entrada de capital estrangeiro na mídia brasileira, conforme revelou o jornalista Julio Wiziack, em reportagem na Folha de S.Paulo no último domingo.

Bolsonaro barrou uma PEC (proposta de emenda à Constituição) do Ministério das Comunicações que previa uma reforma na radiodifusão e a abertura da mídia ao capital estrangeiro.

Ainda segundo a reportagem, assessores do Palácio do Planalto afirmam que o pleito da Record, uma das principais aliadas do governo, ocorreu em uma conversa de Bolsonaro com o bispo Macedo há cerca de dois meses.

Concorrentes defendem abertura de capital

Globo, Band e RedeTV! são favoráveis à abertura total ao capital estrangeiro. Muitos outros grupos de mídia também aprovam à mudança. Hoje, o controle estrangeiro em grupos de mídia nacionais é limitado a 30%. Esse percentual é apontado como o maior entrave para a entrada de capital. A medida poderia liberar até 100% do controle a estrangeiros.

A receita da Record caiu durante quatro anos até 2019, quando voltou a crescer. A virada no resultado coincide com a aproximação da emissora com o governo Bolsonaro.

Edir Macedo não é o único dono de TV que controla um banco no país. Rubens Menin, dono da licença da CNN no Brasil, também é dono do Banco Inter. Menin e Macedo andaram se estranhando, e a Record atacou empresas de Menin em reportagens.

Procurada pela reportagem, a Record não comentou.


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