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CRÍTICA

Marighella: Filme de Wagner Moura é grito de guerra contra ditadura e barbárie

Divulgação/O2 Filmes

Seu Jorge em cena do filme Marighella

Seu Jorge em cena de Marighella; filme de Wagner Moura estreia nos cinemas nesta quinta-feira (4)

ANDRÉ ZULIANI

andre@noticiasdatv.com

Publicado em 4/11/2021 - 6h20

Filme que promete dividir as opiniões do público, Marighella (2021) é uma das obras mais importantes dos últimos anos no Brasil. Em sua estreia na direção de um longa-metragem, Wagner Moura resgata a história de uma das principais vozes contra a Ditadura Militar (1964-1985) para fazer um grito de guerra contra a barbárie que custa a abandonar o país.

Nos anos 1960, o Brasil enfrentava uma tempestade política. O medo de uma suposta ameaça comunista e o apoio de uma população que sonhava com condições melhores resultaram em um golpe militar que jogou o país em tempos sombrios. Dentro deste cenário, surgiu a voz de Carlos Marighella (1911-1969), político que se juntou à luta armada contra os governistas.

A história de Marighella, considerado pelos militares o "inimigo número um do Brasil", sofreu com a descrença do povo e a manipulação dos governistas do cenário político do país. Defensor assíduo da democracia, ele teve o seu nome praticamente extinguido da vida pública.

Com seu filme, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (4) depois de sofrer com adiamentos por conta da pandemia de Covid-19, Wagner Moura tenta reapresentar a memória de um dos ativistas políticos mais importantes da história do Brasil, sem deixar de retratar de maneira fidedigna como era viver em no país durante a ditadura. 

O longa é livremente inspirado no livro Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo (2012), escrito por Mário Magalhães. Apesar de centrada no político comunista, a trama faz um recorte da vida do protagonista vivido por Seu Jorge e foca em seu último ano de vida, quando Marighella deixou o discurso pacífico para se juntar à ALN (Aliança Libertadora Nacional) na luta armada contra os militares.

É doloroso acompanhar a jornada de Marighella e seus companheiros. Moura, que escreveu o roteiro em parceria com Felipe Braga, não pega leve e expõe em tela tudo o que de mais nefasto aconteceu na ditadura: censura da imprensa, perseguição dos opositores, violência, tortura e morte.

DIVULGAÇÃO/o2 FILMES

Bruno Gagliasso em Marighella

É na ânsia de mostrar como funcionava a opressão militar que Bruno Gagliasso ganha espaço para brilhar. Seu personagem, Lúcio, inspirado no temido delegado Sérgio Fleury (1933-1979), responsável por perseguir e matar inúmeros militantes contra o governo, é o retrato perfeito de um vilão tóxico. Racista, homofóbico e implacável, ele é a personificação da violência e do medo que dominavam as ruas do Brasil.

Por se tratar de uma obra de ficção, Marighella se aproveita de licença poética para estruturar a narrativa como um filme de ação. Personagens vividos por nomes como Humberto Carrão, Bella Camero e o pastor Henrique Vieira são inspirados em pessoas reais que lutaram (e sofreram) nas mãos dos militares.

Como filme de ação, Marighella surpreende. Os tiroteios e ataques terroristas organizados pela resistência são retratados por Moura de forma quase sufocante, com o diretor priorizando sequências enérgicas sem tirar a câmera da mão. Como retrato político, o longa abusa de certos exageros para romantizar a luta armada.

A principal missão da narrativa, no entanto, vai além do retrato fiel da realidade do Brasil na ditadura. Com Seu Jorge em seu melhor trabalho no cinema, o longa mostra ao público o homem, o pai e a voz inspiradora para seus iguais que foi Marighella. Wagner Moura já declarou publicamente que sua intenção era tirar do escuro o nome de um personagem tão marcante na história política do país, e aqui o faz com destreza.

Marighella não é um filme fácil de assistir, muito menos é capaz de agradar a gregos e troianos. É um ato contra a opressão de ditadores e a visão conservadora do mundo, mas peca ao excluir do debate outros elementos que também foram importantes nos anos de chumbo. A intenção da luta armada era retirar os militares para instaurar um governo inspirado na revolução comunista --movimento que também causa divisão entre os apoiadores de esquerda.

Entre falhas e acertos, Wagner Moura, Seu Jorge e companhia convencem ao reviver o pior momento da história do Brasil para reapresentar ao mundo quem foi Marighella. Exaltado ou xingado, seu nome mais uma vez ficará na boca do público como a figura polêmica e inspiradora que o político foi em vida.

Assista ao trailer de Marighella:


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